Joan Coromines (Barcelona, 1905 – Pineda de Mar, 1997)

O «nosso» mestre Joan Coromines,
um grande cientista e um grande patriota

M.ª do Carmo HENRÍQUEZ SALIDO
(Universidade de Vigo)

  • Texto publicado no número 48 (Inverno 1996) da revista Agália.

 

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Trabalhador infatigável, homem de carácter, cientista, patriota, activista contra as Ditaduras de Primo de Rivera e de Francisco Franco, com umha abnegada dedicaçom à lingüística e toda umha vida dedicada ao serviço da sua única pátria, umha personalidade complexa e umha integridade espectacular, conhecedor de vários idiomas -catalám, espanhol, ocitano, celta. inglês, alemám, italiano, francês, russo. euskera, galego-português…- na extensa produçom de Joan Coromines as constantes básicas som, por umha parte, a lexicografia, a etimologia e a toponímia, e, por outra, a onomástica.

Dedicado durante toda a sua vida à língua catalá, filólogo ‘polo seu patriotismo’, ‘pola sua habilidade poliglota’ e ‘polo seu amor ao excursionismo’, um dos filólogos românicos mais importantes de todos os tempos, profundamente interessado por todas as línguas da Península Ibérica, à idade de 91 anos, o dia 2 de Janeiro de 1997, falecia em Pineda de Mar, onde residia desde havia mais de duas décadas.

1. OLHAR BIOGRÁFICO

Seguindo as «Notes biogràfiques de Joan Coromines», recolhidas no livro preparado por Josep Ferrer i Costa e Joan Pujadas Marquès (1995). Joan Coromines i Vigneaux nasce em Barcelona em 21 de Março de 1905, filho do político e escritor Pere Coromines —pare del cos i de l’esperit—, por quem sempre sentiu admiraçom e a quem dedicou, junto com a sua estimada Mare e sua Dona, que m’ha donat forca per a acabar aques llibre, várias obras. Nos inícios dos seus estudos inclinou-se pola química, mas muito cedo sentiu a chamada da lingüística. Seu pai queria que fosse notário, mas o conselho de Pompeu Fabra decidiu-no a aceitar que o seu filho estudasse Filologia e nom Direito. Em 1927 completou os seus estudos em Montpellier com os professores romanistas Maurice Grammont e Georges Millardet. Em 1928 regressa a Barcelona e licencia-se em Filosofia e Letras; desloca-se a Madrid, onde fai o doutoramento em Filologia sob a direcçom de Ramón Menéndez Pidal e Américo Castro. No ano seguinte, lê a sua tese de doutoramento sobre o Vocabulario aranés, que publica em Barcelona em 1931.

Após realizar outros estudos com especialistas de reconhecido prestígio em Zurique e Paris, em 1930 entra a formar parte do «Institut d’Estudis Catalans», onde trabalhou na secçom lexicográfica em estreita colaboraçom com o próprio Pompeu Fabra, mas compagina esta actividade com a de professor de filologia românica na Universidade de Barcelona.

Em 1931 inicia os seus trabalhos sobre o Onomasticon Cataloniae, um grande dicionário etimológico de nomes próprios de todo o domínio lingüístico, que constitui um resumo exclusivo das terras de Catalunha explicadas do ponto de vista etimológico e lingüístico. Para recolher a informaçom percorre todos os territórios de língua catalá e realiza inquéritos em por volta de 2.000 municípios. Coromines considerava que a toponímia, o ramo mais difícil da lingüística, era o arquivo mais antigo da história. O Onomasticon compom-se de sete volumes e nele colaboram Joseph Guisoy (Toronto), Philip D. Rasico (University of Nashville), Xavier Terrado (Universidade de Lleida) e Joan Ferrer.

Em 1939 tivo de exiliar-se, primeiro a Paris e depois a Argentina, onde obtém umha bolsa na Universidade de Cuyo, universidade onde nom interessavam as investigaçons sobre a língua e cultura dos Países Cataláns. Joan Coromines tem de dedicar o seu muito saber e inteligência à lingüística espanhola. Em 1946 é nomeado professor da Universidade de Chicago, na qual ocupa a cátedra de Lingüística Românica. Em 1950 publica em inglês El que s’ha de saber de la llengua catalana.

Desde 1952 combina as suas actividades docentes com estadias de investigaçom científica na Catalunha; assina com nove professores mais umha denúncia perante a UNESCO contra a perseguiçom a que é submetida a língua catalá. Entre 1954 e 1957 publica os quatro volumes do Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana.

Em 1954 começa a preparar a sua obra Diccionari etimològic i complementari de la Llengua Catalana, que sempre considerou como a obra de toda umha vida. A redacçom deste dicionário durou de 1979 a 1984 e nos nove volumes editados desde 1980, de mais de mil páginas cada um, recolhem-se mais de 400.000 termos cataláns.

Em 1961 publica o Breve diccionario etimológico de la lengua castellana, que reverá e acrescentará em 1973; entre 1965 e 1970 publica o primeiro volume dos Estudis de toponímia catalana, em que som salientáveis os seus contributos sobre toponímia pré-romana, nomeadamente da zona pirenaica. Em 1967 publica também a sua ediçom crítica do Libro de Buem Amor do Arcipreste de Hita, contributo decisivo para o estudo desta obra da literatura castelhana medieval.

Em 1968 reforma-se da sua cátedra de Chicago e a partir de 1976, por conselho de vários intelectuais, entre eles Joan Fuster, instala-se definitivamente em Pineda de Mar, para dispor da tranquilidade necessária para redigir o Diccionari etimológic e o Onosmaticon Cataloniae, em que recolhe por volta de 500.000 topónimos e nomes próprios de todas as zonas de língua catalá.

Em 1976, no número 53 da revista Grial (1976: 277-282), publica o artigo intitulado «Sobre a unificación ortográfica galego-portuguesa», em que, após felicitar efusivamente José Martinho Montero Santalha e concordar com ele em que o principal adianto a fazer na direcçom da unificaçom lingüística galego-portuguesa é no campo da unidade ortográfica, toma partido abertamente polo reintegracionismo lingüístico e justifica a sua atitude.

Em 1980 inicia-se a publicaçom dos primeiros dous volumes do seu Diccionario crítico etimológico castellano e hispánico, com a colaboraçom de José A. Pascual e também a publicaçom do Diccionari etimológic i complementari de la Ilengua catalana em nove volumes. Em 1981 dirige a ediçom de Lo llibre de les dones, de Francesc Eiximenis, feita por Frank Naccarato. Em 21 de Fevereiro de 1985 aceita ser nomeado Membro de Honra da Associaçom Galega da Língua. Em 1986 reedita-se El que s’ha de saber de la llengua catalana, com quatro páginas do apêndice actualizadas.

Em 1989 concede-se-lhe o «Premio Nacional de las Letras Españolas», um prémio que nom esperava. Aceita o prémio mas dirige umha carta ao Ministro de Cultura, naquela altura, Jorge Semprún, parte de cujo texto se recolhe na revista Agália, 18 (1989: 259), em que manifestava:

«… no puc deixar de dir-li que la satisfacció que aqueixa distinció em dóna, ve acompanyada d’una profunda recança. L’única nació, i l’única llengua meves, a les quais reto incondicional homenatge, són Ia nació i la Ilengua catalanes. I veig amb tristeza que I’Estat y el Govern que m’ho otorguen encara neguen o regategen els drets que són deguts a totes dues…»

Em 1991 publica a ediçom crítica comentada dos Versos proverbiais de Guillem de Cervera. Em 25 de Novembro de 1993, por motivo da 25a. e última ediçom das Festas Populares de Cultura Pompeu Fabra, rende-se-lhe umha homenagem popular a Joan Coromines.

Em 1994 acaba a redacçom do Onomasticon Cataloniae, a última grande obra de Joan Coromines. Em 1995 é nomeado Membro de Honra da Academia Basca. Nesse mesmo ano publica-se o terceiro volume do Onomasticon Cataloniae. Em Setembro a ‘Generalitat de Catalunya’ concede-lhe o «Premi Nacional al Foment de I’Us de la Llengua Catalana», pola finalizaçom da monumental obra antes citada.

Nos últimos anos da sua vida, já de idade avançada —como reconhecia nas suas cartas de que falaremos a seguir— administrava o seu tempo em funçom das prioridades científicas e patrióticas, firmemente empenhado em controlar todo o processo da ediçom das suas obras e, nomeadamente, do Onosmaticon Cataloniae. Joan Coromines num buscava honras, só buscava a obra bem feita.

2. JOAN COROMINES E AS TRÊS GRANDES LÍNGUAS ROMÂNICAS DA PENÍNSULA IBÉRICA

2.1. Acabamos de salientar que Joan Coromines conhecia o galego-português e temos feito referência a que foi discípulo de Don Ramón Menéndez Pidal; nom deve surprender, portanto, o seu posicionamento a respeito do lugar que devia ocupar o galego(-português) no conjunto das línguas românicas. Para a filologia românica desde o seu nascimento e para os romanistas hispânicos como Menéndez Pidal, na Península Ibérica, como é bem sabido, há três grandes línguas românicas que ocupam, respectivamente, a faixa oriental, a faixa ocidental e o centro.

Outro fiel seguidor, assim mesmo, dos postulados de Menéndez Pidal, o professor Ricardo Carvalho Calero nom se cansou de proclamar insistentemente em numerosos contributos, a existência destas três grandes línguas românicas. Como há unidade em cada umha destas três grandes línguas, sempre dentro da diversidade, a tese nuclear é a de que assim como os diferentes dialectos do castelhano se escrevem com a mesma ortografia, ainda que as pronúncias podam diferir consideravelmente, também há que escrever com umha ortografia unificada o galego-português e o catalám, ainda que os dialectos destas outras duas línguas podam diferir nas suas pronúncias. De entre as suas numerosíssimas afirmaçons unicamente citaremos estes parágrafos:

«Como sabem todos os romanistas, o mestre espanhol de todos eles, Dom Ramom Menéndez Pidal, ao traçar o catálogo das línguas romances hispánicas, distingue na actualidade três, as que chama catalám, castelhano e galego-português.

Sendo assi, do mesmo jeito que os diferentes dialectos do castelhano se escrevem com a mesma ortografia ainda que a pronúncia andaluza, por exemplo, difere consideravelmente da burgalesa, caberia umha ortografia unificada para o ámbito galego-português, ainda que um falante compostelano, um falante lisboeta e um falante evorense manifestem tamém as suas peculiaridades na pronúncia. Por isso, explica-se a opiniom do professor Alarcos Llorach, nom galego, que estima que o galego deveria escrever-se coa mesma ortografia consolidada hoje na língua de Camões. Bem sabe o ilustre académico que existem variantes fonéticas entre o galego espanhol e o português padrom, mas indica que tamém existem —inclusive fonológicas— entre o catalám ocidental e o oriental, o que nom impede a adopçom dumha norma comum». (R. Carvalho Calero, 1983: 119-120).

2.2. Estes princípios substancialmente som os que sustentará Joan Coromines durante toda a sua vida. Poderíamos assinalar numerosíssimos exemplos dos que recolhemos na nossa conferência proferida no «V Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza (1996)», que os leitores poderám ler quando estiverem publicadas as Actas. Neste «Estudo» consideramos que som suficientemente esclarecedoras as suas palavras da «INTRODUCCION» do seu Diccionario crítico etimológico castellano e hispánico:

«No le permite la conciencia ni a un hombre de edad provecta, despedirse de una vieja creación, sin subrayar en ella lo que espera perdure y viva con vida propia. Se ha trabajado aquí largamente en todo lo aludido por el prof. Pascual. Pero si ‘nunca segundas partes fueron buenas’, no sería justo desalentar la perspectiva de que ésta sea, si no buena, mejor. El añadir una palabra al título se hace porque se hizo objetivamente preciso. Las nuevas aportaciones al estudio del léxico gallego y del gallegoportugués en general, lo convierten en un diccionario crítico y completo en el aspecto etimológico de la lengua del Oeste; sus contribuciones nuevas al análisis de lo mozárabe y de lo romance vasconizado no son de inferior entidad ni de amplitud menor…». (Joan Coromines, 1980: XII).

As palavras de José A. Pascual, a que fai referência o professor Joan Coromines, entre outros factos, sustentavam a tese da unidade de duas grandes línguas românicas da Península Ibérica:

«… La presente obra ha ampliado aún más la atención a lo peninsular, tanto en el caso de los dialectos hispánicos como en el de las grandes lenguas —románicas o no— gallegoportuguesa, vasca y catalana. Y aunque el prof. Corominas no ha tenido la pretensión de abordar exhaustivamente todos los enigmas etimológicos de Ias lenguas de la Península Ibérica, no ha renunciado a dar alguna luz sobre sus problemas más espinosos y difíciles…». (José A. Pascual, 1980: IX).

2.3. Se no âmbito da filologia românica e para os romanistas hispânicos, como Menéndez Pidal, Joan Coromines e Ricardo Carvalho Calero, há três grandes línguas românicas —o galego-português, o espanhol e o catalám— também no ámbito da lingüística registamos a mesma tese, pois que partindo dos conhecidos e reiterados princípios de E. Coseriu, estas três línguas históricas, como todas as línguas históricas, som continuidade e, neste sentido, o estado das línguas históricas é simultaneamente resultado de outro anterior e antecipo de outro posterior.

Seguindo, pois, a doutrina de E. Coseriu (1978) lembraremos que a língua real se pode conceber satisfactoriamente como umha instituiçom em equilíbrio nom estático mas dinâmico e a que só por exigência de estudo se imagina como detida. Isto é, dentro do constante constituir-se ou conformar-se de umha língua histórica, cabe detectar um determinado estado de língua, um momento que, por necessidades de estudo, abstraemos do contínuo devir. E neste momento o que se observa é a existência de «variedades» entrecruzadas que, como variedades, remetem a umha invariante fundamental chamada diassistema. Assim, o que se denomina normalmente «língua espanhola», «língua galego-portuguesa» e «língua catalá», som, observadas desde um determinado estado de língua, os diassistemas gerais que presidem aos diferentes sistemas lingüísticos cujas diferenças, vistas desde os respectivos diassistemas, nom som mais que variantes. Deve ficar claro, entendemos, que nom cabe identificar o «espanhol» com umha dessas variedades, nem tam sequer com a variedade standard, nem o galego(-português) com umha dessas variedades, nem tam sequer com a língua padrom, nem o «catalám» com umha dessas variedades, nem tam sequer com a variedade standard.

Bem conhecido é que para E. Coseriu (1978: 219-220) umha língua histórica (quer dizer, umha língua historicamente delimitada e, normalmente, identificada por meio de um «adjectivo próprio», por exemplo, a «lengua espanola» —e acrescentamos nós a «língua galego(-portuguesa) e a «língua catalá»—) apresenta diferenças no espaco geográfico, entre os estratos sócio-culturais e entre os tipos, situacionalmente condicionados, de modalidades expressivas; por isto, umha língua histórica é um conjunto («diassistema») de dialectos, níveis e estilos de língua e continua a acrescentar:

«Una lengua funcional es una lengua delimitada dentro de una lengua histórica y homogénea desde estos tres pontos de vista; dicho de otro modo, es una lengua sintópica, sinstrática y sinfásica, o sea, un dialecto determinado, en un determinado nivel y en un estilo de lengua. Se le llama «funcional» justamente porque es Ia lengua que funciona de manera inmediata en el hablar: no se habla nunca «español» a secas, sino siempre una variedad determinada de español…». (E. Coseriu, 1978: 220).

Assim, no domínio lingüístico hispânico, tanto a denominada «língua espanhola) como os denominados dialectos hispânicos nom som mais que variedades existentes no interior de umha língua histórica que, concebida como diassistema, as preside e lhes proporciona a possibilidade de intercomprensom. Cada umha dessas variedades constitui um sistema lingüístico, apto para o conhecimento e a comunicaçom, e justificado historicamente em todos os casos. Para dizê-lo muito sinteticamente com as palavras de E. Coseriu (1973: 56-57): o «espanhol» é um «arquissistema» dentro do que quedam comprendidos vários sistemas funcionais; o equilíbrio entre os sistemas abarcados por um arquissistema pode chamar-se norma histórica. Estes princípios por ser «científicos», com o significado e valor que lhe dá por exemplo A. Martinet (1960), som válidos para o galego-português e para o catalám. E se bem as línguas, como assevera E. Coseriu (1978: 203-203), som diferentes na sua organizaçom semântica e material, todas estam construídas para a mesma funçom geral e som, todas, realizaçons históricas do que já Humboldt e Steinthal chamavam «a ideia de língua».

3. JOAN COROMINES E A ASSOCIAÇOM GALEGA DA LÍNGUA

3.1. Joan Coromines ‘toma partido’ perante «o caso galego», poderíamos supor que já desde o início dos seus estudos na universidade, e mais aberta e combativamente, desde o ano 1976, como temos estudado (Henríquez Salido, 1994: 60), numha década em que na Galiza se volta a produzir um intenso debate —presente desde havia por volta de douscentos anos e mais concretamente na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, como é bem sabido—. Joan Coromines, apesar de reconhecer que é um lingüista estrangeiro e de proclamar que as decisons sobre a língua da Galiza ‘correspondem unicamente aos galegos’ elabora comentários a respeito das propostas formuladas no artigo de José Martinho Montero Santalha (1976: 1-13), que com o decorrer dos anos serám as que proporá a Associaçom Galega da Língua no seu Prontuário ortográfico (1985), que no momento presente, primeiros meses do ano 1997, som seguidas por importantes colectivos e amplos sectores da populaçom.

3.2. Além deste trabalho, Joan Coromines vai demonstrar umha grande atençom preferente e constante para todo o que acontecia na Galiza sobre o presente e futuro da sua língua e, nomeadamente, com as actividades e contributos da Associaçom Galega da Língua ou dos seus membros. O dia 12 de Março de 1984 numha carta remetida a J. Martinho Montero Santalha reproduzida em pág. 422 diz nom poder assistir ao Congresso da Associaçom Galega da Língua, porém aprova o juizo do filólogo galego, «intento de desmembraçom promovido polo poder político de ambas tendências», e junta o testemunho do que sente, escrito da mao própria:

«Portugal – Galiza
Galiza – Portugal
um brinde para ambos!
Um retalho saído da Galiza?
A velha mae do país imperial?
Sei eu? Sim sei e conheço a minha profunda simpatia
para umha e para outro.

Joan Coromines
primavera 1984»

Em julho de 1984 volta a escrever a José Martinho Montero Santalha para transmitir a sua felicitaçom à Associaçom Galega da Língua pola organizaçom do «I Congresso da Língua Galego-Portuguesa na Galiza» e, embora diga também que nom pode concorrer, nom deixa de enviar a sua adesom e dar sugestons para esse «I Congresso» e até para o próximo:

«Se me constasse que os galegos, os portugueses, e, especialmente, os cataláns, tem todos interesse numha possível assistência da minha parte, e que é um vivo e cordial interesse —em particular no caso de um eventual Segundo Congresso em 1985— ainda, talvez, poderia subscrever. Moveria-me só a minha vontade de cidadam patriota e a minha devoçom pola Lingüística. Mesmo umha comunicaçom minha, nesse caso, acerca de um tema científico (por ex. o misterioso problema etimológico do nome Ourense) nom pareceria inconcebível…»

A seguir formula umha série de indicaçons provavelmente úteis, relativas ao envio de programas a diversas personalidades da cultura catalá, como se pode ler no documento que reproduzimos incompleto, para respeitar a estrita confidencialidade solicitada por Joan Coromines a José Martinho Montero Santalha, em página 423.

3.3. O seu relacionamento com a Associaçon Galega da Língua, ou com membros da Associaçom, vai ser umha constante nos últimos anos da sua vida. Consta-nos da correspondência que mantivo com José Martinho Montero Santalha, e do seu interesse polas publicaçons e actividades da Associaçom; porém só podemos apresentar aqueles textos que conservamos —algum devemos de tê-lo perdido, sem dúvida, pola abundante correspondência que se produzia por motivo da realizaçom dos sucessivos Congressos—.

3.3.1. Realmente importante é a carta, datada em Pineda em 21 de Fevereiro de 1985, reproduzida fac-similarmente em página 426, em que comunica aceitar com prazer ser Membro de Honra da Associaçom Galega da Língua, ou outra carta, sem data, mas que deveu de ser escrita na primavera de 1987, em que pergunta sobre algum documento e texto que lhe tínhamos solicitado, documento que reproduzimos em página 427. Do outono de 1987 é um texto muito mais extenso do que lhe tinha remetido a José Martinho em 1984, reproduzido fac-similarmente em página 428, cujo conteúdo literal é:

«Portugal – Galiza
Galiza – Portugal
um brinde para ambos!
Um retalho saído da Galiza?
A velha mae do país imperial?
Sei eu?
Sim sei e desejo que nem o grande país esqueça a terra de Rosalia
nem a terra de Castelao pode esquecer nem decurar aguei grande país
Sim sei e conheço de certo a minha profunda simpatia
para umha e para outro.

Joan Coromines
outono 1987»

3.3.2. As provas do seu interesse polas «cousas» da AGAL fôrom contínuas. Nunca esqueceremos a alegria que nos produziu receber um breve cartom, reproduzido em pág. 429 com data de 19 de Janeiro de 1988, em que nos felicitava polo nosso artigo (Henríquez Salido, M.a do C. 1987) intitulado «O processo de Normalizaçom do Idioma Galego-Português na Galiza», aparecido na revista Caplletra, II, 1987:

«Distinguida senhora e amiga Henríquez Salido: Tenho lido o seu artigo Processo de Normalizaçom do Idioma Galego-Português em Galiza» em «Caplletra» II, 1987, 49 ss., com a mais profunda simpatia e felicito a senhora com todo o coraçom! Adiante! Atentamente [envio sem saber exactamente o endereço da senhora; agradeceria conhecê-lo com seguridade]».

O 28 de Março de 1988 voltava a acusar recibo de um trabalho publicado por nós (Henríquez Salido, M.a do C. 1986, II: 173-183) nas Actas do Congreso Internacional de Estudios sobre Rosalia de Castro e o seu tempo (1985). A carta dá a entender que nom se vê com forças para assistir a um novo Congresso organizado pola AGAL ou para elaborar algum texto que lhe tínhamos solicitado (nom conservamos cópia das nossas cartas), o que sim fica bem claro som os seus parabéns polo nosso trabalho (Henríquez Salido, 1986: 173-182) sobre Rosalia. A carta, reproduzida fac-similarmente em página 430 diz:

«Dra. Maria do Carmo Henríquez
28 Março 1988

Prezada professora e amiga: Eis o que posso neste momento. Poderei mais? a minha idade manda e faz-me duvidar.

Foi um prazer da mente e do coraçom ler o seu trabalho sobre Rosalia.

Cordialmente
Joan Coromines»

A derradeira carta do Mestre leva data de 23 de Maio de 1993. É umha resposta à proposta de dedicar um número extraordinário da revista Agália ao estudo da obra ou de qualquer aspecto relacionado com os contributos que tinha feito o professor às investigaçons da Lingüística Românica. O professor, como se vê no texto fac-similar que reproduzimos em página 432, apenas pode escrever nem umhas linhas e manifesta:

«recebo hoje 23 maio 1993

Prezada senhora e amiga: Lamento de coraçom nom poder colaborar em tam nobel intento. Joan Coromines.

É umha orden medical! ainda mais: nom posso nem escrever umha carta. J.C.»

As dificultades existentes para achar colaboradores para este projecto nom permitírom que em vida do professor pudessem aparecer publicadas nem as Actas do V Congresso —em que se destinou umha secçom ao estudo e análise da obra do professor Joan Coromines— nem um número monográfico da revista.

Em 2 de Janeiro de 1997 despedia-se dos mortais desde Pineda o «nosso» Mestre Joan Coromines, um grande cientista e um grande patriota. Na Galiza nom o esqueceremos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • CARVALHO CALERO, R. (1982): Da fala e da escrita, Galiza Ed., Ourense.
  • COROMINAS, Joan e Pascual, José A. (1980-1991): Diccionario crítico etimológico castellano e hispánico, 6 vols., Gredos, Madrid.
  • COSERIU, E. (1973): Sincronía, diacronía e historia. El problema del cambio lingüístico, Gredos, Madrid.
  • COSERIU, E. (1978): Gramática, semántica, universales. Estudios de lingüística funcional, Gredos, Madrid.
  • FERRER i COSTA, J. e PUJADAS i MARQUÈS, J. (1995): Joan Coromines. 90 anys, Ajuntament de Pineda de Mar, Curial Edicions Catalanes.
  • HENRÍQUEZ SALIDO, M.ª do C. (1986): «Umha leitura sociolingüística dos versos ‘Probe Galícia nom deves/ chamar-te nunca espanhola/ que Espanha de ti se olvida», em Actas do Congreso Internacional de Estudios sobre Rosalia de Castro e o seu tempo (1985), tomo II, Consello da Cultura Galega – Universidade de Santiago de Compostela, págs. 173-182.
  • _________________________ (1987): «O processo de normalizaçom do idioma Galego-Português na Galiza», em Caplletra, 2, Revista de Filologia, Universidade de València, págs. 173-182.
  • MARTINET, A. (1960): Élements de linguistique générale, Librairie Armand Colin, Paris.

BIOGRAFIAS CATALÁS DE COROMINES:

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