Quando se procede a recuperar para o uso habitual umha língua que, como o catalám na Catalunha, o bretom na Bretanha, o galego (ou português) na Galiza, o alemám na Alsácia…, etc., tem sido minorizada, é preciso submeter este processo de promoçom a uma planificaçom que permita acometer com êxito esse labor. Em primeiro lugar, as diferentes acções dirigirám-se em três direcções: normalizaçom do estatuto da língua (ampliaçom das suas funções na sociedade a todas as possíveis que pode desenvolver umha língua normal), promoçom ou planificaçom da sua aquisiçom (que tem como meta aumentar o número de usuários entre aqueles sectores da sociedade que a tinham deixado de empregar, bem como também a melhoria na qualidade do seu uso) e, finalmente, a normativizaçom ou planificaçom do corpus, que compreende mais propriamente a tarefa estandardizadora que neste documento nos ocupa.
Normativizar uma língua consiste em proporcionar-lhe uma variedade e uma ortografia padrom que se constitua como arquétipo do que ela é. Fazê-lo é particularmente importante porque evita a sua dispersom dialectal, pondo a disposiçom do falante umha variedade idiomática comum ao seu território linguístico, o que facilita o seu aprendizado e o seu uso. Convém dizer aqui que os estados europeus forom geralmente estandardizando as suas línguas respectivas em processos que começarom já a fins da época medieval. Neles havia um centro político e cultural que impunha as suas soluções ao resto do país. Assim é como aconteceu, por exemplo, em Portugal, na Inglaterra, na França com o francês, na Espanha com o espanhol…, etc. Porém, noutros casos em que faltou essa unidade política nos primeiros momentos, a homogeneizaçom da língua tardou mais tempo em conseguir-se. Assim, a Alemanha e a Itália nom conseguirom dispor de variedades linguísticas comuns até o século XIX, época em que se produzirom as suas respectivas unificações políticas. Na Alemanha elaborou-se a Hochsprache ou língua elevada e mesmo a Bühnenaussprache ou língua do teatro, chamada assim por tratar-se dumha pronúncia padrom convencional que evita caracterizações dramáticas nom desejadas que pudessem ser devidas à pronúncia dialectal dos actores. Também é a própria da rádio e da televisom. Na Itália o que figerom foi adoptar o dialecto toscano como oficial a fins do século passado, mas os restantes dialectos ainda conservam grande vitalidade.
Mas…, se é conveniente e necessário que as línguas oficiais dos estados disponham de variedades padrom, esta necessidade torna-se imperiosa no caso das línguas minorizadas. A carência dumha unidade política junto com a conseguinte dialectalizaçom que isto provoca impedem qualquer processo tendente a reparar a situaçom de minorizaçom da língua, aparecendo esta perante os seus falantes como umha confusom de formas sem qualquer unidade e que, para cúmulo, é incapaz de desempenhar determinadas funções na sociedade. Nesses casos, a língua dominante é a que desenvolve o papel de língua padrom nessa comunidade linguística. Os falantes acostumam aprender a escrever nela e ela é a empregada nas situações mais formais e elevadas que se apresentam no âmbito social. Daí a necessidade de normativizar umha língua minorizada para poder iniciar nela um processo de normalizaçom e promoçom.
Dentro da normativizaçom ou planificaçom do corpus abrem-se, por sua vez, vários subprocessos: a estandardizaçom consiste na escolha daquelas variantes que vam ser consideradas representativas da língua em causa; a modernizaçom compreende o “aggiornamento” do corpus lexical da língua, que provavelmente tenha sido influenciado ou substituído polo da língua dominante e, finalmente, é preciso também uniformar os usos escritos na etapa que se conhece como grafizaçom, quer dizer, procurar um sistema de representaçom gráfica. Umha vez isto for conseguido, a língua ficará apta para iniciar os processos de normalizaçom e promoçom, em que a normativa poderá consagrar-se no seu papel de padrom linguístico com o uso efectivo por parte dos falantes.
A respeito da grafizaçom devemos advertir que cada língua tem, polo geral, o seu próprio sistema gráfico; mas como este é convencional nada impede que, em princípio, umhas línguas podam ser representadas mediante a escrita de outras. Assim, é evidente que as palavras portuguesas palha, farinha, peça, dezembro, bem… tomarám feiçom “castelhana” se se representarem mediante a ortografia deste idioma, como é frequente na Galiza: palla, fariña, peza, decembro, ben… sem por isso deixarem de ser palavras (galego-)portuguesas nem passarem a ser espanholas: paja, harina, pieza, diciembre, bien… De modo mais espectacular e eloquente ainda, o moldavo, dialecto romeno, também recuperou recentemente as suas grafias latinas, pois que antes, devido à incorporaçom da Moldávia à Uniom Soviética desde a Segunda Guerra Mundial, tinha adoptado o alfabeto cirílico. A seguir podemos ver um texto em moldavo, representado ainda mediante o alfabeto cirílico:
O servo-croata, por sua vez, é umha língua que é grafada mediante o alfabeto latino polos croatas e mediante o alfabeto cirílico polos sérvios. A seguir, podemos contemplar o mesmo texto em sérvio e em croata
No caso do galego produz-se umha situaçom muito similar, pois ainda que entre as diversas normativas propostas existem diferenças —morfológicas e lexicais sobretudo— que ultrapassam o nível da representaçom gráfica (como nos casos do norueguês ou do grego), a maior parte das divergências som devidas ao uso da escrita castelhana por parte de uns, e da escrita galego-portuguesa por parte dos outros.