Alicia López Rosón é de pais galegos que migraram a Barcelona e que falavam com os netos em catalão. Defende a imersão linguístico visto o modelo do Principat e vive o process com entusiasmo. Decidiu tornar-se agálica por amor à língua dos seus antepassados.
Alicia López Rosón nasceu em Barcelona de pais galegos mas em criança passava as suas férias em Frugil (Cervela-Íncio). Que lembranças tens daqueles dias?
Tenho umas lembranças inesquecíveis. Sinto uma gratidão infinita por meu tio e minha tia, em paz estejam (como se dizia então) e também lembro com saudade a gente de Fugil… então estava grafado “Fugille” que ignoro de onde sacaram esse topónimo tão engraçado. Mas também não tudo havia ser bom, lembro alguma “canalhada” infantil de alguma vizinha! Ainda assim não mudaria essa época da minha vida por nada.
Como foram os teus primeiros contactos com o galego?
Meus contactos com o galego foram do mais natural, desde tão miúda escutei falar o galego de Frugil que dava por sentado que na Galiza havia que falar galego para ser um bom galego. Não compreendia que pais galegos, morando na Galiza, falassem castelhano a seus filhos quando entre eles falavam galego, era algo que nunca compreendi. Na Catalunha isso não acontecia, o catalão era e é a língua de todos os catalães. Tanto é assim que meu pai logo que chegou a Catalunha aprendeu a falar catalão e passados os anos falava a seus netos em catalão.
Alicia Rosón formou-se na Universitat de Barcelona. Que tratamento davam ao catalão no curso universitário e fora dele, na sociedade catalã?
Naquela altura não era como agora, mas ainda assim o catalão estava presente sempre. Agora com a imersão tudo vai melhor, meus filhos estudaram num colégio católico e privado (o maior é arquiteto e o mais jovem informático). Numa reunião com o professor de língua este dissera aos pais: “os miúdos têm que sair destas aulas a pensar em catalão”. Eu sempre acreditei nessa política linguística, de facto acho para a Galiza é urgente aplicar a imersão se não queremos que se perda o idioma.
Alicia é familiar de um ministro de interior da UCD. Aqueles anos foram fulcrais para sentar as bases da realidade jurídica e política atual em muitos temas, também a respeito da língua. É possível desfazer esse nó?
Bom, Catalunha acho que chegou a um ponto onde disse “até cá”… Tínhamos um Estatut aprovado, referendado e até aceite pelos catalães, mas as “mentes” mais reacionárias do Estado impugnaram e até iniciaram uma campanha difamatória contra nós, Catalunha. Assim que agora muitos cidadãos da Catalunha já não acreditam nem no Estatut nem na tutela da Espanha. Ignoro como terminará tudo, mas o que está claro é que nunca mais seremos como antes. A gente começa a atuar como se já fossemos independentes.
A Catalunha está a viver um processo político intenso. Como se percebe a Galiza a partir dessa Catalunha?
Percebe-se com algo de indiferença, lamento, mas é assim, governando um presidente, Feijoo, que legislou em contra da sua própria língua não se pode esperar que na Catalunha seja admirado um povo que vota em quem condena o idioma próprio, algo inaudito para um catalão. Mas nos âmbitos académicos sabe-se que a Galiza historicamente é, das três nações do Estado, a mais nação de todas, deu lugar a Portugal e o Português nasceu na Galiza e felizmente ainda se fala.
Lembras quando e como foi a descoberta de que com o galego se podia ir além do local, de que as cousas não eram como nos tinham contado?
A descoberta, além dos estudos teóricos, acontece fundamentalmente quando começo o relacionamento com pessoas cultas da Galiza. Quando chegam ás minhas mãos livros em galego reintegrado. Além de outros, li os livros de Moncho de Fidalgo, um escritor apaixonado e direto. Ademais a Moncho conheço-o desde o ano 1973 das minhas viagens na Galiza. Nesse ano ele fora dançarino nas festas da Cervela, famosas por umas danças ancestrais que segundo ele datam da época pagã.
A mim contaram pouco. Tive a sorte de estudar o galego sem os complexos do castrapismo que a meu entender fizeram muito dano a nossa língua. Nós em Catalunha tivemos um Pompeu Fabra, na Galiza seica um tal Ramón Piñeiro? Porque D. Ricardo Carvalho Calero é marginalizado desde o oficialismo, algo intolerável.
Que te motivou a te tornar sócia da AGAL. Que esperas da associação?
Decidi fazer-me membro da AGAL por amor à língua dos meus antepassados. E também porque eu nunca me faria sócia de algo que ainda escreva com Ñ… não compreendo a teima dos partidos políticos galegos na defesa do castelhano dentro do galego. Porque Rosalia de Castro escreveu assim? É que Rosalia disse num de seus prólogos que ela escreve assim porque ignora a ortografia própria do galego, então como é que ainda continuam na teima desse erro? Nas Cantigas aparece já o dígrafo NH…
O que espero é que a AGAL continue com a sua política atual, nomeadamente com a política de publicações tanto digitais quanto em papel.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2040?
Que a gente falasse galego num 90% como quando eu era nena… e que ademais soubessem escrever sem qualquer dúvida… Mas isso é difícil votando em quem marginaliza o idioma de nossos antepassados.
Conhecendo Alicia Rosón
Um sítio web: Portal Galego da Língua.
Um invento: A luz eletrifica, depois viria o resto.
Uma música: Serrat
Um livro: Seguindo o caminho do vento. Lembra-me a minha juventude.
Um facto histórico: Descobrimento da penicilina.
Um prato na mesa: Caldo
Um desporto: Futebol e Barça até o fim!
Um filme: Ghost
Uma maravilha: Sagrada Família
Além de galega: Catalã
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