Entrevistamos José Pazó Argibay, novo sócio da AGAL: trabalhador na administração, especializado em emprego, está a fazer uma tese de doutoramento sobre direito do trabalho e da segurança social.
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José Pazó é orientador na administração e está especializado em questões de emprego. Como se vive em galego no teu âmbito laboral?
Com certa normalidade. A atenção às pessoas usuárias é feita em galego. Polo tipo de serviço de que se trata, estabelecer um esquema de confiança com o/a usuário/a é imprescindível. O galego torna-se no veículo essencial para estabelecer esse clima de proximidade no trabalho diário.
Estás a fazer uma tese de doutoramento em direito do trabalho e da segurança social. Com que dificuldades te encontras no âmbito linguístico?
Lamentavelmente, neste âmbito, há muitas dificuldades. As ferramentas de trabalho essenciais na investigação em direito são a legislação e a jurisprudência e revela-se muito complicado encontrar materiais de trabalho em galego. Qualquer pessoa que trabalhe nestes âmbitos, se quiser fazê-lo em galego, tem de fazer constantemente uma tradução livre dos textos legais o que, para um investigador rigoroso, é uma autêntica aberração. Nos manuais, a situação é a mesma, quase não há, o que dificulta muito o trabalho. Quanto a publicar algum trabalho de investigação jurídica em galego, melhor nem falar.
Porque começaste a estudar português? Tivo algo que ver com o galego?
Realmente não. Em geral gosto de aprender línguas. Inicialmente comecei a estudar inglês na EOI e, quando finalizei, decidi estudar outra língua e optei polo português por recomendação de colegas. Na verdade, pensei que seria muito parecido com o galego e que seria fácil. Com exceções, assim foi.
Conhecias o reintegracionismo antes de começar a estudar português? O que achavas?
Conhecia, mas não com detalhe. Achava que era uma estratégia muito minoritária e com uma linha de atuação muito limitada.
O facto de estudar esta língua mudou a tua ideia deste movimento?
Absolutamente. Ao estudar português descobri o contaminado que estava o meu galego por castelhanismos e decidi fazer o trânsito, aos poucos, para um galego que se achegasse mais ao português. O trânsito foi, e está a ser, de uma maneira gradual e nada traumática, que acho que é como deve de ser o trânsito, de uma maneira natural.
Que exemplo porias a uma pessoa de forma a ilustrar como o conhecimento do português pode ajudar o galego?
Qualquer pessoa que se achegar minimamente ao português há de descobrir as possibilidades que oferece para melhorar o galego. No caso de destacar alguma, no meu caso, acho que me ajudou a enriquecer o meu galego com léxico que já tinha perdido ou que, noutros casos, não tinha utilizado nunca.
Por onde julgas que deve caminhar o reintegracionismo? Como pode ser mais eficaz na sua difusão?
Além de seguir a trabalhar nas linhas estabelecidas; chegar a uma faixa mais ampla da sociedade. Tirar proveito do alcance das redes sociais é fundamental para ser mais eficaz na difusão, ao mesmo tempo que aproveitarmos qualquer oportunidade para termos presença na rua, que é a forma mais direta de chegar às pessoas.
Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
Há pouco que conheço a AGAL, mas considero que é uma ferramenta importante de transmissão e difusão; nomeadamente as suas linhas de formação e edição. Apesar de ser um recém-chegado, gostaria de apoiar.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?
Sou otimista; não vai ser singelo mas acho que o galego vai recuperar o terreno perdido. Convivo com crianças de 4 e 5 anos que se desenvolvem num lindíssimo galego com total normalidade, seguramente porque têm pessoas perto que se esforçam em transmitir-lho. Essa cadeia de transmissão é fundamental para um horizonte com um galego normalizado em todos os âmbitos. Além disso, a inclusão do português no ensino médio (ainda que optativo) vai ajudar a enriquecer e melhorar o galego de muitos estudantes que se estão numa idade chave.
Conhecendo José Manuel Pazó Argibay
Um sítio web: …muitas…e muito variadas…mas ultimamente frequento muito as de viagens…
Um invento: Internet
Uma música: Difícil escolha…Rolling Stones
Um livro: O Nome da Rosa
Um facto histórico: Qualquer alcançado como resultado dum movimento social e coletivo.
Um prato na mesa: Peixe à grelha
Um desporto: Caminhadas
Um filme: Good bye Lenin
Uma maravilha: A Festa da Dorna de Ribeira….não percam!
Além de galego/a: …dorneiro!
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