Reflexons de alguns dos docentes do Curso de Cultura Contemporánea Galega

CCCG – A organizaçom do Curso de Cultura Contemporánea Galega, promovido pola AGAL em parceria com a Cátedra UNESCO de Cultura Luso-Brasileira da USC, contactou alguns dos docentes que nele participarám para conhecer as suas impressons acerca do mesmo.

Carlos Quiroga, Professor do Departamento de Filologia Galega da USC e membro da direcçom da Associaçom de Escritores em Língua Galega, intervirá no Curso de Cultura Contemporánea Galega como conferencista na jornada “Culturas Tradicionais”.

Em sua opiniom, sem “artes tradicionais”, e especialmente sem língua/literatura, nom existiria a actual galeguidade:

O conhecimento dos Cancioneiros espoletou a consciência de identidade, como todo o mundo sabe. Portanto, para a definiçom histórica som imprescindíveis. Para a definiçom actual talvez se aparentem descartáveis, mas reparemos no futuro: num mundo em vias de globalizaçom cultural acelerada, som de novo necessárias, pois facultam à nossa produçom cultural a saída internacional. E em síntese garantem a sobrevivência identitária de novo. Se sabemos aproveitar o seu potencial.

Quiroga acha também que a administraçom deveria saber aproveitar o potencial da nossa cultura:

A administraçom viu sempre na promoçom cultural um sacrifício necessário no lugar do benefício possível, multiplicador de felicidade para os habitantes desta terra. Como administraçom sempre abduzida, sempre desviou o jogo para o terreno errado, jogando fora da casa. O desejável é que tome verdadeira consciência do que somos e temos, mudando a mentalidade sacrifical, e colocando como prioridade estratégica -por exemplo as relaçons culturais com os países de língua portuguesa a todos os níveis. Isso seria aproveitar os meios disponíveis e amparar a sobrevivência identitária, que vai estando ameaçada. Se nom fosse capaz de jogar esse papel, pelo menos nom deveria castigar a orientaçom cultural nom abduzida, como acontece.

Outro dos docentes é Elias Torres Feijó, professor do Departamento de Filologia Galega da USC, especializado em metodologia da análise da literatura e da cultura e ex-vicerreitor da Cultura da USC. Intervirá no Curso de Cultura Contemporánea Galega como relator na jornada “Culturas de Elite”.

Para ele, a literatura e as “artes tradicionais” perdêrom importáncia nas últimas décadas na configuraçom da identidade colectiva:

Perderom, sim, infelizmente; infelizmente porque elaboraçons tradicionais que vertebram e enriquecem a nossa vida estám sendo substituídas pola hibridaçom a-identitária de determinados processos de globalização sem referentes nas pessoas da nossa comunidade e sem encontrarem nesses processos ferramentas activas fabricadas por elas, o que nos fai mais vulneráveis e mais pobres. Os textos literários estám sendo também substituídos por fórmulas que encontram em meios de difusom massiva a garantia do seu sucesso, onde língua, vínculos culturais, visons do mundo, etc., podem prejudicar sem alternativa a nossa coesom social.

Considera, também, que as industrias de serviços e turísticas som já fundamentais para a imagem internacional de umha comunidade:

Sem dúvida, comunidades como a nossa precisam de crescente internacionalizaçom, a partir das próprias elaboraçons, porque é a maneira de poder dialogar e, ao mesmo tempo, ser beneficiosamente reconhecível. A indústria cultural joga, ademais, um papel nom apenas de difusor e apoiador do que se fai no território mas também do que outros podem fazer e desde aqui pode ser apoiado. No caso do turismo, é igualmente decisivo: por exemplo, penso que nos abeiramos perigosamente de umha identificaçom da Galiza como espaço antigo com um santuário como capital: enfim, mais pobres, intelectual e materialmente, e mais expostos a usos depredadores e nom activadores e integradores do bem comum.

Por sua parte, Xosé Pereira Fariña, decano da Faculdade de Ciências da Comunicaçom da Universidade de Santiago de Compostela, intervirá no Curso de Cultura Contemporánea Galega como conferencista na jornada “Culturas de Massas”.

Segundo a sua visom, os meios de comunicaçom som imprescindíveis na conformaçom da cultura e da identidade galega actual:

A informaçom e a comunicaçom som indispensáveis para estabelecer os mecanismos de criaçom e sustente de umha identidade cultural. Os meios centram-se na comunicaçom de massas, um aspecto concreto da comunicaçom, mas igual de fundamental. Polo tanto, os meios som umha das peças fundamentais no sistema cultural de qualquer comunidade, e da galega também.

Quanto à informaçom cultural, o professor julga que, quantitativamente, é “escassa” nos meios galegos:

A cultura foi sempre uma secçom que existiu como necessidade, mas os meios tendem a reduzi-la à actualidade cultural e nom ao debate cultural. No caso galego, é certo que hai várias iniciatiavas interesantes, muitas delas som suplementos, mas normalmente centram-se nos critérios de actualidade, com umha marcada tendência à informaçom de agenda. Se analizarmos as páginas de cultura observaremos como hai menos peças dos géneros tradicionais da reflexom, como a reportagem ou a entrevista. Nom me refiro só aos meios escritos, mas também aos audiovisuais.

Bem é certo que na internet, a situaçom é ligeiramente diferente, com produtos moi bons centrados especificamente na informaçom cultural com aprofundamento, e nom só como agenda.

Ramom Flores é professor da Escola Universitária de Óptica e Optometria da Universidade de Santiago de Compostela e activista do Software Livre, intervirá no Curso de Cultura Contemporánea Galega como conferencista na jornada “Culturas Livres”. Considera que a cultura galega actual nom é exactamente livre e que o estado espanhol nom tem muita tradiçom de liberdade. Ora bem, quanta mais liberdade tenhem os autores à hora de criar, mais rica e viva é umha cultura.

A cultura galega desenvolve-se dentro do quadro legislativo espanhol, e o estado espanhol nom tem muita tradiçom de liberdade. Sempre se lhe deu, e continua-se a lhe dar, mais importáncia à defensa dos interesses estabelecidos que ao fomento de novas iniciativas, incluídas as culturais.

Agora bem, como ninguém cria do nada, a liberdade dos novos autores pode entrar em contradiçom com a propriedade intelectual de outros. Achar um equilíbrio que nom afogue a criatividade e respeite o direitos autorais é um dos desafios dos nossos tempos, nom só na Galiza, mas a nível mundial.

Gustavo Marcos, director UNINOVA, incubadora de empresas inovadoras e de base tecnológica promovida pola Universidade de Santiago de Compostela e o Concelho de Santiago, intervirá no Curso de Cultura Contemporánea Galega na jornada “Culturas Empresariais”. Este profissional julga que as spin-off universitárias tenhem um relevante papel social na difusom da cultura universitária:

A contribuiçom a gerar tecido empresarial e postos de trabalho de alta qualificaçom a partir da valorizaçom do conhecimento gerado na universidade som as funçons principais das empresas geradas por pessoal da Universidade de Santiago e com conhecimentos gerados polas pesquisadoras e pesquisadores desta instituiçom.

Também considera que a presença das humanidades e ciências sociais no ámbito das spinn-off está chamada a ser crescente, como de facto já tem acontecido.

Experiências doutros países assim o demonstram e, para além disso, na USC criou-se um programa específico para estimular o empreendedorismo nestas áreas de conhecimento.

O curso

o Curso de Cultura Contemporánea Galega (CCCG), um espaço de reflexom acadêmica e profissional inter-disciplinar, que se desenvolverá em Santiago de Compostela entre os dias 27 de Abril e 5 de Maio, se bem o prazo de inscriçom finaliza no dia 26 de Abril (incluído esse dia).

Os assistentes ao curso receberám um certificado acreditativo de 30 horas (válido para concurso-oposiçom). Aliás, foi solicitado também um crédito da USC para todas as licenciaturas e diplomaturas das faculdades de Geografia e História, Filologia e Ciências da Comunicaçom. Para se inscrever, é preciso enviar um co-e para o correio tesouraria[arroba]agal-gz.org com o assunto “CCCG” em que se indique o nome completo e o número de Documento de Identidade.

O curso completará-se com 12 horas nom presenciais que compreenderám leituras, que serám entregues aos alunos polos organizadores, e a possibilidade de participaçom de um foro de debate na internet.

O desenho e desenvolvimento deste curso correm por conta de Holística. Consultora para a Lusofonia, S.L.

 

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