Antom Díaz, músico e operário: «Umha ofensiva pola língua e cultura galegas contra a colonizaçom é a estratégia que fai ganhar, e nom andar na defensiva»

PGL – Antom é baixista. Foi fundador de Os Papaqueixos e de A Turma Angolo Galega e hoje forma parte de Os 3 Trebóns – junto ao Xurxo Souto e Fran Amil-, dos Ulträqäns, e da Banda Tic-Tac –um projeto para miúdos-, entre outros.

Quanto à língua, acha que «estamos a perder a guerra da colonizaçom espanhola, e temos que mirar por soluções próprias e mesmo imaginativas». No que atinge ao terreno musical, acredita que a indústria musical galega «está em cueiros; ainda pior, «em cueiros usados». Destas e doutras matérias falámos com ele na entrevista que oferecemos a seguir.

Andas em três projetos musicais quase ao mesmo tempo e já fundaste outros. Ao que parece, Antom Díaz é músico as 24 horas do dia. É mesmo assim?

O dia só tem 24 horas??? Horror!

Nem tenho estudos musicais, nem me dedico profissionalmente à música, que mais quigera eu!. Na realidade, como muito, ensaio duas horas nas quartas-feiras e aproveito o pouco tempo que me queda para fazer os espetáculos no fim-de-semana. Trabalho como engenheiro de soldadura, e entre o ferro e o estudo constante que exige a minha profissom, nom fica muito tempo para estar com os meus, nem para dedicar-me ao que realmente me enche, que é a música. Encher nos dous sentidos espirituais que agromam no mundo do rock, no de alimentar o espírito e no das bebidas espirituosas, claro.

Aliás, entre os projetos musicais nos quais milito, falta citar o meu vizinho e grande artista corunhês, Manolo —conhecido como Cañita Brava—, umha pessoa que é artista da cabeça aos pés e da qual sou admirador.

Quando e como chegaste à música? Há algum projeto novo que tenhas entre mãos?

Quando era um rapaz de 16 anos. Nunca colhera um instrumento musical nas minhas mãos assim que, daquela época, a vontade de tocar só era comparável com a ignorância absoluta que tinha do tema. Mais ou menos como agora. Nos últimos anos argalhei junto com colegas os projetos Ondas Martenot (homenagem ao Lois Pereiro) e a Banda Fura Fura (tributo ao Zeca Afonso).

Agora, por motivos familiares, o tempo vai dedicado mais ao nosso pequecho que tem onze messes e merece todo o pouco tempo que me deixa o meu trabalho. De todos os jeitos, os Ulträqäns sacámos este verão passado o nosso segundo álbum e andamos a publicitá-lo um chisquinho polos palcos galaicos (por favor, comprem o nosso disco!! www.ultraqans.net).

Tonhito de Poi, Caxade, Projeto Mourente… Existe o tópico do reintegracionista-filólogo, mas, haverá que ir criando o tópico do reintegracionista-músico?

E o de reintegracionista-condutor-de-autocarros, reintegracionista-taxidermista, reintegracionista-funambulista, reintegracionista-sexador de polos… Venha, que nom nos queda proselitismo à frente!!

Passaste por alguma fase “anti-reintegracionista”? Se sim, como saíste dela?

Vou responder com um dito em castelhano: «el reintegracionista no nace, se hace». Tivem umha fase anti-reintegracionista. Digamos que comecei a falar galego com 16 anos (ano 1990) na Corunha, tendo os 50% da minha família, por certo, origem espanhol (Múrcia). Assim que o contato prévio do reintegracionismo era nulo e, portanto, fui criando o meu discurso com as bases educativas que tinha, que fôram as que recebim na EGB. Essas bases davam por feito que o galego é quase um dialeto que enriquece o mosaico da indivisível Espanha e todo isso… Quitar-se isso de em riba custou anos. Mesmo quando eu era já independentista, ainda nom tinha assimilado o discurso reintegracionista. Som-che cousas que passam neste impaís, e que seguirám passando porque nom estamos a melhorar tampouco nesta questom.

Segundo temos entendido, eras utente da norma de mínimos. O que te motivou a assumires os máximos?

Pois… a própria norma de mínimos! De facto, o meu primeiro contato com o reintegracionismo foi em 1º de BUP (Bacharelado), quando recebi aulas com o manual de língua da editorial Via Láctea, que era de mínimos, portanto reintegracionista de algum jeito. Daquela, estudar a acentuaçom que nom tinha nada a ver com a do espanhol foi um autêntico choque. «Como? Há mais formas de colocar o acento que a ‘única e verdadeira’?». Para mim, a norma de mínimos era uma boa soluçom para ir, pouco a pouco, introduzindo a norma internacional entre um povo analfabeto na sua própria língua, como é o nosso.

Antom Díaz 2Os músicos, mesmo sem escreverem em galego-português, cantam para todos os países que falam a nossa língua. Para quando um Cantos na Maré em cada cidade e vila?

Hoje em dia, o mais semelhante a isso é que a Panorama cante o A» [de Michel Teló]. Fica muito trabalho por diante. A indústria musical galega —por chamá-la de algumha maneira— está em cueiros. E em cueiros usados, valha a metáfora, já que na época de vacas magras dedicou-se a tentar viver das ajudas antes de que sentar as bases para medrar firmemente. Os que continuamos na trincheira de toda a vida e na autogestom —por sorte ou por desgraça—, tentamos fazer isso em circuitos nom precisamente oficiais. Aliás, dizemos cousas das quais os políticos nom gostam, assim que nunca cheiraremos um patacom. Está assumido sem problema.

Outro dos projetos com muito sucesso no que colaboras é a Banda Tic Tac, tanto para a publicaçom do primeiro livro-disco do Pablo Díaz, Tic-Tac, editado por Kalandraka, quanto para um segundo, Toc-Toc, editado por Galaxia. Como foi ou está sendo para um rockeiro esta nova experiência, dirigida a um público infantil?

Pois… nada novo, porque vamos tocando rock para crianças! O público infantil é miúdo mas nom é parvo; é mais, nesse sentido pode ser menos parvo que o adulto, e tens que esforçar-te em fazer os arranjos harmónicos e rítmicos —que é a minha jurisdiçom musical— o mais aquelados possíveis! Quanto ao demais, estou absolutamente maravilhado de ser convidado polo Pablo para trabalhar neste grupo, como nom podia ser doutro jeito. Para além de que um projeto 100% galego, que está a ter bastante sucesso entre as crianças, é cousa boa porque a normalizaçom linguística vem precisamente por estes vetores: desenhos animados, música, cinema…

Sabemos que desde há pouco te estreaste como pai. Qual pensas que é a situaçom para uma mãe ou pai que quer educar os filhos em galego? A cidade na que moras ajuda a isto?

Eu moro em Oleiros e fago vida na Corunha. Neste entorno, os filhos pequechos de todas —ou quase todas— as minhas amizades galegofalantes, falam em espanhol. A criança que fala galego neste entorno é um bicho raro, e ninguém quer ser um bicho a essa idade. Embora fales galego 100% na casa, tens, por outra banda, a escola, a TV, a rua… E está o maldito costume da gente falar galego com os adultos e espanhol com os pícaros…

Nom quero ser pessimista com isto, mas estamos a perder a guerra da colonizaçom espanhola, e temos que mirar por soluções próprias e mesmo imaginativas. Deveria de haver debate político com este tema mas as forças nacionalistas hoje em dia estám mais preocupadas de se recomporem de umha lamentável deriva que de passar à ofensiva. Aguardemos a que se clarifique o panorama para poder voltar a umha ofensiva pola língua e cultura galegas contra a colonizaçom, que é a estratégia que fai ganhar, e nom andar na defensiva, que só serve para aturar um chisco de tempo mais até a derrota.

Achasque um projeto como o da Semente é necessário na atualidade?

Considero que numha situaçom desesperada e de emergência nacional como a nossa, tudo soma e tudo serve. Oxalá sirva para que quando os rapazes da Semente entrem na escola obrigatória conservem a fala ou, pelo menos, nom a perdam definitivamente. Eu sou partidário de um ensino público em galego. Sim, já sei que é utópico na atualidade, mas por isso a sociedade civil tem de suprir as carências educativas que tem o estado espanhol para com o povo galego.

Como gostarias que fosse a “fotografia lingüística” da Galiza em 2020?

Falta muito pouco para 2020 e, de todas as maneiras, nom o vejo com muita esperança. Por isso mesmo nom podemos dar um passo atrás com este tema da língua ou em 2050 estas entrevistas do AGAL Hoje serám do tipo «entrevistamos o derradeiro galego-falante de Betanços» ou similar. Mas como nom quero deixar a entrevista com um sabor amargo, meus amigos, nem um passo atrás com este tema, apesar de nom estar na agenda de certas modas políticas importadas.

Conhecendo Antom

  • Antom Díaz 5Um sítio web: Chuza, com certeza.
  • Um invento: O queijo de Arçua
  • Umha música: Todas. Mas se tenho que dizer umha, digo Fuxan os Ventos, a música popular búlgara e o forró nordestino
  • Um livro: Pois o último do meu companheiro Xurxo Souto, Contos do Mar de Irlanda. Acontece que na Corunha (por exemplo), tínhamos autênticos heróis (ser marinheiro no Gram Sol é um trabalho de heróis) a morar porta com porta nas nossas casas e nem o sabíamos”
  • Um facto histórico: A revoluçom bolchevique ou o primeiro concerto dos Diplomáticos de Monte Alto no meu liceu de Zalaeta no ano 1991
  • Um prato na mesa: Tudo o que leve grelos do Vale de Gestoso. Ou no seu defeito o que cozinhe a minha sogra
  • Um desporto: Para praticar, a “poltrona-ball”; para mirar o futebol, gaélico mixto, e para sofrer, ser do Dépor
  • Um filme: Para rir, O sentido da vida dos Monty Python; para chorar, Ladrons de bicicletas, e para pensar, qualquer um desses dous
  • Umha maravilha: Poder dormir mais de 8 horas ao dia, por exemplo
  • Além de galego: Ser pluricelular, mamífero e míope

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