Amparo Gallego Fouz: «Sempre pensei que para normalizar era preciso ter antes uma norma coerente com a nossa história»

Valentim R. Fagim – Amparo Gallego Fouz, é professora de língua e literatura galega para adultos, passou polas aulas de Carvalho Calero —foi das últimas alunas antes de o professor se reformar— e afiliou-se à AGAL porque a associação não está a meias tintas.

Valentim R. Fagim: Amparo é licenciada em filologia galego-portuguesa, das últimas alunas de Carvalho Calero antes de ele se reformar.  Que lembranças guardas daquela época?

Amparo Gallego Fouz: Não tenho idealizada aquela época da faculdade como muita gente tem. Os dois últimos anos do curso foram os melhores, foi naquela altura quando descobri uma realidade que cá estava, mas até então não tinha sido capaz de a ver: a cultura galego-portuguesa a fazer parte da mesma realidade.

VRF: Naquela altura, dava para pensar que os factos se sucederiam como finalmente se sucederam?

AGF: Não dava para pensar nisso. Naquela altura era difícil de acreditar na repressão linguística que veio depois. Daqueles erros temos o fracasso presente. Tenho discutido muito com colegas de profissão sobre o que merecia antes consideração: normalização ou normativização. Eu sempre pensei que para normalizar era preciso ter antes uma norma coerente com a nossa história, senão não fazia sentido.

VRF: És professora de língua e literatura galega e polas tuas aulas têm passado muitas turmas. Vamos fazer um exercício de ficção científica. Se se tivesse adotado uma estratégia luso-brasileira para a nossa língua, qual achas que teria sido a visão que os teus alunos e alunas teriam dela?

AGF: Eu acho que não teriam esse autodesprezo e falta de autoestima como falantes, que têm em muitos casos na atualidade.

VRF: Qual achas que seria a melhor forma de implementar o português de Portugal, do Brasil, da Angola… nas aulas do ensino secundário? Através da matéria de língua galega ou como mais uma matéria de Língua Estrangeira?

AGF: Gostaria de que fosse através da matéria de Língua Galega, fazendo parte galego e português duma mesma unidade, mas se calhar está sociedade não tem a suficiente maturidade para isso depois de ter apostado por outro modelo. Ainda bem, percebe-se uma pequena mudança, pelo que seria mais rentável ir aos poucos introduzindo o português nas aulas dos liceus e incorporar a ideia da sua íntima relação com o galego, acabando por descobrir que são a mesma língua com variantes próprias.

VRF: Amparo é professora no EPAPU (Ensino Permanente de Adultos Público) “Eduardo Pondal” da Corunha. Lecionar a adultos a respeito de adolescentes e miúdos são duas realidades mui diferentes?

AGF: Os adultos é outro mundo muito mais variado a respeito dos adolescentes. Os adolescentes estão muito mais preocupados por outras coisas relacionadas com a idade, os adultos passaram já por muitas circunstâncias vitais e valoram as coisas doutra maneira.

VRF: Amparo é neo-falante. Tradicionalmente se tem considerado que as neo-falantes têm uma maior predisposição para a estratégia reintegracionista. Por que julgas que é assim?

AGF: Os “paleofalantes”, em maior número, não querem ser “corrigidos”. Sentem-se chateados e ofendidos se alguém lhes dá aulas sobre a “sua língua” e veem o reintegracionismo como algo artificial e fazendo parte duma elite cultural.

VRF: Como foi a tua chegada ao reintegracionismo? Na Faculdade de Filologia de Santiago?

AGF: Na faculdade. Ainda que já tinha uma relação pessoal com Portugal, foi na faculdade onde tomei consciência da nossa relação.

VRF: Quais achas que deviam ser as linhas estratégicas do reintegracionismo neste século XXI?

AGF: Que as novas gerações vejam que através dele se abre todo um amplo e universal caminho à sua cultura.

VRF: Por que te afilaste à AGAL? Que esperas da associação?

AGF: Sempre fui reintegracionista, mas nunca me afiliei a nada. Não saberia responder porque não o fiz antes, acho que chegou o momento. Nesta altura reafirmo-me mais no que sempre cri. AGAL neste aspeto não está “com meias tintas”.

Conhecendo Amparo Gallego Fouz

  • Um sítio web: Nengum em especial.
  • Um invento: O telemóvel e o computador.
  • Uma música: Gosto da música de Rui Veloso, Luís Represas, Phil Collins, Cat Stevens …
  • Um livro: Equador, Miguel Sousa Tavares –   Arredor de si,  Otero Pedrayo –   Origens, Amin Maalouf – A noite do oráculo, Paul Auster –  Os Maias, Eça de Queirós –  Ilustrísima, Carlos Casares …
  • Um facto histórico: A Revolução francesa.
  • Um prato na mesa: Empanada, lulas e polvo à brasa, bolo de bolacha…
  • Um desporto: A natação
  • Um filme: Casablanca –  Comer, beber, amar – Un toque de canela – Memorias de África – Smoke
  • Uma maravilha: Viver todos os dias.
  • Além de galega: Galego-portuguesa e europeia.

 

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