PGL – Ana Gueimonde é doutora em Ciências Empresariais pela Universidade de Vigo e docente na Faculdade de Ciências Empresariais e Turismo de Ourense, atualmente das matérias “Gestão de inovação” e “Direção de recursos humanos”.
Há alguns debates sobre se Abadim é ou não Terra Chã, acontece como com o galego-português?
Acontece, mas ao invés; Boa parte de Abadim não forma parte natural da Terra Chã, mas sim está integrada comarcalmente nela. Pode ser que houvesse aí uma espécie de experimento sociológico piloto 😉 primeiro colocamos a Abadim na Terra Chã a ver o que se passa. Se nada sucede e a gente não reage, então estamos em disposição de retirar ao galego do seu tronco comum. Será que as pessoas aturam o que lhes botem.
Joám Carmona, Facal, López-Suevos…, o reintegracionismo esteve patente em tempos no ramo económico, influiu isto na tua posição atual?
Com efeito, a esses nomes poder-se-iam acrescer (entre vários mais) outros como os de Edelmiro López Iglesias ou Xoaquín Fdez. Leiceaga, que penso continuam a manter uma posição favorável ao galego-português. Contudo, não é apenas uma questão de nomes particulares, mas de épocas. Assim, por volta dos 80s e primeiros 90s não parecia estar estendida uma contradição entre galego e português, de aí que pessoas transitassem por normas e grafias sem qualquer problema. E antes disso, sendo nena e ainda sem preconceitos nem opinião formada neste tema, afeita a dizer (e escutar todo o tempo) “chão”, “mãe”, “mão”, “gaveta”, “rodela” ou “ainda bem”, eu via que entre as opções de sinónimos que me dava o galego normativo, na minha contorna, empregavam-se as fórmulas coincidentes com o “português”. Observar depois que existem posições marcadamente separadoras de galego e português resulta tão surpreendente como forçado e artificial. Essa tese está de costas viradas aos falantes.
“Despesas”, “receitas”, ou “verbas”?
Essas palavras são bons exemplos na literatura cientifica do que antes comentava. Em textos dos 80 não era infrequente vê-las em textos galegos. E por quais foram substituídas? É uma história repetida uma e outra vez, não se sabe bem para o quê… ou sim se sabe.
E o alunado vai sabendo que o B de BRIC é Brasil e que lá também dizem “investimento”?
Já sabem, claro, a estas alturas é muito difícil ignorar. Mas ao estar o galego encapsulado numa órbita que não é a sua, o que resulta mais difícil é que de aí se tirem conclusões. Sabe-se, mas não vai connosco. E é de todo normal, dado que a gente não tem por que saber de história da língua. Se as instituições correspondentes da Galiza dizem que são línguas próximas, irmãs, mas diferentes, e insistem na diferença, daquela, a cidadania não tem por que pensar diferente e continuaremos a receber os brasileiros que nos visitam em castelhano ou inglês. E a perder-nos boa parte da sua produção científica, que não é pouca, das traduções que realizam do inglês…
Antes de dares docência em Ourense, deste em Vigo na ETS de Engenharia Industrial. Qual é, na tua experiência, a situação do galego em ambos centros/cidades?
Existe -penso- uma certa lenda urbana com a má situação do galego em Vigo. É certo que o seu uso é mais escasso, mas isso acontece num nível de profundidade relacional muito baixo. A língua inicial de relação é predominantemente castelhano, mas a gente passa para o galego habitualmente sem problemas, de forma natural, e numa alta percentagem. Não o encontro perdido em absoluto. Já em Ourense o idioma tem mais presença, sem dúvida. Mas isso ás vezes resulta em paradoxos, porque a pura espontaneidade às vezes leva também a que se naturalizem erros impensáveis em qualquer utente de castelhano. Quanto à escrita, é já para falar à parte, tanto num lugar como em outro. Parece que o galego escrito não supera a sua fase de “fala” e, em não poucas ocasiões, quem pior o escreve som aqueles que o falam habitualmente. Não é difícil encontrar-se uma pessoa que não é falante habitual realizando um bom escrito em galego enquanto uma pessoa galego-falante nem se formula escrever em galego, acudindo habitualmente ao espanhol. Nesse aspecto semelha que continuamos a viver nos anos 70.
Na tua opinião, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilização?
Agora que estamos às voltas com as distintas “bolhas” da presente crise, penso que seria adequado furar a bolha linguística na que o galego leva desde há não tantas décadas. Se calhar pode resultar dificultoso porque é invalidar muito discurso conhecido, mas não vejo outra solução que contar estritamente a verdade. E a verdade é que fomos interferidos por uma visão e modelo de língua que nem tem sustento histórico nem nos achega nada relevante na sua formulação geral. Então penso que não basta com dizer “a estratégia da AGAL é melhor”. A gente, em geral, não escolhe o melhor senão o mais cómodo. Devemos não só explicar as bondades da proposta da AGAL, mas também que a ideia do modelo vigente é limitadora e muito recente no tempo.
Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associação?
Conhecia à AGAL como um grupo de pessoas reflexivas, muito ativas, e tremendamente abertas. Uma associação que vai contra-corrente e, a despeito disso, não é vitimista nem chorica. A AGAL vai para a frente. E gosto dos lugares onde se podem revirar os tópicos sem descuidar o rigor.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?
Preferiria uma sequência na que um docente, numa disciplina qualquer em Ourense, Vigo ou Lugo, remete para uma bibliografia de referência editada em Compostela, no Porto, ou São Paulo, e o alunado pode encontrá-la na biblioteca da sua universidade ou liceu.
Conhecendo Ana Gueimonde Canto
- Um sítio web: http://www.google.com/culturalinstitute/home
- Um invento: O hiperlink.
- Umha música: Learning to fly, dos Pink Floyd.
- Um livro: Bouvard e Pécuchet.
- Um fato histórico: A rendição do Berlim nazi em 1945.
- Um prato na mesa: Qualquer elaborado com esmero num wok.
- Um desporto: Mergulho em piscina pequena.
- Um filme: Broken flowers.
- Uma maravilha: A neve.
- Além de galego/a: Itinerante.