Antonio Marzabal, um galego a morar na Catalunha

PGL – Antonio Marzabal, galego a morar na Catalunha mas transmitiu aos seus filhos as suas raízes. De Catalunha admira o orgulho e a espontaneidade, a mesma que acha em falta em Valência. O PGL é para ele um “esperançador”.

Antonio Marzabal mora atualmente na Catalunha. Que línguas são usadas no seio da tua família?

Dado que a minha esposa é valenciana usamos o castelhano para nos comunicar entre nós. Quando nasceram os filhos, eu comecei a falar-lhes em galego já que, como parte da minha essência, não compreendo outra maneira melhor de comunicar o meu carinho nem as minhas emoções noutra língua. Assim foi como pouco a pouco sem imposições de nenhum tipo, de uma forma tão natural, se foi constituindo um bilingüismo enriquecedor, onde todos mudamos de língua segundo as circunstancias sem nenhum problema.

Qual a relação que os teus filhos mantenhem com a Galiza? Como a visualizam na distância?

Suponho que a entendem como parte das suas raízes. Suponho que através de mim, como algo que não esta a mais de mil km de distância. Quando a visitamos, creio que experimentam a sensação que todo esse mundo não lhes é alheo.

Quando e onde descobriste que a tua língua era extensa e útil?

Nunca descobrim nada disso. Como a respiração, foi-me dado e sempre fizem uso dela. Acho que a língua é uma extensão da nossa personalidade, ademais de uma conexão com a realidade que nos rodeia, e um respeito aos nossos antepassados. Que isso despreza, nem tem personalidade, nem respeita a sua terra, nem merece chamar-se galego. A sua atitude e um insulto a todas as pessoas que antes que eles, ainda que vivendo na miséria e no analfabetismo ou fora da sua pátria, souberam manter vivas as essências dum povo unido por uma terra única, costumes ancestrais e uma língua maravilhosa e universal.

Que tem a Catalunha que não tenha a Galiza em termos sociais para explicar a vitalidade da sua língua?

Orgulho e espontaneidade. São os ingredientes essenciais. Orgulho para atuar sabendo-te pessoa única, nem melhor nem pior, simplesmente com umas caraterísticas especiais. E espontaneidade ou naturalidade para levá-las a cabo sem baixar a cabeça.

Que similitudes encontras entre a situação sociolinguística da Galiza e a de Valência?

Falta de orgulho e muitos complexos. A falta de orgulho e terrorífica inclusive no dia a dia duma pessoa. Ter orgulho não significa desprezo. O que é verdadeiramente desprezível e rejeitar o que nos foi dado simplesmente porque alguém em nome de não se sabe que ética ou estética nos di que isso que nos foi dado é feio, inferior, antiquado. Lá os complexos, lá o ódio a todo o que representa o nosso passado, ocultando com o disfarce doutras línguas, outros costumes, o que um dia fomos (pais, avós, etc …), tentando com isso tapar essa feiúra e com isso matar o futuro desse mundo desprezível (negação ante os filhos, amigos, sociedade, etc..)

Que te levou a te associares à AGAL, que esperas da associação?

Sempre sonhei com poder fazer algo para Galiza. Penso que a vossa linha de atuação casa bastante com as minhas ideias. Na diáspora não se apreciam tanto os detalhes, mas penso que se tem uma visão do conjunto, não sei se acertada ou não, muito interessante para os que tendes a sorte de morar no pais.

És um visitante habitual do PGL. Que é o que destacarias do site?

Cada semana boto uma olhada. Interessam-me os artigos e as opiniões, ver que ainda há gente irredutível (mantém-me esperançado e consegue que não bote a chorar).

Qual deve ser, em tua opinião, a estratégia que deve seguir o reintegracionismo?

Penso que o galego actual é como um beco –uma entrada e nenhuma saída-. A abertura gramaticalmente ao português abrirá a porta que durante séculos, e ainda hoje, porfiam por nos manter fechada. Com que interesse? De todos é sabido. Um beco não deixa de ser um lugar sem vida, por muito que o decorem com flores e estátuas, festas e prémios: temos que abrir-nos ao mundo. Temos que fazer participe as pessoas que com isso se nos abre uma porta a uma realidade inimaginável, uma porta que sempre mantiveram emparedada e que nos permitirá compartilhar os nossos sonhos e inquietudes com o resto do mundo, na nossa mesma língua. E triste que tantos inteletuais conheçam o caminho (não quero mencionar os políticos…) e que se neguem a si mesmos com tal de seguir amarrados ao carro das regalias (quando deveriam saber que a dignidade também é um tesouro, e que não deveria ter preço).

Conhecendo Antonio Marzabal


  • Um sítio web: Wikipedia.
  • Um invento: A medicina.
  • Uma música: Blues.
  • Um livro: Generaciones de Cristóbal Zaragoza
  • Um facto histórico: A última guerra civil.
  • Um prato na mesa: Qualquer um. Especialmente os arrozes ao estilo levantino.
  • Um desporto: Atletismo
  • Um filme: Novecento de Bertolucci.
  • Uma maravilha: Ver sair o sol com humor.
  • Além de galego/a: Todo e nada, o mesmo que dizer cidadão do mundo.

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