PGL – Bruno é um viguês adotado pola Corunha. Anti-militarista em Corneta Obxecta e “preventor” de incêndios. Reintegrou-se em Moçambique. A sua filha chama-se Joana, porque se Feijoo escreve corretamente o seu nome, Joana nom vai ser diferente.
Bruno Vilela é da estirpe corunhesa dos Facal, neo-falantes que educárom os filhos em galego, nom é?
…suponho sim, mas a um 50%. A minha família materna é López Facal som do lugar de Toba, paróquia de Sam Adrám de Toba, concelho de Cee, e a minha paterna, a Vilela, é da vila de Cedeira “em cada risco um marisco”. Ambas som famílias mui numerosas, a minha nai som 9 irmaos e ou meu pai 5, polo que tenho umha cheia de primas/os que para mim, em termos de carinho, som como irmaos.
Por parte de nai todos os primos que vivemos na Galiza fomos educados em galego, e aqueles que nascêrom e vivêrom fora falam-no quando venhem cá.
No bacharelado eras um dos três alunos que falavam galego. Mesmo hoje a imensa maioria dos amigos com que cresceste no bairro falam castelhano. Como viveste este facto?
Sempre falamos galego na casa mas dizem os meus pais que era deixar-nos nas portas da escola e começávamos a falar castelhano, todo o EGB fum castelhano-falante que falava galego “na intimidade”, como Asnar com o catalám. Isso foi assim até 1º de BUP, o meu irmao mais velho, Roi, mudou e decidiu fazer-se monolingue em galego aproveitando a mudança da escola Maria Pita ao instituto de Elvinha. Quando me tocou, seguim os seus passos e decidim empregar só galego exceto nas aulas de espanhol. Suponho que a mudança de ambiente e o facto de passar a ter um montom de companheiros novos (quase todos) fazia mais doado o passo.
Daquelas eramos 40 – 42 alunos por sala de aulas, e havia-as às dúzias. Em Elvinha havia 9 primeiros e arredor de 1000 alun@s. O uso do castelhano – korunho era esmagador entre o estudantado e também entre o professorado (exceto galego, historia, filosofia e ética todo o resto era em castelhano e houvo cursos que nem sequer a matéria de ética se dava em galego). Nos anos que estudei lá, o número de galego falantes oscilou entre 3 e 8.
Como se vive esse facto? pois por um lado com certa tensom ante primeiras reaçons porque o facto era que “nom eras normal de todo”, e havia que estar preparado para dar respostas e entrar no debate a medida que o pessoal te ia conhecendo. Podia haver reaçons inicialmente negativas, eu escuitei comentários como, “hablame cristiano”, “tu hablas gallego porque está de moda” e “sabes hablar castellano?” ou outras mais surrealistas como “cuando sueñas, tambien sueñas en gallego?”, e outras positivas, a maioria, que nom se plasmavam em nenhum tipo de comentário, simplesmente no facto de que a gente passava a falar-te galego. De facto penso que Corunha é injustamente ajuizada no resto do país. Na cidade herculina só há que arranhar um pouco para ouvir galego, nom há hostilidade contra a nossa língua ao contrario do que muitos pensam. A Corunha média está, a meu ver, muito mais próxima dos “Diplomáticos de Monte Alto” que da imagem que podam transmitir os Fernandez Rey, Vazquez, Mendez, Meilán ou Jove.
Voltando ao instituto, houvo umha época em que funcionárom os CAE, o que fazia que fosse o grupo de referencia para transmitir e tramitar queixas do estudantado e certamente, ainda que só fosse a base de cartazes e do boletim que editavam, faziam que o galego tivesse mais presença. Os CAE, por sinal, tiravam um fanzine escrito parcialmente em reintegrado o que dava lugar a curiosos debates nas assembleias abertas. Este boletins dos CAE mas outros que publicavam os Colectivos da Mocidade do PSG-EG fôrom os meus primeiro contatos com o galego reintegrado.
Durante a tua experiência universitária tiveste umha presença ativa no movimento anti-militarista. Que lembras daquela época?
Pois o recordo é mui grato, a verdade. No político umha época bastante passional e suponho que algo ingénua pola minha parte, o facto de crer que se podiam trocar cousas em pouco tempo a base de pressom na rua. Ter hiperclaro o injusto do papel do militarismo no mundo, o facto de ter companheiros na cadeia fazia que tirássemos forças e recursos de qualquer parte para distintas iniciativas que na verdade, a nível local, fôrom quem, quando menos, de pôr no mapa local a nossa denúncia e reivindicaçons.
No tocante a Corneta Obxecta, colectivo onde militava, creio que conseguiu aglutinar quase todo o que havia em Lugo que se pudesse mobilizar. Fomos quem de permanecer alheios a siglas partidárias e desenvolver umha campanha relativamente intensa e decidida. Tivemos os nossos contratempos, delirantes acusaçons de relaçons com a ETA, múltiplas retençons, algumhas detençons, multas e algumha pancada que outra na comissária da PN. Assumíamos que formava parte da luta e para adiante, que havia gente dormindo nas grades.
No pessoal, tanto o antimilitarismo como Lugo, deixou-me umha pegada bem funda, tenho excelentes amig@s daquela época.
Bruno Vilela trabalha na prevençom de incêndios. Nom sei se lembras aquele manchete do jornal espanholista El Mundo em que afirmava que os incêndios eram culpa do galego. Ainda continua a nossa língua sendo tam inflamatória?
As causas som múltiplas é há no país gente experiente que poderia explicá-las. Agora penso que todos poderíamos concordar em que qualquer soluçom séria e durável tem que passar pola fixaçom de populaçom no rural e o aproveitamento e benefício por parte da populaçom local do monte. Desmantelar o comboio de proximidade ou fechar escolas com pouco estudantado vam na direçom contrária a este objectivo.
A nossa língua continua sendo tam inflamatória?, pois já se sabe que no rural se fala galego (por agora),com o nível de argumentaçom de grupinhos como GB ou do Ppdg (assim escrito, “g” com minúscula). Provavelmente o plano de defesa contra incêndios que proponham os seu portavozes, El Mundo, Intereconomía, La Voz, El Faro e tantos outros, passe por promover o castelhano no rural, já se sabe que é a língua da “Libertad” que se espalha alegremente e que igualmente serve para fazer negócios internacionais como para apagar um lume na Galiza.
A tua recetividade à estratégia luso-brasileira abriu-se nas estadias que tiveste no Brasil e em Moçambique. Conta-nos a tua experiência.
Pois, muito mais que em Portugal, onde tardo muito mais em afazer o ouvido, é no Brasil ou Moçambique onde a comunicaçom é quase fluida desde o 1º momento.
Foi determinante, sobretudo Moçambique. Como podia ser que eu, um viguês adoptado pola Corunha, fosse num comboio desde Mampula a Lichinga tendo umha conversa com 3 pessoas da localidade a falar das eleiçons em Moçambique, da corruçom da FRELIMO ou do declive da RENAMO, mentres nas paradas os miúdos ofereciam-nos “cebolas”, “cenouras”, “cerveja”?. Nom estou a falar de umha conversa típica entre um camom e um autóctone do tipo “onde se come ou onde posso dormir aqui?”, falo de um diálogo fluído sobre diversos temas. Como podia falar eu com eles se nom era porque falava a mesma língua?. Há dous anos fum com um colega a Huelva, e isto nom é brincadeira, tivem que dizer bastantes mais vezes o de “pode repetir” do que em Moçambique.
Em Brasil mais do mesmo. Tenho umha anedota de há anos, quando acabei a carreira e estivem um ano em Edinburgo, Escócia. Quando estás no estrangeiro é frequente conheceres pessoas de muitas partes do mundo na mesma situaçom que tu. Umha destas pessoas foi umha moça do Brasil. Comentei-lhe, em galego, que eu era da Galiza e que falávamos umha língua similar, quando levávamos uns minutos falando espetou-me “ fala-me nessa língua da Galiza”.
Por onde achas que deve caminhar o reintegracionismo e o movimento normalizador?
Respeito à relaçom com os defensores da normativa oficial penso que deve ir pola senda do debate sereno, tendo claro que ambos estamos puxando do mesmo lado da corda e que cada quem, a partir da sua postura, queremos o melhor para a nossa língua. Esta base de confiança deve ser o tabuleiro sobre o que contrastemos argumentos.
Respeito à relaçom com a gente de a pé, ter claro que a evoluçom “normal” de muita gente é em 2 ou 3 fases. 1ª do espanhol ao galego, 2ª monolinguísmo em galego, 3ª aceitaçom dos postulados reintegracionistas. Tentar achegar-se às pessoas sendo conscientes da quantidade de preconceitos que existem respeito ao reintegracionismo e os reintegracionistas. Como exemplo comentar que por duas vezes ouvim dizer nos últimos meses a responsáveis policiais que umha das características da gente que estava a pôr artefactos explosivos polo país adiante era que “falavam galego-português”, isso é inadmissível.
Depois ressaltar duas evidencias, umha fazer-lhe ver a gente em que contexto histórico se aprovou a atual normativa e por quem. Quiçá, dos anos da transiçom e postransiçom devam ser revisadas umhas quantas cousas além da Lei de amnistia, a constituçom ou a normativa linguística. E dúas: o galego pertence ao mesmo sistema linguístico que o português, como prova qualquer áudio dum cidadám Moçambicano, Brasileiro ou qualquer cançom do Zeca Afonso ou S. Godinho.
O Bruno e a sua namorada, a Marta fôrom país recentemente. Cá, do PGL, os nossos mais calorosos parabéns. Polo que sabemos houvo enorme debate com o nome.
Houvo, o debate vinha por como escrever o nome da nena. Se fossa Marinha nom havia dúvida de que iria com “nh” em troca de “ñ”, mas o nome que baralhávamos, e finalmente foi, era Joana. A letra “J” botava-nos mais para atrás, sobre como o pronunciariam as pessoas, mesmo do mundo lusófono. Nom queríamos umha “J” pronunciada como em Valhadolid nem como em Lisboa, se nom como se pronuncia na Galiza.
Finalmente chama-se Joana tranquilamente. Se Feijoo escreve o seu nome de forma correcta nom íamos ser menos.
Tendes pensado já na questom docente da vossa filha? A que tipo de ensino aspirades para ela?
Pensamos que deve ser ensino público, ademais creio que é bom que gente com consciência e disposta a opinar se envolva no público, que tente melhorá-lo. Ainda assim é certo que nos preocupa o tema do idioma e por isso mesmo nom descartamos outras opçons que garantam que a nena aprenda bem o galego, até os 5 ou 6 anos.
Em qualquer caso, é polo que nos cometam, creio que em Compostela existem centros públicos onde o uso do galego esta normalizado.
Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associaçom?
Pois a dizer verdade há anos (e nom tantos), via-vos como um grupinho de fríquis da língua (e algum de outras cousas). Dava a impressom de que para poder entrar em determinadas conversas tinhas que ter 5º de português ou ser filólogo. Depois fum conhecendo mais pessoal e vim que as cousas nom eram assim, e que um tipo como eu, alfabetizado em castelhano e que tem faltas de ortografia em qualquer idioma que empregue, também podia estar.
Conhecendo Bruno Vilela
Família Santos Vilela
- Um sítio web: Ciberirmandade
- Um invento: a bicicleta
- Umha música: Muitas. Sobre as que mais volvo, quiçá o Zeca, ACDC, folque galego…
- Um livro: Qualquer da editora Rinoceronte, a coleçom contemporânea é boa. Gostei também muito de dous de Marvin Harris “Canibais e reis” e “Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas: os Enigmas da Cultura”
- Um facto histórico: Revoluçom dos cravos, por ser incruenta e o dia do meu aniversário.
- Um prato na mesa: Há dúzias mas o único que podo comer a diário sem aborrecer é o caldo. Também tenho debilidade polo bacalhau.
- Um desporto: Gosto de andar polo monte.
- Um filme: El secreto de tus ojos
- Umha maravilha: A cozinha que se fai em Toba.
- Além de galego/a: Boa pessoa, creio.