Valentim R. Fagim – Bieito Landeira morou em Camarinhas e depois nas Terras de Návia-Eu e em ambas o fijo em galego.
Desembocou no reintegracionismo sem o pretender, acha os locais sociais fundamentais na difusom da nossa estratégia para a língua e é partidário da contra-imersom.
VRF: Bieito Landeira estudou em Oviedo onde o dia a dia se desenvolvia em castelhano. Que conseqüências tivo no teu código lingüístico?
Bieito Landeira: Até os 14 anos morei em Camarinhas onde quase tudo exceto o cinema decorria em galego. Estudar, falar, pensar, sonhar, jogar, amar… Passei depois a adolescência na Veiga (Terras de Návia-Eu); tudo seguia a acontecer em galego na minha vida menos a leitura, tanto de ócio como de estudos académicos. A realidade em Uvieu (Oviedo) era já completamente em castelhano (menos coa família quando voltava a casa por férias) polo que por primeira vez na minha vida comecei a sonhar ou pensar em “bilingüe”. Fum consciente disso aos dous ou três anos de vivir aló. Porém nunca deixei de falar galego com galego-falantes.
VRF: Como foi o teu contato com a realidade do asturiano?
BL: A cabra tira ao monte e na verdade a maioria dos companheiros de geraçom com os que tinha relaçom mostravam, em maior ou menor medida, um certo compromisso social e também cultural com a sua terra.
Assim que era consciente da luita que eles levavam pola defesa da língua o “asturianu”, e como galego nom era difícil sensibilizar-se para com eles. Cheguei até a cursar (e aprovar) um curso inicial de asturiano, escolhido como matéria optativa dentro da carreira universitária que estudava, que nada tinha que ver com os idiomas, já que estudei Biologia Sanitária.
VRF: O teu contato com a nossa língua começou no seio familiar. Achas que tem mudado a fotografia sócio-lingüística nos lugares onde moraste? Em que medida?
BL: Tenho vivido em diferentes vilas ao longo dos anos e desloco-me bastante falando coa gente por causa do meu trabalho. Nas zonas rurais continuo a escutar o galego a pessoas de todas as idades. Quanto mais perto está uma vila da cidade mais castelhanizadas estám as gerações mais novas. É especialmente triste nas crianças, a naturalidade coa que aceitam o galego coma uma língua menor que só serve para ler o livro de “Conhecimento do meio” ou contar o chiste do Francês o Japonês e o Galego com o seu cam de palheiro. O perigo é que cada vez mais gente nova do rural parte para as zonas urbanas, sai falando galego e volta castelhanizada de todo. Todos, quando lhe premes no orgulho, alporiçam-se e afirmam nom ter nada contra o galego. Que eles nom querem que desapareça a língua dos seus avôs. Porém, nemhum o fala já nem na casa.
Em poucas gerações, por este caminho, o galego será completamente um idioma de museu. Nom me sinto mui otimista sobre isto, porém sim que sou muito teimoso. E continuaremos a dar que fazer e sobretudo que dizer em galego enquanto nos reste uma palavra na gorja e um pouco de ar com o que a botar fora.
VRF: A tua passagem ao reintegracionismo foi através da teoria, lendo argumentários, ou da praxe, usando o galego-português?
BL: Foi uma questom de sobrevivência lingüística, que depois fum enchendo de argumentos. Quando voltei à Pátria e saim na procura da minha língua, descobrim que o que procurava só existia em galego reintegrado (Novas, Abrente Edições, Estaleiro, AGAL, Escola Popular Galega, GalizaLivre…) ou em português através da web. A mim o mesmo me dava, aceitei o português de sempre coma uma língua irmã, e pouco a pouco fum-me enchendo de razões.
VRF: Em volta da promoçom do galego costumam haver argumentos de tipo identitário – é a nossa língua- e de tipo utilitário -abre as portas da Lusofonia. Podem conviver?
BL: Devem conviver, posto que som complementares. Eu nom sou português nem aspiro ao ser. Nem penso em português mas em galego. Ora, o galego pertence à Lusofonia assim como o castelhano é a língua de Latino-América. A estratégia lusófona nom é contraditória com a estratégia identitária, é antes um motor para reforçar a nossa própria identidade no mundo. É que na Marinha e no Ocidente Astur o plural de camiom é camiois e nom é preciso ser filólogo para ver-lhe o parecido com o camiões português. Exemplos desses há milhares aló onde se conserva o idioma de maneira mais pura. Nom pode ser doutra maneira, nom é surpresa. Foram muitos anos de convivência até que nos ergueram o muro espanholista que atualmente nos separa.
VRF: Que papel devem jogar os centros sociais na difusom da estratégia luso-brasileira para a nossa língua?
BL: Para mim a maior importância dos centros sociais é a de ser um espaço físico onde dar cabimento a pensamentos que têm mui difícil tomar forma material em nenhum outro sitio. A obra social de NovaCaixa nom costuma dar fundos para o lançamento de livros em reintegrado ou fazer palestras sobre o direito de autodeterminaçom. O perigo é que se tornem em clubes privados de independentistas, há que lutar para abrir as portas e as janelas de cada um deles, para dar-lhe a normalidade que deveria ter, que se debata fora das propostas oficiais sobre a realidade que a todos nos bate a diário. É difícil, e sei que se fam esforços neste sentido. Há que continuar a os fazer.
VRF: Por onde deve caminhar o reintegracionismo para alcançar a hegemonia social?
BL: Paciência e trabalho constante. A estratégia da tartaruga. Apoiar todo o que se faga em galego seja no galego que for (incluo aqui até as gheadas e os sesseios ademais do galego RAG) e dentro disso continuar a argumentar o porquê da nossa proposta, que no fundo é uma conclusom lógica á questom de como podo ajudar melhor a minha língua. Nós pensamos que abrindo as portas ao nosso espaço cultural natural que é a Lusofonia. Para o qual tam só é preciso uma pequena mudança ortográfica, que nom mata ninguém. Basta ler livros em galego editados em diferentes décadas do último século para ver como fomos espanholizando as nossas estruturas verbais, o nosso dicionário e mesmo a nossa ortografia. Se tudo isto se fijo de maneira “natural” também se pode fazer tam naturalmente de novo em sentido inverso (ou imerso, de imersom. Seria mais preciso dizer de contra-imersom).
VRF: Que visom tinhas da AGAL antes de te associares e que esperas da associaçom nos próximos anos?
BL: Um coletivo que trabalhava por permitir-nos viver um pouco no nosso idioma e por obter cada vez maior espaço vital para nós, os galego falantes. Vou-me permitir uma pequeninha digressom. Sempre estamos e nos estám a dizer galego-falantes, penso que haveria também que reforçar que esses mesmos galego-falantes somos à sua vez também galego-cantantes, galego-insultantes, galego-denunciantes, galego-doentes, galego-amantes, galego-leitores, galego-cinéfilos… É longo de escrever e de dizer, nom proponho fazê-lo sempre, porém sim recordá-lo de quando em vez para que nom se esqueçam de que nom nos imos conformar com que nos deixem falar a nossa língua arredor do lume como nos Séculos Escuros ou baixo a ditadura de Franco. Queremos viver em galego.
O que espero, pola minha parte, é poder pôr o meu grão de areia em que a AGAL continue por muitos anos alcançando os seus objetivos. Ainda que seja aos pouquinhos.
Conhecendo Bieito Landeira
- Um sítio web: Consulto a diário GalizaLivre e Diário Liberdade.
- Um invento: A câmara fotográfica. Gosto muito da fotografia artística. Quedo pasmado diante duma foto, em especial de estâncias vazias ou edifícios abandonados.
- Uma música: Sou bastante eclético, vou dizer melhor uma que nom tolero; a música comercial das rádio-fórmulas!
- Um livro: A Fuxida, de X. M. Martínez Oca
- Um facto histórico: A Revoluçom cubana.
- Um prato na mesa: Dam-se-me bem umas “verdinas” (favas pequeninhas de cor verde) com berberechos e nécoras.
- Um desporto: O ciclismo. Nom a nível profissional mas coma praticante. Esse sofrimento em silêncio que acarreta é realmente depurativo. Catártico!
- Um filme: Tasio, de Montxo Armendáriz. Ultimamente ando com a teima ruralista como resposta integral à nossa realidade no mundo graças aos trabalhos editoriais da Escola Popular Galega (“Recessom ou Colapso”, “Arredismo e Tradiciom”, “A defesa da terra”) Este filme é um contributo mais dentro desse argumentário. É tam galega…
- Uma maravilha: Escolher uma pedra em qualquer lugar afastado da Costa da Morte e sentar-se a admirar a imensidade do mar.
- Além de galego/a: Animal. Ia dizer pessoa ou humano, porém animal parece-me que me situa mais em equilíbrio com a terra. Algo que deveríamos recuperar quanto antes melhor, e que boa parte do humano da nossa condiçom nom nos deixa.
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