David Álvarez: “O futuro é das novas gerações. É uma grande notícia que exista a possibilidade de que nas escolas o estudantado entre em contacto com a variedade portuguesa”

David Álvarez é viguês, com pais e avós que lhe falavam em línguas diferentes, estudar línguas estrangeiras permitiu-lhe tomar consciência sobre a língua da Galiza.

O contacto com o galego internacional despoletou na Alemanha.

O seu TFM vai focar a implantação, real, da ILP Valentín Paz Andrade. É fã da Através Editora.

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David Álvarez é um viguês que, como muitos vigueses da sua geração, são filhos e migrantes, no caso de Ourense. Como foi o contacto com o galego na tua infância e adolescência?

O meu é o caso da maior parte das pessoas da minha geração em Vigo: uns pais que sempre me falaram em castelhano e uns avós que o fizeram sempre em galego. As horas que passei com eles, e as horas de Língua Galega na escola eram, por tanto, o meu único contacto com a língua.

Na hora de criar valor para a língua da Galiza numa pessoa da tua idade em Vigo, em que medida pode ajudar a estratégia internacional?

Não tenho certeza da medida em que poderia ajudar além de dar uma margem para a esperança. Se é possível que num ambiente tão desfavorável para o galego como são as grandes cidades da Galiza uma pessoa nova tome consciência da situação e tente ajudar a melhorar a situação acho que é possível que mais pessoas façam o mesmo no futuro.

A chegada à Universidade, a estudar Línguas Estrangeiras, ajudou a mudar o estado de cousas em relação ao galego. Em que medida?

Ajudou muitíssimo. Tive a grande sorte de contar com professores muito preocupados pelas línguas minoritárias e menorizadas, sobre tudo em contextos pós-coloniais. Para mim foi muito revelador assistir a palestras de professores dos Camarões, por exemplo, que explicaram a imposição da língua estrangeira sobre a vernácula, e olhar as inúmeras semelhanças com todo aquilo que os meus avós me contaram que tinha acontecido aqui e que ainda acontece hoje na nossa sociedade, por exemplo, com a diglossia.

O teu primeiro contacto a sério com o reintegracionismo foi no Erasmus na Alemanha, quando começaste a estudar Português e conviver com colegas brasileiros. Fala-nos dessa experiência.

A verdade é que é curioso que tenha sido na Alemanha onde tive as minhas primeiras aulas de Português (do Brasil) com uma professora do Porto. Por preguiça, ou se calhar por medo a reprovar e ficar sem os créditos, comecei no nível A2. Escuso dizer que a única dificuldade que achei, além das pequenas mudanças do vocabulário do Brasil, foi a ortografia. Eu já ouvira falar do reintegracionismo mas nunca lhe dera muita atenção, mas a necessidade fijo-me pensar que se podia tirar proveito do que sabia do galego mudando a ortografia, adiantaria muito trabalho. Assim, procurei informação na Net e conheci a AGAL e a Através, da qual gostei imenso pela qualidade dos seus livros, como “Do Ñ para o NH” e “101 falares com jeito” que me ajudaram muito nesse momento. A convivência com os colegas brasileiros foi incrível. Eles foram os primeiros surpreendidos quando olharam que podiam falar sem nenhum problema com um “cara da Espanha”. Foi uma experiência muito linda explicar-lhes o que era o galego e a Galiza, e descobrir neles expressões ou palavras que ouvira na aldeia, e também eu aprender muito da cultura e a variedade brasileira.

Agora estás com o Mestrado de Professorado de ESO, Bach, FP e EOI. Qual gostavas que fosse o foco do teu TFM?

Gostava de analisar a implantação real que a Lei Paz Andrade teve nos centros de ensino e a situação do português nos institutos galegos em comparação com Estremadura, por exemplo.

Em que medida a aprendizagem no ensino secundário da língua portuguesa, na sua variedade portuguesa ou brasileira, achas que é relevante para o progresso social e o prestígio da variedade galega?

Acho que é fundamental para mostrar todo o potencial que o galego tem e acabar com a diglossia. Depois cada um falará a língua que quiser, mas como mínimo permitirá mudar o preconceito de que o galego serve apenas para a Galiza e ajudar a acabar com uma política linguística que traz uns resultados péssimos como assinalam os dados. O futuro é das novas gerações, e por tanto acho uma grande notícia que exista a possibilidade de que nas escolas o estudantado entre em contacto com a variedade portuguesa.

Que visão tinhas da AGAL, por que decidiste subir-te ao navio e por onde deve rumar a associação?

Vi que a associação estava a fazer um trabalho muito ativo a favor da língua, com muita energia e entusiasmo. Ademais gostei muito dos títulos publicados pela Através, que achei sempre muito interessantes. Penso que o rumo tem de continuar mais ou menos igual, já que as ideias que defende a associação acho que estão a ganhar uma visibilidade e reconhecimento social muito grande nos últimos tempos.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?

Os dados dos últimos tempos não incitam a sonhar com um futuro muito otimista para a língua, e quanto mais se demore em mudar esta política linguística, mais difícil será o caminho. Porém, o simples facto de existir a AGAL e muitas outras pessoas na Galiza com um compromisso muito forte pela língua fazem possível que o sonho de mudar a tendência e ganhar falantes seja ainda possível. Mas para isso, infelizmente, muito trabalho tem de ser feito.

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Conhecendo David Álvarez:
Um sítio web: estraviz.org
Um invento: a bússola
Uma música: há muitas… qualquer uma de Caxade ou Ataque Escampe.
Um livro: Gente ao longe de Blanco Amor
Um facto histórico: o Big Bang
Um prato na mesa: francesinha
Um desporto: ciclismo
Um filme: Balada triste de trompete
Uma maravilha: Internet
Além de galego/a: curioso

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