Eduardo Fernandez Diaz é um estradense pseudo-neofalante. Na atualidade leciona galego e aspira a ensinar português no secundário. É otimista e escolhe pôr os olhos nas ativistas incansáveis que dia a dia fazem frente. Julga que o mundo de expressão em português é tão próximo dos adolescentes como, em muitas ocasiões, desconectado da sua realidade. Aspira a que galego não seja um resíduo folclórico.
Eduardo nasceu na Estrada num ambiente urbano e foi educado em castelhano mas, mesmo assim, não se define como neofalante.
Nasci na Estrada num ambiente urbano e até os sete anos criei-me lá. Na altura falava castelão. A família da minha mãe, apesar de falar sempre galego, decidiu criar as suas filhas na outra língua. É por isso que fui educado na infância nesta língua. Nos dias de hoje a minha mãe continua a usá-la maioritariamente, mas nem sempre. Aos oito anos mudei-me com os meus pais à residência da minha família paterna, no lugar de Cales. É uma aldeia muito pequena de Pinhor, perto de Cea. Na atualidade, os únicos moradores da aldeia são os meus pais. Aqui foi onde rapidamente mudei a minha língua. Poderia dizer-se que sou neofalante mas eu não o considero assim. A troca linguística esteve motivada pela influência do contexto que me rodeava. Ninguém fala castelão lá. Mesmo na escola não tenho lembranças de nenhum aluno que o falasse. Foi um processo adaptativo e inconsciente, mas isto também demonstra que o galego estava muito presente na minha vida, assim que, se tenho de dizer algo, diria que sou mais paleo que neo. Não posso atribuir-me a valentia e os esforços que muitos e muitas neofalantes fazem por defender e usar a nossa língua num processo tão complexo.Já na adolescência, por volta dos 13-14, comecei a entender realmente o significado de falar galego. Atualmente sou docente substituto de Língua Galega no secundário e a minha formação é, além do curso habilitante, a de filólogo. Já no grau tive aproximações á língua portuguesa e embora seja um desejo, num futuro lecionar aulas de português pode ser uma alternativa atrativa e mesmo realista.
Que te trouxo ao ares felizmente tumultuosos da adolescência em termos linguísticos?
A adolescência foi o momento que me deu luz para reconhecer o uso do idioma como ato político. Com a maior das minhas amizades, já na altura, conversava muito sobre isto, influenciados pelo seu irmão. Procurávamos que tudo o que fosse parar nas nossas mãos estivesse em galego, sobretudo música e literatura.
A língua deveu ser o bastante importante na tua biografia para teres feito o curso de Filologia e na atualidade seres docente substituto de Língua Galega no secundário. Que encontra um docente motivado nas aulas? O que o pode desmotivar?
Na casa sempre me disseram que fui uma criança com as ideias mui claras. Atualmente não sei se tanto, mas na adolescência já tinha determinado, entre alguma outra coisa, que me queria dedicar profissionalmente ao ensino. A isso somou-se o amor pela língua. A decisão não foi puramente vocacional, mas também não foi difícil.
Gosto imenso deste mundo e sinto-me mui realizado com o que faço. Tenho especial predileção pela energia da mocidade, por essa água que está a ferver. Gosto de entender os problemas do alunado, motiva-me. Penso que muitas vezes são tratados com condescendência e realmente as suas inquietudes não são mui diferentes das dos adultos.
Do que menos gosto é de certificar, quase diariamente, os ataques ao nosso idioma e o desleixo que as instituições têm pela sua saúde. A situação entre a mocidade é grave e estou seguro de que assim é como um setor político quer que seja. Porém, pertenço a um povo cheio de esperança e sou otimista. Prefiro pôr os olhos nas ativistas incansáveis que dia a dia fazem frente.
O teu contacto com o português começou no Grau de línguas e literaturas modernas e o teu desejo é lecionar português no secundário. Que te alicia a enveredar por esse percurso?
Gosto muito dos retos e ser docente de língua e literatura galegas é um deles. Há que lidar constantemente com preconceitos e mesmo com adultos que têm a consideração de que a língua e mesmo a disciplina é uma pedra no caminho académico dos filhos. No entanto, pode ser mui fatigante. Dar batalha nas aulas de português penso que é diferente, de algum modo há implicação e boa disposição. Estou certo de que a sobrevivência do galego passa pela lusofonia e por aproveitar as oportunidades que nos oferece. As aulas de português abrem um novo mundo para o alunado; um mundo tão próximo como, em muitas ocasiões, desconectado da sua realidade.
Eduardo estuda português na Escola de Idiomas, nível C2. Julgas que seria útil para todo o docente de galego ter este tipo de formação? Porquê?
Com certeza. A mais e melhor português, mais e melhor galego.
Qual seria a melhor forma de difundir socialmente que o galego é uma língua plurinacional, que não se reduz ao espaço espanhol?
Penso que há que concentrar os esforços, principalmente, na gente moça e aproximá-los a lusofonia no ensino. Devemos aproveitar o que supõe a Lei Paz Andrade e continuarmos a incentivar o ensino do português no secundário. Acho isto fundamental para descobrir ao alunado o imenso mundo de possibilidades que têm à beira, música, filmes, livros, jogos, streamers, youtubers… e não só, também abre portas no âmbito laboral sem terem de fazer nenhum esforço. Ainda persiste uma visão mui limitante da nossa língua quando realmente temos uma chave que permite abrir muitíssimas portas.
Porque te tornaste sócio da Agal e que esperas do trabalho da associação?
Precisamente porque foge dessa visão restritiva da língua. Eu tenho esperanças e passam pelo reintegracionismo. Espero da Agal que seja quem de achegar, como já sei que está a fazer, o galego e a lusofonia a gente moça.
Em 2021 somamos 40 anos de oficialidade do galego. Como valorarias esse processo? Que foi o melhor e que foi o pior?
Paradoxalmente nestes 40 anos de oficialidade em que o idioma se blindou mais que nunca também perdeu o maior número de falantes. Penso que realmente houve avanços mui importantes, mas ao mesmo tempo também se implementaram políticas deliberadas de destruição da língua. O melhor para mim a geração que medrou com o Xabarín Club e a valentia e convicção dos neofalantes que germinam dia a dia. O pior, Núñez Feijóo. Veremos se o atual presidente da Xunta não lhe tira esse título…
Como é que gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2050?
Livre de ataques por usar a língua própria. Isso no mínimo! A mais, com mais imersão linguística no ensino, com uma convicção social da língua como ferramenta útil equiparável a qualquer outra e não como resíduo folclórico. Com uma maioria de crianças e adolescentes a se desenvolver em galego.
Conhecendo Eduardo Fernández Diaz:
Um sítio web: Wikipédia
Um invento: os antibióticos ou a anestesia
Uma música: alguma de Tótem, de Narf
Um livro: À espera no centeio
Um facto histórico: a Revolução dos Cravos
Um prato na mesa: feijoada
Um desporto: futebol
Um filme: Les neuges du Kilimandjaro, de Robert Guédiguian
Uma maravilha: a natureza no seu conjunto e especialmente o mar
Além de galego/a: de aldeia