Eliseu Mera: «A música permite que se produza umha comunicaçom mesmo entre pessoas que nom falem a mesma língua»

Eliseu é músico dos pés à cabeça. É professor de Música no secundário e também cantante lírico. Tem feito estudos musicais nos Conservatórios Superiores de Vigo e da Corunha. Leva representado diferentes óperas e zarzuelas e colaborado com prestigiosos diretores musicais e mestres de canto e dedica umha especial atençom à cançom de concerto. Se querem seguir o seu ritmo, podem visitar a sua página web e conhecer muito melhor tudo o que ele faz.

Conversámos com ele acerca de tudo, mas especialmente da música e de língua. Quanto ao primeiro dos assuntos, Eliseu lamenta que «as possibilidades de poder desenvolver umha carreira na Galiza som inexistentes, pois o circuito profissional limita-se praticamente às programaçons vinculadas à Orquestra Sinfónica de Galiza e à Real Filharmonia da Galiza». No relativo à segunda, acredita que «o prestígio que a língua portuguesa foi ganhando nos últimos anos graças fundamentalmente à emergência do Brasil, pode ajudar a que tomemos consciência da verdadeira extensom da nossa língua e que se poda superar este processo de declive».

A vida do Eliseu gira arredor da música. Como e por que chegaste a ela?

O primeiro facto que lembro foi a primeira aula de solfejo à que me levarom os meus pais no Conservatório de Ourense com cinco anos. Ali estudei guitarra clássica, que foi o meu primeiro instrumento. Contavam-me que de mais novo já manifestava inquietudes musicais tentando fazer soar qualquer instrumento que tivesse próximo ou imitando os gestos dos diretores de orquestra que via na televisom.

Qual é a situaçom dumha pessoa que quer fazer estudos musicais profissionais na Galiza?

É muito melhor que a que tive eu. Daquela lembro aulas massificadas e voluntariosos professores formados num regime tam pouco amigo das artes como o franquista. A qualificaçom do professorado atual é em geral mui alta. Logicamente, umha pessoa que se queira dedicar profissionalmente deverá mover-se, nom por falta de preparaçom do nosso professorado, senom porque é necessário conhecer diferentes visons da música e do instrumento em particular.

Hoje em dia pode-se chegar a fazer da música umha profissom? E na Galiza?

É claro que se pode, mas as possibilidades de poder desenvolver umha carreira na Galiza som inexistentes, pois o circuito profissional limita-se praticamente às programaçons vinculadas à Orquestra Sinfónica de Galiza e à Real Filharmonia da Galiza. Também é certo que nom há nenhum músico que desenvolva umha carreira exclusivamente na zona que mora, a nom ser que seja membro dumha orquestra ou dum teatro de ópera com programaçom estável, coisa esta que nom há no nosso país.

Na atualidade estás a colaborar em dois projetos muito diferentes mas igual de interessantes. Por um lado, és um dos fundadores do Herbens Consort, grupo especializado em música do Barroco, que emprega instrumentos da época, e por outro, estás a trabalhar num programa de cançom galega junto com a pianista Elena Pérez Salas, onde pões voz a autores galegos como Marcial del Adalid ou Xoán Montes e a compositores como Fernando Buide, Javier López Rodríguez, Juan Durán, Juan Eiras ou Antón de Santiago. Que che está a aportar tudo isto?

Som duas atividades bem diferentes. O facto de trabalhar na música barroca produz-me umha dupla satisfaçom, a de poder juntarmo-nos um grupo de bons amigos e a de afrontar o repertório do período que constitui o ponto de partida para um cantante lírico. Com a cançom de concerto, a Elena e mais eu buscamos tanto difundir o repertório dos nossos clássicos, quanto dar a conhecer o trabalho dos compositores atuais e encorajá-los a que sigam escrevendo música vocal em galego.

Achas que há interesse em (dar a) conhecer os músicos e compositores galegos?

Eliseu Mera - YamadoriNom, mas a culpa nom lha boto exclusivamente à administraçom. Há um desconhecimento brutal de quem som os nossos compositores e compositoras mesmo em setores com inquietudes culturais e com ideia de país. Buscam os sucessores dos Adalid, Gaos, Montes na música folk, pop e nas suas variantes, seguramente porque lhes resulta mais cómodo ou estam nos seus círculos de amizades. Isto é um absoluto disparate para qualquer musicólogo, já que música culta e popular-urbana moverom e movem-se por caminhos diferentes. Conviria prestar-lhes atençom aos compositores que citaste na pergunta anterior, porque sinceramente penso que o merecem, e para que as próximas geraçons nom nos acusem de ingratidom com os nossos criadores.

Experiências como Cantos na Maré ou Aló Irmão evidenciam que os músicos vam um passo adiante na comunicaçom com as sociedades com quem compartilhamos a língua. Que tem a música de especial?

A música permite que se produza umha comunicaçom mesmo entre pessoas que nom falem a mesma língua. Se a maiores lhe sumamos a existência dumha afinidade linguística, a experiência resulta ainda mais gratificante.

Como chegaste ao galego? E ao galego internacional?

Ao galego cheguei praticamente no mesmo momento em que aparecim no mundo. Logicamente o passo de assumir umha posiçom mais reivindicativa dá-se posteriormente. Sempre considerei que galego e português som umha mesma língua mas considerava que a ortografia internacional podia ser um atranco para a sua normalizaçom. O certo é que a situaçom da língua é realmente dramática e precisa-se dar um giro decidido. O prestígio que a língua portuguesa foi ganhando nos últimos anos graças fundamentalmente à emergência do Brasil, pode ajudar a que tomemos consciência da verdadeira extensom da nossa língua e que se poda superar este processo de declive.

Como é a relaçom com a língua no âmbito profissional no que te moves?

No meu centro educativo o galego é a língua habitual da maioria do alunado e do professorado, se bem é certo que as políticas da Conselharia de Educaçom provocarom umha perda na presença da língua mui importante. E na atividade puramente musical, numha relaçom de bastante normalidade.

Quais foram as razons para te associares à AGAL e que esperas dela?

Basicamente contribuir a esse câmbio de rumo do que falava antes. Espero que seja umha ferramenta útil para lográ-lo e, a curto prazo, que me ajude a adaptar-me à ortografia internacional.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

Nom queda muito tempo. Como primeiro passo, conformaria-me com que a gente nom assumisse como normal contestar-lhe em castelhano a alguém que se expressa em galego.

Conhecendo Eliseu:

  • Um sítio web: galiciaconfidencial.gal
  • Um invento: O cuitelo (para cozinhar, entende-se)
  • Umha música: Don Carlo de G. Verdi
  • Um livro: Opiniões dum palhaço de H. Böll
  • Um facto histórico: O surgimento do pensamento ilustrado
  • Um prato na mesa: A empada
  • Um desporto: Correr
  • Um filme: The man who shot Liberty Valance de J. Ford
  • Umha maravilha: A ópera
  • Além de galego: Nom sou de me colocar etiquetas, sinto-o!

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