PGL – Gabriel Álvares associou-se à AGAL há pouco mais de um mês. Nascido no Carvalhinho, este expoente da geração de ’85 dedica-se à tradução ao tempo que prepara o doutoramento na Universidade de Vigo. No outono viajará para o Japão com uma bolsa de investigação e continuará a traduzir literatura japonesa. Entre os seus objetivos de futuro, traduzir algum manga para a nossa língua.
PGL: Para que os leitores te conheçam um pouco, por que não te apresentas, Gabriel?
Gabriel Álvares: Chamo-me Gabriel. Tenho 25 anos e sou do Carvalhinho. Faço um terceiro ciclo na Universidade de Vigo e também sou tradutor.
PGL: Sabemos que estiveste a morar em Paris. Na capital francesa teve alguma utilidade a nossa língua?
GA: Embora habitualmente utilizasse o francês, na minha estadia em Paris a nossa língua valeu-me para me comunicar com as francesas e franceses descendentes de galegos/as e portugueses/as que encontrei. No passado também morei uns meses em Bruxelas, onde fui com uma bolsa Erasmus, e em Newcastle-upon-Tyne, e em ambas as cidades conheci pessoas doutros países lusófonos que ficavam surpreendidos ao descobrirem um novo sotaque da sua língua. Na Inglaterra, onde dava aulas de espanhol em um liceu, tinha um aluno da Angola que se alegrou de me ter conhecido, já que desde que chegara à Inglaterra quase não tivera ocasiões de se exprimir em português.
PGL: Como chegaste ao reintegracionismo?
GA: Quanto à minha relação com a língua, as minhas primeiras palavras fôrom em galego (os meus pais são galego-falantes e sempre me falaram em galego). Mas, suponho que por influência doutra gente ao meu redor, quando estava no infantário mudei para o castelhano. Desde então falei castelhano até os 13 anos, mais ou menos. Eu sempre tivera vontade de falar galego, mas custava-me dar o primeiro passo, até um dia em que decidi começar falando-o na casa e, pouco depois, passei a utilizá-lo com todo o mundo em todos os âmbitos.
O meu primeiro contacto com o reintegracionismo foi quando comecei os estudos de Tradução e Interpretação na Universidade de Vigo. No primeiro ano, o professor Diaz Fouces (a quem estou muito agradecido) ministrava a disciplina de Linguística em galego reintegrado. Eu não sabia nada do reintegracionismo. Lembro que até então a única referência que vira fora no livro de texto de Língua galega no bacharelato. Ao princípio pareceu-me curioso e comecei a informar-me. Tinha os típicos preconceitos que se têm quando não se sabe (“a gente nas aldeias não fala assim”, etc.) e no primeiro ano não fiquei convencido. Mas continuei a cismar, ler e informar-me até ver o evidente. A partir de então aprendi a escrever e interessei-me mais polo resto da Lusofonia (eu sempre viajara muito por Portugal com a minha família nas férias).
Durante os estudos tivem algum outro professor reintegrata, como o professor Garrido e o professor Peres Rodrigues. Acho que se não tivesse estudado Tradução e Interpretação em Vigo e algum dos professores reintegracionistas não me tivesse dado aulas, provavelmente nunca teria aderido ao reintegracionismo. Por isso cumpre espalhá-lo mais entre a sociedade, nem só no âmbito académico. Nesse sentido, o papel da AGAL, e de todo o movimento reintegracionista em geral, é fulcral.
PGL: Qual era a tua visão da AGAL antes de te associares? Que esperas conseguir dela?
GA: A minha visão da AGAL antes e depois de me associar é a de uma associação de gente muito comprometida com a língua que trabalha arreu e de maneira desinteressada. Associando-me quero aderir de facto à causa e conhecer nova gente com as mesmas ideias.
PGL: Quais são os teus projetos de futuro na tua área de trabalho?
GA: Ainda não tenho claro o que vou fazer no futuro, mas por enquanto no mês de outubro vou para o Japão (a Kobe) com uma bolsa de investigação para ficar lá um ano e meio (se calhar, um bocado mais). Entretanto, também vou continuar a traduzir literatura japonesa. O meu sonho é chegar a ser um bom tradutor. Também gostaria de traduzir algum manga para o galego-português.
PGL: Sabes que a nossa língua está na moda cada dia mais. Em muitos lugares vêm de anunciar que se vai converter na segunda língua do ensino, embora na Galiza pareça não entrar definitivamente. O que opinas sobre isto e como achas que poderia mudar?
GA: Acho absurdo que, no mínimo, não se ofereça o português como língua optativa em mais centros. Creio que o desconhecimento (mútuo) entre a Galiza e o resto da Lusofonia é um atraso que cumpre superarmos. É inconcebível, por exemplo, que ainda não se receba a televisão portuguesa. Sinceramente, com este governo que temos (e provavelmente com qualquer outro) duvido que vá haver alguma mudança, por isso são tão importantes as iniciativas particulares. Acho que a maioria dos galegos não está realmente consciente das vantagens e o potencial da nossa língua e aí é que deve começar tudo. É preciso abrir mentes e derrubar preconceitos.
PGL: Para acabar, gostarias de dizer algo aos nossos leitores e leitoras?
GA: Como assinalaram outros entrevistados, creio que desacreditarmos outras normativas da nossa língua e criarmos confrontos é contraproducente. Há melhores táticas para fazer com que o pessoal abra os olhos. Por último, para os que não estejam ainda convencidos, gostaria de dizer que a reintegração nos permite conservar o nosso e abrir-nos ao mundo.
Conhecendo o Gabriel
- Um sítio web: A Regueifa
- Um invento: futebolim/matraquilhos
- Umha música: O mundo é um moinho, de Cartola
- Um livro: As vinhas da ira, de Steinbeck
- Um facto histórico: a Marcha do Sal na Índia em 1930
- Um prato na mesa: polvo à feira do Carvalhinho
- Um desporto: o pingue-pongue
- Um filme: Anjos caídos, de Wong Kar-Wai
- Umha maravilha: o Reguengo (Concelho de Ramirás), a minha aldeia
- Além de galego: melomaníaco
Cartola e o seu pai