José Fiz Pousa, carteiro em Vigo

PGL – José Fiz Pousa,  é raioto, natural da comarca do Vale Minhor . Ele trabalha como carteiro e no seu dia a dia encontra-se com pessoas de diferentes países, misturando às vezes várias línguas na sua jornada de trabalho. Morou fora da Galiza vários anos onde percebeu que podia entender-se com portugueses, brasileiros falando na sua língua. Chegou ao reintegracionismo através do Portal Galego da Língua.

És natural da comarca do Vale Minhor,  como foi o teu contacto com a língua?

Eu sou natural desta comarca e tenho a minha morada bem perto da Raia. O meu contacto com a norma internacional foi por Internet na procura de informaçom, das diferenças do galego “oficial” e o histórico. Aqui conhecim O Manual de Iniciaçom à Língua Galega de Maurício Castro e também o Léxico da Galiza, entre outros. Tenho aprendido mais galego em Internet do que na escola.

Atualmente trabalhas em Vigo, é possível viver em galego nesta cidade?

Vigo é umha cidade cosmopolita na atualidade. No centro da cidade a língua com mais utentes é o “castelhano”, digo entre aspas porque às vezes sem dar-se de conta empregam palavras autenticamente galegas. Nos bairros é umha mistura, “castrapo” ou “portunhol”. Já nas paróquias a gente idosa fala galego ao seu jeito e a mais nova castelhano com o seu sotaque da zona. Em geral podemos dizer que o castelhano é o mais utilizado pola gente e polos meios de comunicaçom; imprensa, rádio e televisom. O galego é mui escasso e com muitas gralhas. Nom há vontade política de mudar este rumo em todas as cidades e vilas importantes da Galiza.

És funcionário público dos correios de profissom pelo que tens que falar com muitas pessoas.  Qual é a presença do galego no dia a dia no teu sector?

No meu centro de trabalho fala-se na maioria em castelhano, eu misturo ambas as línguas no centro de trabalho e na rua. Como na rua tens gente de muitas nacionalidades às vezes tens que utilizar também o inglês. Agora bem, sempre tento falar de jeito a respeitar os usuários, para isso tenho a condiçom de funcionário público, que muitos/as funcionários/as nom respeitam. A única vez que tive um problema em galego foi com umha pessoa que ao ler umha carta que vinha de Portugal, a pessoa dizia nom entender o que eu lia, mas foi um caso raro de umha pessoa conflituosa com todo o mundo. Eu escrevo em galego internacional e até o de agora nom tive problemas com a gente (quando tenho algo de tempo dou algumhas aulas de galego). O que vejo a diário é que a Justiça emprega quase tudo em castelhano e o pouco que vem em galego é castrapo. A Xunta de Galicia utiliza muito o castelhano nos seus escritos. Muitos/as dos funcionários tenhem um nível mui pobre na nossa língua e em geral nom respeitam as línguas estrangeiras, digo isto, pois algumha vez tive que corrigir algum funcionário por ler mal outras línguas europeias, próximas à nossa. Isto demonstra o nível tam baixo em línguas que temos.

Lembras em que momento preciso descobres que o galego é mais do que te ensinaram na escola? Ou foi um processo gradual?

Morando fora da Galiza falava mais galego do que na própria Galiza, e foi aí onde mudei  por completo. Ao ter brasileiros, portugueses e de outros países lusófonos falava com todos eles em galego e fazia de tradutor para o resto de espanhóis . Isso de que o galego fora da Galiza nom serve é umha mentira que se dá na sociedade galega numha camada que está bem cómoda com que nada mude.

Na tua opiniom, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilizaçom?
Na minha opiniom é que deve de haver mais contactos com as diferentes camadas da sociedade. Os cursos nas escolas e os cursos on-line som necessários mas deve haver mais contactos com as associaçons de vizinhos, nos centros dos nossos idosos. Contactos mais próximos com toda a sociedade em geral, para apagar essa falsa ideia de que o castelhano tem mais sucesso que a nossa língua que é também internacional e de muito prestígio.

Que visom tinha da AGAL, que a motivou a se associar e que espera da associaçom?

Eu tinha ouvido da sua existência até que encontrei a página na Internet. Quando fum lendo, vim que os seus sócios/as vinham de todos os sectores da sociedade galega. Este foi o motivo de unir-me ao projeto no qual acredito.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

É difícil  ter umha visom de futuro mas acredito que as pessoas primeiro tenhem que mudar a falsa ideia de que o galego é umha língua para falar com os de aldeia, é o maior pejamento, quando um galego culto e bem escrito tem mais futuro para criar emprego, riqueza na nossa terra sem ter que seguir emigrando. Temos um potencial enorme que invejam outras línguas. Para rematar, desejo ver em breve as TV´s  portuguesas e as outras legendadas nas línguas originais para ter um nível em idiomas “um pouco mais decente” que é de vergonha.

Conhecendo José Fiz Pousa

  • Um sítio web: O dicionário Estraviz, todos os dias.
  • Um invento: A internet.
  • Umha música: A música celta e as B.S.O. dos filmes.
  • Um livro: Vilardevós (o meu primeiro livro em galego, norma RAG) e O Livro do Dessassosego (o meu último livro, norma original).
  • Um fato histórico: A queda das torres gémeas (estava fora da Galiza)  seguida da crise de agosto de 2007 (estava em Portugal), estamos a viver um momento histórico com grandes mudanças ao tal modelo de “bem-estar” que nom chegou como em outros países da Europa do Norte.
  • Um prato na mesa: Caramelas (navalhas) ao forno, polvo  grelhado, empada de lulas…
  • Um desporto: Caminhar e a pesca em gamela (apanhar a serradela).
  • Um filme: Tenho muitos na cabeça, desfruto muito do cinema, todo o que seja histórico ou de fatos reais.
  • Uma maravilha: Os canons do Minho e Sil.
  • Além de galego/a: As Causas Sociais, agora mais do que nunca.

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