Raul Rios: «Dizer reintegracionismo e dizer movimento normalizador é quase o mesmo»

PGL- Raul Rios, é natural da Corunha. Jornalista, esteve de bolseiro em El País e atualmente colabora com o Novas da Galiza. Ao começar a colaborar neste jornal chegou às suas mãos um exemplar do livro Do Ñ para o Nh de Valentim R. Fagim, desde entom escreve em reintegrado. Está a estudar português na EOI de Compostela e fez curso on-line Escrever.com.Nh e o aPorto.

 

Quando começaste a ser utente no galego? O que te decidiu para dares o passo?

Sou da Corunha e criei-me num ambiente castelhano-falante. Tanto na escola como na casa, o único que ouvias era castelhano, salvando o Xabarín Club da TVG, o meu avô e certas matérias escolares. Comecei a minha transiçom para o galego quando tinha uns 16 ou 17 anos e cheguei já sendo monolíngue ao meu primeiro ano de universidade em Compostela.

A minha motivaçom, num primeiro momento, foi fundamentalmente cultural. Entendia o nosso idioma como umha riqueza da que somos responsáveis e beneficiários, mas que se via ameaçada polo sempre hegemónico castelhano. Daquela ainda nom via o galego como umha língua internacional, mas sim apreciava a sua utilidade na Galiza; nom só como ferramenta comunicativa em muitos contextos nos quais o castelhano nom seria eficiente, mas também como elemento de coesom social e identitário.

És corunhês. Como é o dia-a-dia de um galego-falante na Corunha?

Acho que semelhante ao dum viguês em Vigo! Recordo que Xurxo Souto dixera umha vez numha palestra que Corunha é a cidade com mais galego-falantes do país. Logicamente, a armardilha estava em que ele estava a falar em termos absolutos, nom relativos. A grandíssima parte da mocidade emprega como única língua o castelhano e muitas vezes nem sequer som capazes de se desenvolver em galego; ainda no caso de existir vontade por fazê-lo. Cumpre solucionarmos isto.

Acho que seja complicado, num primeiro momento, comunicar-se numha língua que ocupa umha posiçom social tam marcadamente secundária como é o galego na Corunha. O galego-falante de menos de 50 anos vai acompanhado de estigmas: ou es nacionalista ou vens de “além-Arteixo”. E nom passa só na Corunha, quando digo que som     corunhês, algumha gente pregunta, “mas da Corunha… Corunha?”, “sim”, “ah! Pois que raro que fales galego!”.

E mais difícil é naquelas faixas de idade nas quais o comportamento é mais gregário, leia-se a adolescência. Se o grupo de colegas ou a tua turma fala em castelhano, há que ter bastante personalidade e vontade para falar galego; mas é precisamente nesses grupos de colegas onde mais necessário é potenciar a língua própria para que seja percebida como algo normal. Depois vais vendo como alguns desses amigos começam a empregar o galego para falar contigo e levas umha alegria. Paga a pena e há que se atrever!

Fizeste práticas num diário comercial em espanhol, o El País, e colaboras também com umha publicaçom nom comercial em galego, o Novas. Quais som, para ti, as principais semelhanças e diferenças?

Aqui poderia-se pronunciar umha tese doutoral. Hei de reconhecer que a delegaçom de El País Galicia nom tinha muito a ver com a central madrilena. Sempre tivem bastante liberdade tanto na escolha de temas como nos critérios a seguir na elaboraçom das informaçons, só me davam bons conselhos dos quais aprendim muito.

O Novas da Galiza nom pertence a um grupo de empresas com participaçons do banco Santander. A liberdade é absoluta dentro da amplíssima linha editorial que pomos nós e as leitoras.

E já fora das linhas editoriais, umha publicaçom mensal como o Novas tem a vantagem de nom depender da estrita atualidade. Isso permite pôr o foco nos temas mais relevantes e fazer umha reflexom mais profunda que permita ver o fundo da realidade, compreender todo aquilo sobre o que os grandes meios vam dando pequenas informaçons ao longo do mês.

Tanto a linha editorial como a periodicidade permitem que os temas tratados sejam escolhidos de forma diferente. Sempre terám o seu lugar as diferentes iniciativas dos movimentos sociais, as perspetivas económicas contrárias ao discurso dominante, a cultura ou os desportos vistos com óculos galegos ou também, por exemplo, a visom internacional da nossa língua. É difícil atopar estes temas noutros meios.

O jornalismo é um dos ambientes em que mais dificuldades para viver em galego?

Só basta com ver a pronúncia de certos jornalistas da TVG ou em que idioma falam fora de câmara! Brincadeiras a um lado, acho que as dificuldades só estám à hora de se relacionar com a audiência, o que é um problema. Simplesmente, todos os “grandes” meios deste país estám em castelhano e nom podes desenvolver o teu labor na tua língua. Jornalistas galego-falantes escrevendo em castelhano para leitoras galego-falantes, eis um dos enigmas deste País ou umha prova de que o galego continua vetado de muitos âmbitos da vida pública.

Outra cousa é o idioma no qual sejam dadas as conferências de imprensa ou no qual tu consultes as fontes, que no meu caso sempre foi o galego excepto quando estas eram estrangeiras (e de nengum país lusófono). Aqui nom há problema. Tampouco há problema para se comunicar com companheiras ou mesmo gente que está hierarquicamente acima de ti; nom se reproduzem as discriminaçons que sim se dam noutros ofícios. Acrescentaria, de facto, que a mim ter um bom nível de galego permitiu-me desenvolver labores de correçom ou de traduçom tanto em El País como numha revista de cooperativas agrárias.

Por onde achas que deve caminhar o reintegracionismo e o movimento normalizador?

Dizer reintegracionismo e dizer movimento normalizador é quase o mesmo. Explico-me: apesar de ser obviamente dous conceitos diferentes, acho que ambos devem ir da mao para terem sucesso. Nem o reintegracionismo tem sentido se ninguém fala já galego nem imos conseguir que a gente fale galego cumha visom que circunscrever a língua à Comunidade Autónoma da Galiza. Nom importa quantas conferências ou livros financie a Secretaria Geral de Politica Linguística entretanto nom tivermos isto claro.

Numha guerra um bando tem que usar todas as armas e recursos dos que dispuxer. No nosso caso e no contexto da mundializaçom, umha das armas, se calhar um míssil, é ter umha língua falada por mais de 200 milhons de pessoas e em cinco continentes. Como nom imos aproveitar-nos dessa realidade para potenciar o galego na Galiza? Qualquer diretor de planos estratégicos que trabalhe para umha grande empresa diria-che que estás tolo se nom o fixesses.

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associaçom?

AGAL deve ser das poucas associaçons ou coletivos deste País que nom tem um carimbo partidário, o que de sempre me transmitiu credibilidade e confiança. O único interesse é potenciar a língua, no qual, porém, sim que há muito de político. Antes de me associar fixem o curso Escrever.com.nh e também fum aos aPorto deste ano. Como pode ser que com tam poucos recursos se podam fazer tantas cousas! Acho que todo o mundo tem algo com que contribuir, por isso me associei. Também, hei de reconhecer, o desconto em livros de Através Editora foi um importante incentivo.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

Gostaria de poder ir tomar o almoço a um café e ver vários jornais em galego na mesa, de poder ver filmes produzidos ou legendados no nosso idioma nos cinemas ou na televisom, ou de os livros em galego nom estarem na seção de “línguas estrangeiras” em El Corte Inglés. Que qualquer rapaz ou rapariga que finalizar a escola tenha todas as competências linguísticas necessárias para se desenvolver em galego tam bem como no castelhano, sabendo que se podem comunicar na nossa língua com mais de 200 milhons de almas, que diria hoje Castelao.

Conhecendo Raul Rios

  • Um sítio web: O IGE (http://www.ige.eu/web/index.jsp?paxina=001&idioma=gl), com todas as suas eivas.
  • Um invento: A imprensa de tipos móveis de Gutenberg!
  • Uma música: O punk em geral ou o grupo Os da Ria em particular, que nom som punk mas eles som mui punks.
  • Um livro: Os dez dias que abalaram o mundo, de John Reed.
  • Um facto histórico: O plebiscito do Estatuto de 1936.
  • Um prato na mesa: Alheiras do Porto.
  • Um desporto: Matraquilho.
  • Um filme: Star Wars (as seis).
  • Uma maravilha: A Cidade da Cultura?
  • Além de galega: Precário!

Comentários estão fechados.