Tánia Ribadulha : “Espero que o galego-português se torne oficial junto com a norma atual, deixando-o à livre escolha de cada quem”

img-2647Tânia Ribadulha nasceu falando em galego mas a escola, citadina neste caso, tornou-a castelhano-falante. Felizmente, na adolescência regressou às origens e vive o galego como uma língua internacional.

O seu pequeno passo está a provocar pequenos movimentos ao seu redor.

Quer trabalhar na ONU e formar-se em direito humanitário.

Estudou um ano de bacharelato nos EUA e quer um futuro sem preconceitos sobre a nossa língua.

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Os pais da Tânia são de Mogia mas ela nasceu e cresceu na Corunha. Qual era a língua da casa?

Na casa sempre falamos galego, nom só meus pais como também os meus avôs, tios etc. Considero-a a minha língua materna já que foi a primeira que aprendim e falei. Lembro, como anedota, que mesmo adoitava ver os desenhos animados em galego no Javali clube! Alguns dos meus amigos também tenhem pais que falam galego apesar de que eles falem castelhano, penso que é verdadeiramente preocupante como o ensino e a vida fora da casa tenha tanta influência, é um grande reflexo da degradaçom da língua e a imposiçom do espanhol.

A chegada ao ensino formal muda o estado de cousas. É difícil conservar a língua quando os teus iguais falam castelhano?

Nom é doado, a mudança ao castelhano foi obviamente inconsciente dado que eu só tinha 3 anos. Ao chegar ao colégio todos os professores e companheiros falavam-no e conforme medrei comecei a utilizar o galego só na casa. Empregava o castelhano nom só com os meus amigos, mas em qualquer situaçom formal como ir a umha loja ou no médico . De todas as formas, apesar de nom empregá-lo, nunca reneguei dele e o meu respeito e carinho pola língua foi sempre muito grande. Se coincidia com gente da minha idade que o falasse mudava imediatamente de idioma. Desgraçadamente isto raramente ocorria. Nas cidades polo menos, o castelhano é maioritário, tanto oral como escrito. É difícil manter a língua galega “em sociedade” quando uma torrente castelhanizante o domina tudo, ademais de nom ser suficientemente protegida polos professores e centros de ensino.

Felizmente, recentemente tomaste uma decisão importante ao respeito. Como foi o processo? Como foi sentido polos teus iguais? E polos adultos que te rodeiam?

A ideia reintegracionista chegou-me por meio do meu pai, ensinou-me como ler com as grafias galego-portuguesas e explicou-me alguns dados históricos para compreender porque existem diferentes normas do galego. Eu sempre gostei de saber disso, mas foi a partir de 3° da ESO quando realmente me interessei e comecei a estudá-lo. Recordo um dia na classe de galego desse ano letivo que estudando as cantigas medievais comecei a reconhecer algumhas das regras do reintegracionismo e saber lê-las graças ao que me ensinara meu pai. Episódios como este alentavam-me a seguir aprofundando nas normas do galego-português e a defesa do idioma. Comecei a empregá-lo mais ativamente, levou-me tempo e o uso foi medrando aos poucos.

Dado o estigma que há ao redor do idioma eu esperava que os meus amigos nom se acostumassem ou que começassem os típicos comentários depreciativo ao respeito. No começo empregava-o com os meus amigos mais próximos. A maior parte deles dirigem-se a mim em galego para se comunicar. Mas finalmente no ano passado comecei a utilizá-lo em todos os ámbitos em que fosse possível.

Contudo, tenho que reconhecer que a mudança de língua (ao respeito do espanhol) nom trouxo o efeito que eu pensava, mas todo o contrário. Muitos dos meus amigos aplaudírom a minha decisom e inclusive comecei a notar um ligeiro contágio no emprego do idioma por parte deles. Em geral, a gente mostra respeito polo idioma, alguns professores que adoitam dar aulas em Castelhano dirigem-se a mim em galego e mesmo me recordam o direito de fazer o exame na língua que eu escolher. Apesar de nom o falarem, respeitam-no.

Tânia aspira a se tornar advogada em direito humanitário. Como te imaginas nessa responsabilidade?

O meu desejo e poder ajudar em certo modo a quem o precisar. Sempre que me perguntam se algumha outra licenciatura ou rama do direito me interessa, que seja mais “realista”, eu respondo que sim, que há muitas outras do meu interesse mas que para acabar com um posto na ONU o melhor é estudar direito humanitário. Se quadra, o de chegar tam alto é algo muito ambicioso, porque desde o ano que comece o curso até que por fim comece a trabalhar muitas cousas podem mudar. Mas na atualidade gostava de fazer parte dumha ONG ou dum sindicato.

Porque decidiste tornar-te marinheira do navio agálico?

Meu pai leva sendo sócio desde há muitos anos e propujo-me ser sócia também ao ver que mostrava interesse na norma galego-portuguesa. Considero que fazendo parte dumha associaçom como a AGAL contribuo a fomentar o galego-português apesar de que normalmente nom o posso usar pois na escola, atualmente, só nos deixam empregar as normas ILG-RAG.

Tânia vive o galego como sendo uma língua internacional. Como nasceu essa vivência? Como se vive numa pessoa da tua idade?

Agora mesmo parece que só vale a pena falar aqueles idiomas que som oficiais nos países ricos. Esta é, na minha opiniom, a pior parte da globalizaçom. Absorvemos todo o estrangeiro e centramo-nos em nos preparar para postos de trabalho, se possível, internacionais. Isto nom é mau, tudo o contrário, eu sou partidária da ideia de compartir a cultura de mim mesma e aprender sobre as demais, isto leva acontecendo desde o começo dos tempos e é o que lhe atribui riqueza cultural a um povo. O problema é que desenvolvemos umha tendência a substituir o nosso polo recém importado doutros lugares. Leva-nos a tachar o próprio como arcaico e antigo, até o ponto de que consideramos que nom podemos desempenhar um alto cargo se a nossa língua nom for das mais faladas do mundo. Isto leva à perda dumha grande quantidade nom só de idiomas, mas também de culturas . Algo do mais formoso que podemos criar, o que nos permite ser diferentes e ter identidade de povo.

Eu creio que podemos combinar ambos os extremos do espectro, falar galego e desfrutar dos nossos costumes à vez que aprendemos de novas culturas e idiomas e nos preparamos para um futuro laboral que cada vez exige mais. Desgraçadamente ainda carregamos com o estigma de que se falamos galego deixamos ver que “ nom estamos bem formados” ou de que pensem que “nom sabemos falar outra cousa”. Som preconceitos dos que só nos podemos desfazer se começamos a empregá-lo e reivindicá-lo como um idioma tam válido como o castelhano.

No ano passado estiveste nos EUA com uma bolsa para estudar 1º de BAC. Assim sendo, o galego-português, o castelhano e o inglês fazem parte da tua vida. É a escola galega quem deve fornecer esta riqueza linguística? Na atualidade, está-o a fazer?

O inglês aparece no nosso sistema educativo como mais importante que o galego, o que me parece insuficiente para desempenhar um “bom trabalho”. O nosso idioma empregasse quase como umha língua arcaica que só aparece ou se emprega nos manuais escolares. Creio que definitivamente deveria haver um uso mais ativo do galego no ámbito escolar, por parte do professorado mas sobretudo por parte da Junta. A exigência em castelhano é maior, nom tanto na aulas do dia a dia, nas nas provas mais importantes como é a seletividade. Ademais, nom se nos achega informaçom sobre o porquê o galego vive a precária situaçom atual. A norma galego-portuguesa nom é nomeada en nenhum livro e nom se fomenta davondo a ideia do português como umha língua internacional com que o galego se quer normalizar e reintegrar para a sua defesa.

Há que entender que umha palestra de umha hora nom é davondo para achegar o potencial do reintegracionismo a gente da minha idade; umha proposta como esta necessita ser respaldada polo sistema educativo.

Temos que pensar que esta grande castelhanizaçom deu-se apartir de que se implantasse o ensino obrigatório e este fosse completamente em castelhano. A educaçom é a base das futura geraçons, se se criarem em galego, estas falaram-no aos seus filhos e desta forma cultiva-se a língua.

A “fotografia linguística” da Galiza na atualidade é a que é. Como gostavas que fosse em 2040?

Gostaria ver os preconceitos linguísticos completamente extinguidos e que a gente se orgulhe de o falar. Que se incrementasse a publicaçom de livros em galego e que a música em galego estivesse na moda, tanto dá o estilo. Espero que o galego-português seja empregue por um maior número de pessoas e que se torne oficial junto com a norma atual, deixando-o à livre escolha de cada quem.

Conhecendo Tânia Ribadulha img-2575

Um sítio web: Instagram, eu nom publico muito (em nenhumha das minhas redes sociais) mas encanta-me descobrir novos perfis com boas fotos ou um estilo original.

Um invento: a imprensa

Uma música: Gosto de quase qualquer género, mas tenho umha certa predileçom polo rock. Encantam-me as músicas norte-americanas e Británicas dos anos 50 e 60, quando começou o rock, como por exemplo The Beatles. Também costumo escuitar grupos como Nirvana ou Pearl Jam. No ámbito galego gosto muito da música de SÉS.

Um livro: Manual de iniciaçom à língua Galega, de Maurício Castro. O meu primeiro contato com o reintegracionismo foi com este livro

Um facto histórico: A carreira espacial

Um prato na mesa: A tortilha de patacas, os croquetes e a empanada som as minhas comidas favoritas

Um desporto: Agora mesmo nom pratico nemhum desporto, mas figem nataçom muitos anos e a verdade é que o acho em falta.

Um filme: Forrest Gump é um dos meus filmes favoritos porque fai umha viagem pola história contemporánea dos EUA, acrescentando detalhes da sua cultura pop. A lista de Schindler é outro dos meus filmes preferidos.

Uma maravilha: O faro Tourinhám

Além de galego/a: Além de galega, sinto-me mui corunhesa e mogiá, e nalgumhas ocasions, europeia.

 

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