Xosé Antón Lebedynski nasceu numa aldeia do concelho corunhês que não existe mais. O seu avó, daí o apelido, era galego mas da Áustria-Hungria. O seu salto para o galego internacional foi facilitado no âmbito das aulas de gaita. A sua terapia é a música. Julga que a educação é a área principal em termos de estratégias em volta da língua.
Xosé Antón nasceu num aldeia, A grela, em São Cristóvão das Vinhas. Muito tem mudado a paisagem física e linguística desde então, não é?
Desgraçadamente sim! No caso de ter sobrevivido esta aldeia hoje, seria uma das mais formosas às portas da cidade da Corunha. O seu ambiente, como o seu nome indica, estava cheio de leiras, leirões, regatões, lavadouros, rios, fontes… e boa gente.
Mais uma vez, a industrialização de finais dos anos 50, começos dos anos 60, causou estragos. Percorrer hoje em dia pela zona, ainda é duro! E já passaram mais de 30 anos. As pessoas foram indo embora e abandonando aos poucos a aldeia até que finalmente, ao redor dos anos 90, o último reduto foi destruído sem piedade, a nossa casa. Lamentável e muito doloroso golpe! A minha avó, finalmente, teve a sorte de finar felizmente na casa onde nasceu.
Como era o mapa de línguas da tua família na tua infância?
Pela parte materna, que foi onde eu me criei, a minha avó, Elvira, era a que falava o galego com os meus pais e resto do mundo. Connosco, @s net@s, às vezes também falava, mas outras era nesse forçado castelhano que ela tinha, e muitas das vezes não sabíamos se se estava a rir de nós ou ia a sério… Uma grande lutadora da vida e uma pessoa de grande importância sem dúvida para nós!
Os meus pais, era raro nos falarem em galego, a minha mãe, quando não se fazia o encomendado, puxava do galego a discrição.
Pela parte paterna; o pai nasceu cá, na Fortaleza, entre a Silva e Vionho, na Corunha. O meu avô paterno era da zona da ‘Galitzia Austro-húngara’ que daquela era território polaco, e ao parecer nasceu lá, na Polónia. Era mecânico/eletricista naval, e daí decidi continuar a profissão.
A sua fala era em castelhano, difícil era para ele falar o galego apesar de falar quatro línguas, e daí que @s filh@s adotassem esse costume de falar, e o nosso pai fez o mesmo connosco.
A tua formação foi em Mestria Industrial elétrica, depois eletrónica e trabalhaste no ramo elétrico em varias empresas. Qual a presença da nossa língua nesses espaços?
A dizer verdade, falava-se mais ghastrapo e castelhano do que outra coisa.
Havia companheiros que sim eram das aldeias nas redondezas; Vimianço, Arteijo, Carvalho, Coristanco, Maçaricos…esses sim que falavam por defeito o galego com sotaque próprio da zona, não de neo-falantes como nós, com sotaque da “Coru total”, “neno que flipas eh”…! 🙂
Segundo foram passando os anos fui mudando com algum insurgente e que já se reclamava berrando aquilo de … ‘Galiza, Nazón, Autodeterminazón’ bons tempos de conquista e revolução, que hoje em dia certas “pessoas” enterram o conquistado, e já bem sabemos de quem falamos, não é?
Como foi o processo de aportar na língua galega? Existiram cais o bastante recetivos?
Existiram. Alguns d@s professores do centro de trabalho escolar em Cambre onde fui contínuo muitos anos, já usavam o galego por defeito. É isso apesar de que naquela altura ainda andavam às voltas com as normativas da RAG, que muit@s deles não aceitavam de bom grau. Acho que havia mais reintegracionismo do que hoje em dia.
Posso dizer que foi um salto bastante simples. Porém, o mais definitivo foi o professor de gaita! 🙂 Dizer que falo, escrevo e uso esta língua de jeito autónomo e do melhor jeito que posso, porque considero que o português é a parte culta do galego. Vou aprendendo, lendo, escrevendo, escutando rádio e olhando tv portuguesa, porque no campo que me rodeia pouc@s estão de acordo com @s reintegrad@s.
Mas não me importo, porque sou dos que pensam e acha que é melhor tentar fazer, que não fazer nada ante tanto abandono pela parte dos podremias que dizem “representar-nos”.
Gostas dos desportos e da música tradicional que é como um medicamento.
Certamente os desportos foram sempre importantes para mim. A escalada, bicicleta, correr e nadar principalmente. Agora por causas de acidentes vários quase não faço nada, apenas passeios. Por isso a minha terapia é a música.
E foi também a música a espoleta para aderires ao reintegracionismo. Como é o teu contacto com Portugal e com o português?
Pois sim, a música foi o alvo definitivo, ou melhor dizendo o professor e amigo de gaita. Grande em todos os aspetos, porque ele foi estudante de filologia portuguesa, e foi também a bússola indicadora do rumo a tomar para não seguir a RAG!
Gosto muito de Portugal, e vamos lá sempre que podemos várias vezes ao ano. E aquilo de… menos mal que nos fica Portugal… pois isso, sobram as palavras.
Por onde julgas que deveria transitar o reintegracionismo para avançar socialmente?
Sem dúvida alguma, pela política de educação do “Governo da Xunta” que dizem representarmos. Na consciência do professorado, desde o primeiro dia da escolarização e, na casa certamente, é muito importante! Se não há consciência do nosso, com a gente nativa daqui que diz representar-nos mal vamos! Finalmente chegaram os marcianos e decidiram o que fazer e o que falar, tristemente.
Porque decidiste tornar-te sócio da Agal e quais as tuas expetativas?
Por simples convicção, quando nascemos é por, e para algo. Eu como não nasci para político, pois faço a minha própria luta ao meu jeito.
Uma delas é através da música no que fui vogal da AGG (Asociación de Gaiteiros Galegos) no seu dia há 20 anos. E outra, tentando fazer o difícil labor de consciencializar as gentes com a língua. E depois com coisinhas do quotidiano, que também são importantes…tudo soma a prol!
Em 2021 somamos 40 anos de oficialidade do galego. Como valorarias esse processo? Que foi o melhor e que foi o pior?
Boa pergunta! Pois acho que o processo não tomou o caminho adequado. O pior é que a Lei Paz Andrade, não se está a cumprir. O melhor é que as pessoas que a defendemos, algumas, ainda estamos cá para defendê-la!
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2050?
Que todo o mundo usasse a nossa língua reintegrada na fala com diferentes sotaques. E a escrita, que considero é a parte culta do galego, seja a oficial.
Conhecendo Xosé Antón:
Um sítio web: https://pt.wikipedia.org
Um invento: a rádio
Uma música: gosto de quase todas; folque, rock, jazz, blues em geral menos do regueton latino que não entendo e não aguento!
Um livro: pois este último que estou a ler… A criada está a ver, Freida Mc Fadden
Um facto histórico: a 2ª República espanhola
Um prato na mesa: caldo de nabiças e refeição japonesa e mexicana.
Um desporto: gosto do desporto em geral, o futebol destes tempos não aguento. Mas de escolher um só, Escalada na montanha.
Um filme: Uma mente maravilhosa
Uma maravilha: a matriz feminina… Uma coisa tão delicada e mesmo tão poderosa.
Além de galego/a: tantas coisas… Que haja paz, ou tão só quiçá tranquilidade.