Xurxo Troncoso toca no grupo de percussom “Trópico de Grelos”, o Brasil foi determinante para se tornar galego-falante e adora adora a naturalidade, curiosidade e singeleza com que os miúdos das suas aulas lêem e cantam em galego-português, mesmo sendo muitos castelhano-falantes.
Xurxo Troncoso é, entre muitas outras cousas, músico. Os músicos estám a ser a vanguarda da estratégia luso-brasileira no mundo cultural. Concordas?
Pode ser, eu nom som especialista para fazer tamanha avaliaçom mas acho que noutras eiras artísticas como na literatura a paranóia isolacionista é maior.
Xurxo Troncoso toca em Trópico de Grelos, um grupo de percussom que acompanhou o bloco da AGAL na manife do dia 17. Como foi a experiência?
Ótima, juntar o trabalho e a paixom com os teus princípios é maravilhoso. Outra cousa é o resultado mais técnico que muito pode melhorar (ri).
A percurssom é um animal musical que alimenta o nosso corpo. Qual a sua saúde na Galiza? Há mais grupos como o vosso?
A percussom é como o teatro infantil ou os títeres versus teatro, imerecidamente “consideram-se” menores. Acho que ainda imos em cueiros, precisamos de muitos German Diaz (por exemplo) que quebrem com as lindes, com o minifundismo musical, com os compartimentos estanques que engaiolam os instrumentos… (que fermoso ouvir umha sanfona fazendo jazz, e porque nom? um tamboril, umhas cunchas…).
E é verdade, há mais grupos, nos últimos dez anos aproximadamente surgírom agrupaçons, blocos, etc. e algum festival especializado como o ‘Merza Percussion’ ou o ‘Bate–Batuke’ onde mostramos entre outras cousas isso, novas bandas de percussom a surdirem na Galiza. Para quando um Coetus galego?
O Brasil e a percussom… que lindo par, nom é?
Eu conhecim um Brasileiro que nom tocava percussom (ri).
O Brasil é música, um Amazonas de música e a música é umha metáfora da sua idiossincrasia.
Como foi o teu processo de passagem da condiçom de castelhano para galego-falante?
Tem duas facianas: Da infáncia, som neto ”dos Montecchios e dos Capuletos de Ponte-Areias” e da Guerra Civil espanhola (uns de direitas que falavam castelhano e outros de esquerdas que falavam galego); já sabedes para onde tirei eu. Quando cheguei à Universidade começou o meu conflito, pois eu falava castelhano mas começava a tomar consciência e dividia-me. Curiosamente na emigraçom em Madrid, no ano 88 mais ou menos, tentei mudar o nome de Jorge para o de Xurxo [Jurjo] que já decidira na Galiza (a peripécia nos julgados foi patética), depois tomei contacto com o movimento reintregacionista e comecei a tê-lo claro. A volta do Brasil foi determinante.
Quando tomas consciência de que o galego é mais do que te ensinaram na escola?
Eu fum, acho, a primeira geraçom que estudou galego e a primeira mestre que tivem foi umha maravilha. Ela sementou as contradiçons que depois resolveria na Universidade. A antropologia cultural, o conhecimento do ser humano através do teatro, da arte, levárom-me polos vieiros dos feitos diferenciais, do património imaterial, de amar a língua.
Por que caminhos pensas que deve transitar a estratégia reintegracionista? Que se está a fazer bem?
Estou aí mas nom conheço bem o interior do tema. Sinto que devemos achegar-nos ao povo ao máximo. Som necessárias obviamente as palestras, os estudos etc., mas a cidadania tem que perceber quotidiana a nossa presença. Apoiarmo-nos em artistas para que fagam presente a sua condiçom. E, claro, retranca, humor, arte, criatividade.
Que visom tinhas da AGAL, que te motivou para te associares e que esperas da associaçom?
Fiquei surpreendido quando voltei do Brasil do caminho que tínhades percorrido, sentim-me muito afim. Conhecim os companheiros que compartilhávamos com naturalidade e surdírom muitas conexoms que estimo. Tenho convicçons que o caminho é certo.
Como gostarias de que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?
Eu som positivo, as cousas vam mudando e a bola de neve cresce (meu pai, que é da velha direita, escuitou a Ugia Senlle num Alalá e alucinou, fijo-me umha moreia de perguntas), com os seus amigos do PP fala castelhano mas comigo agora fala galego, que era sua língua natal.
Conhecendo o Xurxo Troncoso
Um sítio web: O Estraviz, imos lá ver se aprendo algo.
Um invento: Gosto das pessoas que contribuem com algo de novo.
Um livro: A Origem das Espécies.
E mais livros: Muita poesia, Manuel António; Ricardo III de Shakespeare, O Barom nas Árvores de Italo Calvino.
Umha música: Som omnívoro, Galiza, Brasil, Cuba… Gosto quando o erudito se junta com o tradicional. Adoro música de rua. Peter Hammill, Caetano, Antonio Zambujo…
Um facto histórico: As revoltas irmandinhas
Um prato na mesa: umha centola
Um desporto: Cantos de taberna
Um filme: “Underground”
Umha maravilha: Um furancho onde se cante
Além de galego: Um bocado de silêncio … e depois do silêncio só João.
Nom suporto: Os pais galego-falantes que falam castelhano aos filhos.
Tenho certeza: E adoro a naturalidade, curiosidade e singeleza com que os miúdos das minhas aulas lêem, cantam etc. em galego-português (sendo muitos castelhano-falantes).
Acredito: Na soma nom na divisom, no conhecimento .