Mario Moirón, neofalante e informático na Bélgica

Mario Moirón foi fundador de Lixo Urbano e A Calexa e agora mora na Bélgica onde ser galego foi umha vantagem competitiva. Trabalha como informático e acha que a internaciolizaçom das culturas e da comunicaçom vai facilitar a hegemonia da estratégia reintegracionista.

Mario Moirón foi um dos fundadores da distribuidora musical Lixo Urbano, junto o também sócio da AGAL, Alberte Leis. Que lembranças guardas daquela época?

Lembranças muitas e boas, era uma época cheia de ilusom, muita vontade de fazer cousas, de tentar criar umhas estruturas que nom existiam para ajudar as bandas galegas a publicar os seus trabalhos e tentar criar meios de promoçom, distribuiçom, concertos … para essas mesmas bandas. Pode que nom chegasse a ser todo o que pretendíamos mas acho que foi o berço de muitas cousas que acontecérom também ao nosso redor.

Também foi umha oportunidade de conhecer a muita boa gente de interesses similares por todo o país, nom só musicais, mas também com vontade de mudar algumha cousa na sociedade (foi sempre um dos objetivos de Lixo Urbano, já nom só o plano musical) e bom, acho que dessa época ficam sobretudo muitas boas amizades e boas lembranças.

Levas vários anos a morar na Bélgica. No teu primeiro trabalho tinhas de atender o telefone em inglês bem como em português de Portugal. Como foi a experiência? Como se vive sendo galego-falante em Anderlecht?

A verdade é que era mais português do Brasil (São Paulo) que de Portugal (risos), foi umha grande experiência e mais um motivo para ter claro que o reintegracionismo é o caminho para a supervivência e para achar uma grande utilidade para a nossa língua no mundo. Nesse trabalho pediam falar 4 línguas distintas, e havia 4 espanhóis e 6 galegos entre quase 1000 pessoas que trabalhavam ali, evidentemente ter um bom domínio do galego, e um conhecimento da grafia e léxico reintegracionista foi uma grande ajuda para poder passar as provas de português, mesmo quando eu figem a entrevista e pedim desculpas polo sotaque, o homem que estava a entrevistar dixo que nom era problema, que já conhecia mais gente da Galiza e era muito melhor ter um galego-falante que num mês teria um bom sotaque e perceberia quase-tudo, que um estrangeiro que tivesse estudado português, porque a este sempre lhe faltaria um aquele, por ser uma língua alheia, mesmo para perceber o humor da gente.

Em Anderlecht, como no resto de Bruxelas vive-se bem com independência da língua de um. Umha das cousas que mais me seguem a impressionar é o facto de que quase um 80% da populaçom da cidade seja estrangeira, que cria um ambiente muito cosmopolita (num sentido positivo do termo), há umha mistura de culturas incrível, mesmo umha quantidade grande de gente com muito interesse por fazer cousas. Nunca há tempo para ver/fazer todas as cousas que um tem vontade, tanto a nível da cultura oficial coma alternativa que tem umha riqueza tremenda com misturas latino-americanas, africanas e de todas as partes da Europa.

Mario é neo-falante. Quando e por quê dás o passo para o galego?

Na casa sempre fum criado nas duas línguas, minha mae falou sempre castelhano e meu pai era galego falante desde criança. Penso que no começo tinha umha melhor relaçom com a minha mae e isso influiu, em quanto comecei a ser mais independente, na mocidade passei para o galego e comecei a ter mais consciência da nossa cultura e doutros problemas que havia na sociedade. Ademais, viver num sítio como Viveiro (onde ganhava e por muito AP e mais tarde o PP) falar galego era um pouco “posicionar-se” perante de algumas ideias.

Demorou muito a tua passagem para o galego-português?. Que te motivou a viver o galego como sendo extenso e útil?

A verdade que em Viveiro daquela nom havia muita informaçom das distintas posturas, os professores que tivem no bacharelato mudavam de normativa cada ano (eram tempos bem estranhos) mesmo os professores reintegracionistas que tivem nom ajudavam a que a gente tivera umha perspetiva do problema que estava a viver a língua.

Só com a chegada a Compostela em 1988 pudem receber muita mais informaçom e ler argumentos claros de umha e outra possiçom, e começar a clarificar as ideias. Mesmo Alberte foi uma influência grande quando a gente começou a falar de todas estas cousas que nos preocupavam na época. Acho que nom houve nada especial que motivara a minha posiçom reintagracionista, simplesmente, depois de ler/escuitar argumentos a favor ou/e contra pareceu-me a única postura com sentido para a umha supervivência do galego no futuro, e para que fosse realmente umha língua viva e útil, na Galiza e fora dela.

Mario geriu o local A Caleja durante muitos anos. Como recebia o teu círculo de amigos e a tua clientela o uso do galego-português?

Mesmo no caso de empregarmos nós próprios o nome acastrapalhado “Calexa” (o nome vinha por uma ruela de Viveiro) sempre tivemos umha postura ativa e militante, de apoio o galego e mais o galego-português (2 dos 3 sócios éramos “reintegratas”) e penso que tanto a maioria dos amigos ou clientela no ambiente que havia na zona velha de Compostela tinha umhas posturas muito parecidas às nossas.

O teu trabalho atual está ligado ao campo da Informática. Como técnico, como visualizas o trabalho da AGAL no âmbito da Internet?

Evidentemente a rede é (ia dizer o futuro, mas seria errado) o presente, ainda mais para associaçons minoritárias ou com pressupostos limitados, as possibilidades de dar a conhecer informaçom, de permitir a colaboraçom imediata desde pontos geográficos distintos, de facilitar ao fim e o cabo o aceso a umhas ideias para todo o que tenha interesse por elas que dá a Internet é algo que cumpre aproveitar e polo que há que apostar sem dúbida nengumha.

A aposta na Internet tem sido uma das mais claras nom apenas da AGAL como do reintegracionismo. Qual achas que deveriam ser as linhas a seguir para difundir que a nossa língua é Mundial?

Penso que as linhas atuais som as corretas, tem de ficar claro para qualquer pessoa que o galego pertence o sistema lingüístico da lusofonia e que isso significa ter umhas possibilidades muito grandes de abrir caminhos polo mundo, e mais enquanto o Brasil siga a ser um dos países emergentes no panorama da economia atual. A gente tem de saber que ser bilingüe com um bom nível de galego-português e espanhol é já umha vantagem respeito o resto das pessoas do estado.

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te tornares sócio e que esperas da associaçom?

Bom, a visom que tinha foi sempre a da associaçom que esta a fazer o trabalho que cumpre para a supervivência do galego. Nom canso de repeti-lo, acho que estamos num momento muito mau para a língua, vendo como se perde entre a gente nova e a pouca importância que se lhe dá a este dado.

O motivo de me tornar sócio foi um pouco tentar contribuir sequer nas quotas de sócio para ajudar a associaçom já que nom fago muito mais para ajudar a resolver esta situaçom.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

Gostaria de ver que entre a juventude há umha maioria de galego falantes, isso seria umha boa nova de cara o futuro e tenho certeza que quanto maior seja o número de falantes ativos mais debate haverá da grafia e as normas gramaticais que se deveriam seguir, isso num contexto de internacionalizaçom das comunicaçons e das culturas como o que se está a produzir neste momento deveria levar claramente a que o reintegracionismo acabara sendo a postura oficial e aceitada maioritariamente, porque é o natural dentro do sistema lingüístico que pertence o galego e pola sua utilidade clara perante o isolacionismo.

Conhecendo Mario Moirón:


  • Um invento: A música
  • Umha música: Muito difícil responder só umha: “Quero durmir” dos “Samesugas”, “Quero ser avó” dos Fame Neghra, “Evil power of rock and roll” dos Supersuckers, “No fun” dos Stooges, alguma dos Kortatu, dos Clash, dos Negu Gorriak, Hellacopters…. bufffff !!!
  • Um livro: A risco de soar “freak”: “O senhor dos aneis” de Tolkien, também gostei sempre muito de “Merlim e familia” de Cunqueiro (no mesmo tema).
  • Um facto histórico: A declaraçom da II República no EE (esperemos poder ver a declaraçom da III)
  • Um prato na mesa: O “polvo à feira” (e nom é brincadeira, é o meu prato favorito, é bem dificil encontrar bom polvo em Bruxelas, mesmo para cozinhar um mesmo)
  • Um desporto: Futebol e basquetebol para olhar, tênis de mesa para jogar.
  • Um filme: Difícil dar uma resposta aqui também: “Terra e liberdade” de Ken Loach (e toda a sua filmografia como cinema social), como puro divertimento: “Clerks” de Kevin Smith, “Reservoir Dogs” de Tarantino, “Aberto até o mencer” de Robert Rodriguez, a trilogia do “Senhor dos anéis” de Peter Jackson… e muitos outros.
  • Umha maravilha: A vida
  • Além de galego/a: Cidadao do mundo, do Celta e do Barça

Comentários estão fechados.