Alexandre Rios: «Na EOI apercebim-me de que o reintegracionismo é muito mais do que usar umha ortografia mais razoável: é a única estratégia possível para a regeneraçom plena da língua na Galiza»

PGL – Alexandre Rios é de Cangas, músico amador de jazz, estuda física, os mínimos levaram-no aos máximos e a Escola Oficial de Idiomas (EOI), em que estuda português, pujo os pontos nos is. Alexandre tem-no claro: «estudar português é redescobrir a nossa língua».

Portal Galego da Língua: Alexandre Rios nasceu no Morraço, em Cangas e é falante de berço. Contrastando com o presente, mudou muito a fotografia lingüística relativamente à língua dos miúdos e das miúdas em Cangas?

Alexandre Rios: Quando eu era criança, poucas das minhas companheiras e companheiros falavam a nossa língua, e hoje a situaçom piorou ainda mais. Umha diferença importante é que naquela altura o galego era ainda a língua maioritária entre os pais e maes, mesmo que nom o falassem aos pequenos. Hoje, no entanto, a referência da nossa língua para muitos miúdos começa a ficar já na geraçom dos avós.

PGL: O teu primeiro contato com o reintegracionismo foi através dos mínimos. Quando e como começaste a te interessar polo tema?

AR: À casa dos meus pais chegavam revistas e folhetos escritos nessa normativa. Isso fijo-me reparar em que muitos coletivos propunham um modelo de língua mais aberto à lusofonia. Com 13 ou 14 anos comecei a utilizar os mínimos, também na escola nalguns trabalhos e exames. Nesse sentido, acho que o facto de esses grupos sociais terem abandonado esta opçom tornou mais invisível para a sociedade o conflito que existe entre apostarmos pola lusofonia ou ficarmos no isolamento.

Alexandre numha fotografia tirada nos Ancares

PGL: A professora e música Isabel Rei foi umha pessoa importante neste processo de conscientizaçom.

AR: Pois é, fum aluno da Isabel no conservatório de Cangas, tinha eu dezasseis anos. Lembro que as aulas de história da música com a Isabel eram às sextas, ao fim da tarde, e muitas vezes partilhávamos o caminho de volta. Trazem-me boas lembranças aquelas conversas de música, mesmo de astronomia… e também de língua, claro. Isabel emprestou-me bons livros, abriu-me a novas ideias, e foi depois dessa interaçom com ela que resolvim aprender e utilizar a norma da AGAL.

PGL: Alexandre estuda português na Escola de Idiomas de Compostela. Que estás a aprender nas suas aulas? Recomendas estudar português nas EOI?

AR: Deixas-me responder com um exemplo? Minha bisavó, sendo eu criança, perguntava-me muito polo Celta. E que vai, em terceiro ou em quarto? Quando lhe ouvia isso, eu achava que ela falava mal, que nom usava bem as preposiçons porque nunca tinha ido à escola. Até que estudei português nom compreendim que minha bisavó conservava essa e muitas outras expressons genuínas, que se estám a perder pola pressom do castelhano, mas também porque o modelo oficial nom tem o português como referência. Na Escola de Línguas apercebim-me que o reintegracionismo é muito mais do que usar umha ortografia mais razoável: é a única estratégia possível para a regeneraçom plena da língua na Galiza. Recomendo-o, sem qualquer dúvida: estudar português é redescobrir a nossa língua.

PGL: Foi a música também, por meio do Zeca ou o Fausto que te fijo reparar na internacionalidade da nossa língua. Que tem a música que chega aonde nom chega o texto?

AR: Quanto à internacionalidade da língua, acho que às vezes umha música vale mais do que mil palavras. A boa música embala e seduz. E no meu caso, ouvir o Zeca, o Fausto, o Caetano ou o Jobim mostrou-me com naturalidade que as falas de Portugal ou do Brasil nom som estrangeiras para as galegas e os galegos.

PGL: Adoras a música, adoras as línguas mas estudas… Física… é possível combinar áreas tam diversas?

AR: E por que nom? Acho mui enriquecedor as pessoas nos interessarmos por questons diferentes e diversas. Isso implica tomar contato com outras perspetivas, outra gente, com formas diferentes de ver as cousas.

PGL: Que te motivou a te tornares sócio da AGAL? Que esperas da associaçom?

AR: Motivou-me o meu desejo de me associar, de ficar a conhecer companheiros e companheiras com quem aprender e contribuir para a causa de um galego extenso e útil.

Conhecendo Alexandre

  • Um sítio web: http://translate.google.pt/, muito útil
  • Um invento: a bicicleta
  • Umha música: Ó minha amora madura, do Zeca
  • Um livro: qualquer um de Saramago
  • Um facto histórico: a guerra civil espanhola
  • Um prato na mesa: amêijoas à marinheira
  • Um desporto: o futebol
  • Um filme: O Estrangeiro, de Orson Welles
  • Umha maravilha: a alegria
  • Além de galego/a: celtista

 

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