Bernal Vilela, corunhês, viageiro e licenciado em Ciências do mar e Ciências ambientais

PGL – Bernal Vilela, corunhês de 31 anos, acha que a sua cidade natal tem uma fama que condiz com a realidade, viageiro incansável, o seu despertador foi Moçambique e pensa que as ondas do mar falam majoritariamente em galego. Agora mora em Nova Déli com a sua companheira italiana.

Bernal Vilela nasceu numa família extensa marcada polo galeguismo.

Faço parte duma família numerosa e unida, que sempre teve um compromisso muito importante com o galego e Galiza. Um compromisso que, principalmente na geração anterior à minha, viu-se traduzido numa intensa militância política durante muitos anos, em que invertenhem muitas forças e ilusões.

Todos os primos que nascemos na Galiza fomos educados em galego e mesmo os que nasceram fora da Galiza e viveram e vivem longe do noroeste peninsular falam e escrevem na nossa língua quando nos comunicamos entre nós, o que acontece frequentemente.

Estudaste Ciências do mar em Vigo e Ciências ambientais em Bilbau e estiveste vários meses embarcado. Moraste em Senegal, em Moçambique e agora na Índia. O que se diz um homem de mundo.

Sempre gostei de viajar, e se o podo fazer trabalhando ainda melhor. É uma boa maneira de aprofundar na realidade dos países. Trabalhando com as suas instituições dá-te, mesmo em pouco tempo, uma boa ideia de como é o seu dia a dia, como vivem, como interagem… Tive a sorte de poder conhecer assim o Senegal e Moçambique. As experiências embarcado permitiram-me comprovar que as ondas do mar falam majoritariamente em galego (pelo menos em Terranova e no Pacífico Sul), era um prazer subir á ponte dos barcos e ouvir toda aquela música falada saindo da radiofonia, partilhando os diferentes canais com línguas orientais. Agora estou a morar na Índia, vim seguindo a minha companheira que trabalha aqui.

Há muitas pessoas que descobrem que a nossa língua é extensa e útil em estadias em Portugal ou no Brasil. Para ti o país-despertador foi Moçambique.

Sim, tive a grande sorte de poder morar lá e fui um autêntico abrir de olhos. O sotaque moçambicano é muito menos pronunciado que o português de Portugal, percebesse perfeitamente. Na minha família os meus irmãos e algum tio meu, gente que aprecio muito, sempre defenderam a grafia reintegracionista ou mesmo portuguesa e ouvi alguma que outra conversação com este motivo. Mesmo assim, eu nunca o tive tão claro, tive que experimentar de primeira mão esta realidade para me dar conta. Em Moçambique alguma vez perguntaram-me se era do Brasil, ainda que suponho que a cor da pele ajudaria, era motivo de grande satisfação. De qualquer maneira tenho que reconhecer que ainda não escrevo nesta normativa, mas é uma questão de preguiça, não de convencimento.

Achas em falta recursos didáticos em diferentes formatos que facilitem essa passagem?

Creio que não sou o mais ajeitado para respostar esta pergunta já que não tenho muitas informações ao respeito. Sei que existe algum recurso didático, mas tens que ter interesse no tema para poder saber deles, não estão muito promovidos.

Acho que falta informação nas escolas e institutos sobre as diferentes sensibilidades que há em volta do galego. Mesmo se há professores que simpatizam com o reintegracionismo e falam dele, eu nunca ouvi a nenhum dos meus professores mencionarem nada sobre outra normativa que não fossem a oficial.

És monolingue em galego tendo nascido na Corunha. Como viveste este facto?

Com naturalidade e combatividade. Na minha casa sempre se falou em galego, quando tive consciência do valor da língua comecei a falar em galego com toda a gente. Aproveitei a entrada no instituto, com 13 anos, para dar o passo adiante. Ainda recordo os risos nas aulas, quando passando lista e depois de termos ouvido a toda a gente dizer “yo” eu, que sendo Vilela era o último, respondia com um “eu”, mas eram risos de cumplicidade. Acho que os companheiros valoravam ouvir nas aulas a língua que ouviam nas suas casas, mesmo se eles só falavam em espanhol. Alguma que outra vez encontravam-se pessoas que fingiam não perceber, mas eram as menos. A Corunha, devido a nossa historia recente, tem muito má fama quanto ao uso do galego más mesmo se se ouve pouco na rua a atitude da grande maioria dos cidadãos com respeito ao idioma não é negativa.

Vais ter uma filha (os nossos cálidos parabéns). Os seus pais falam várias línguas. Será imensamente rica neste sentido.

O certo é que ainda não sabemos se vai ser menina ou menino. Na Índia está proibido por lei determinar o sexo das crianças para evitar que os pais abortem no caso de estar gestando uma menina. Assim que esperaremos ao nascimento para sair de dúvidas.

Esperamos que a criança fale muitos idiomas mas as suas línguas mãe serão o galego-português e o italiano. Entre nós falamos galego-português pelo que a criança ouvirá a maioria das vezes esta língua. De qualquer maneira quando fale bem estes dois idiomas, e se continuamos a morar longe da Galiza, a minha ideia é falar-lhe também espanhol para que aprenda o maior número possível de idiomas. É um imenso prazer fazer-te entender num idioma que não é o teu próprio e os dois queremos que @ noss@ filh@ o experimente.

Tiveste uma breve estadia em Goa, que nos podes contar?

Estivemos em Goa procurando a tranquilidade que Nova Déli não dá (aqui há muito, muito barulho) e afinando o ouvido ver se ouvíamos gente falando em português. Que nos encontráramos nos cinco dias que passamos lá? Gente fica muito pouca, só demos com um indiano que falava fluidamente o que foi um imenso prazer. Perguntando aos mais jovens diziam que o português era coisa dos idosos, eles agora estão mais preocupados aprendendo os idiomas dos turistas que vão lá para tirar mais proveito econômico das suas estadias. Ainda assim ficam muitos vestígios da época colonial: os nomes das ruas em português, alguns dos apelidos dos habitantes e uma maravilhosa arquitetura.

Que visão tinhas da AGAL e porque te associaste? Que esperas da associação?

De AGAL não tinha uma visão muito determinada, sabia que estávades a fazer um trabalho interessante promovendo o galego-português. A minha afiliação é consequência duma evolução lógica, depois de render-me ante a evidência da similitude do galego com o português oral, não percebo porque a grafia oficial, mesmo se melhorou na sua última versão, continua a beber das fontes do espanhol. Acho que a AGAL defende a normativa mais ajeitada. Outra motivação para me associar é o pouco que podo fazer no dia a dia pelo galego morando longe da mátria, parte do que posso fazer é apoiar iniciativas como a vossa, que defende o uso da melhor das normativas e, evidentemente, o uso do galego.

Que linhas estratégicas pensas que devia seguir o reintegracionismo?

Acho que existe uma grande desinformação e muito preconceito sobre o reintegracionismo, que se vai vencendo com o bom trabalho que muita gente faz. Seria ótimo que se pudesse informar e convencer o maior número de pessoas para que chegassem a abraçar esta opção.

Conhecendo Bernal Vilela

 

 

  • Um sítio web: Páginas de informação sobre o que acontece no mundo.
  • Um invento: Internet
  • Uma música: A do Zeca Afonso, por exemplo: Fui à beira do mar.
  • Um livro: Les Justes de Albert Camus
  • Um facto histórico: Mesmo com as suas coisas negativas, a criação da União Européia.
  • Um prato na mesa: Grelos com folhados e molho de tomate ao forno (da minha mãe).
  • Um desporto: O futebol
  • Um filme: Paradise Now de Hany Abu-Assad
  • Uma maravilha: Toba, a minha aldeia.
  • Além de galego: Viageiro

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