Maria Xosé Castelo Lestom, umha ruralista a morar na cidade

PGL – Maria Xosé Castelo Lestom nasceu em Compostela, descobriu a internacionalidade da sua língua em Paris, é umha ruralista a morar na cidade, tentárom convencê-la de que o reintegracionismo era o maligno mas como é agnóstica não acreditou.

Maria Xosé aterrou mui recentemente no galego internacional numha travessia prolongada. Por que a aterragem foi assim tam demorada?

Foi uma questom de indecisom, cada vez que dava o passo alguém aparecia com um argumento em contra que me impedia tomar a (auto)determinaçom de atirar-me ao mar da lusofonia. Tinha a duvida de que passaria depois de dar o salto, et voilá, nom se passou nada, o mundo gira, o sol saiu polo leste, e continuo entendendo-me com a minha gente de sempre, mas agora tenho a vantagem de me entender também sem maior problema com gente de Minas Gerais, de Évora ou de Monsanto.

Quando descobriste que o galego era algo mais do que diziam os manuais escolares e o estatuto de autonomia?

Numa viagem a Paris, lá conhecim alguém, um moço de origem portuguesa, com quem me entendim desde um primeiro momento falando eu em (suposto) galego e ele (suposto) português, mais já advertim que algo estava a passar, se eram línguas distintas e afastadas, como pretendia o ILG-RAG, como era que nos entendíamos, se eu nunca aprendera português e ele nunca pisara a Galiza?

Para além de reintegracionista, professas outros ismos e ages em vários coletivos. És capaz de dar conta de tudo?

Algum restará, mas confesso ser ecologista, nacionalista, independentista, feminista, e desde há tempo tento implicar-me no movimento vanguardista (sim, existe) de liberaçom animal, ainda sem ter logrado ser vegana, mas estou no caminho, e apesar de viver num meio urbano, som ruralista convencida.

Neo ou paleo?

Paleo, desde fai 33 anos. Minha nai di que falei mui cedo, que quase nascim falando, e graças a ela e a meu pai, figem-no sempre em galego. Tem o seu mérito, eu nascim em Compostela, passei lá os primeiros 6 anos da minha vida, depois partimos para Muros, e lá estivem até os 18 anos quando voltei a Compostela. Muros é uma vila castelhano-falante, e no instituto distinguiam-se as pessoas da paróquia de Muros-Vila das do resto das paróquias do Concelho, galego falantes na sua maioria, mas desde sempre vim com orgulho o facto de ser galego falante. Muito antes de ter consciência politica, já entendia o galego como um jeito de me diferenciar do resto.

Um preconceito comum é achar que os reintegracionistas são urbanos e neos e os isolacionistas rurais e paleos. É mesmo assim?

É. essa era a ideia que eu tinha também, daquela, até havia o argumento de que os “reintegratas” nom eram mais do que os seguidores duma moda, que o dia que essa moda acabasse, eles deixariam de apoiar o galego e voltariam “ao seu estádio natural”.

Moras e trabalhas em Culheredo. Como é viver em galego nessa vila?

Moro em Culheredo, mas trabalho desde há quatro anos em Lugo, um lugar que adoro, e onde encontrei algo que já cria perdido, o orgulho do mundo rural, de todo o que está ligado à terra. O facto de viver em galego em Culheredo? Bom, nom podes evitar sentir-te às vezes em minoria, mas ainda assim há uma diferença de abismo entre Culheredo e a Corunha, apesar dos escassos 6 km que nos distancia. Antes, quando trabalha na Corunha, sim que me tinha sentido mal. Lembro uma entrevista de trabalho onde o entrevistador me perguntou porque uma moça preparada e “estudiada” como eu, falava galego!!!

Que linhas pensas que som mais estratégicas para irradiar o reintegracionismo? Como pensas que podemos chegar melhor ao resto da sociedade que nom vive a nossa língua como a vivemos nós?

Comunicaçom, publicidade, abertura, nom predicar cara aos conversos. Visto de fora, a associaçom nom se publicita tanto como deveria, bem sendo um ente um algo escuro, e só mui contadas pessoas vam ir até a associaçom, no resto vai ser esta quem tenha que ir até as pessoas para fazer-se ver. Bom, o mal diagnostiquei-no logo, agora só me faltaria encontrar o remédio…

A AGAL trabalha muito e bem, mais dum jeito um tanto “endogámico”, as atuaçons deviam encaminhar-se mais ao publico “profano”. Isto é fundamental para que as pessoas perdam esse medo atávico e irracional que tem cara ao reintegracionismo. E cuido que os neo-falantes ou melhor, os futuros neo-falantes, som o sector imprescindível para a nossa expansom.

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associaçom?

Bom, os isolacionistas que conhecia tentárom convencer-me de que erades o Maligno, e pouco menos que comíades os nenos crus, mas a minha tendência a questioná-lo tudo impedia-me acreditar nesse facto sem ter provas prévias.

Quando me convencim de a Galiza, Portugal, Brasil, Angola… falavam a mesma língua, apoiar a associaçom que pretende a sobrevivência dessa língua no nosso pais pareceu-me a postura mais lógica.

Conhecendo Maria Xosé Castelo Lestom


  • Um sítio web: o blogue de IND (Implicadas no desenvolvimento)
  • Um invento: as redes sociais
  • Umha música: Just a perfect day, de Lou Reed
  • Um livro: Só um? Bem, pois L´Étranger, de Camus
  • Um facto histórico: o ano 68 (em Paris, em Praga, nos EE.UU…)
  • Um prato na mesa: caldo de cabaça
  • Um desporto: kick- boxing, sem dúvida, é uma das cousas que me mantenhem em pé.
  • Um filme: La nuit américaine, de Truffaut.
  • Umha maravilha: a vista da ria de Muros do alto de Paxareiras, quando o sol tinge de laranja o monte da Runha…
  • Além de galega: além de galega, celta, sinto-me mui próxima a toda a cultura celta, e ainda confio na construçom da futura Europa dos povos.

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