Carlos Hugo González Vázquez, um engenheiro informático viguês a viver na Corunha

PGL – Carlos Hugo González Vázquez, nasceu em Vigo mas vive na Corunha, é engenheiro informático e tomou contato com o reintegracionismo graças a pintadas e cartazes. Fã do e-estraviz, gostava de o ver no seu telemóvel.

Carlos Hugo nasceu e vive em Vigo, de família castelhano-falante. Como se vive na nossa língua em Vigo?

Não achei que fosse difícil, no sentido de atopar impedimentos para o fazer. Mas é uma coisa unidirecional. A imensa maioria das comunicações que recebes, tanto por coisas que vês escritas como à hora de falar com a gente, são em castelhano. Para viver plenamente em galego tens que o pedir. Os galegofalantes são minoria entre a gente com que me relaciono, embora haja pessoas que mudem de língua quando eu lhes falo galego.

Quando e por quê decides tornar-te galego-falante? Quais as reações da tua rede social?

A decisão tomei-na há pouco tempo, embora não fosse a primeira vez que o fizera. Quando estava na escola tive um par de anos em que tentava empregar a nossa língua com normalidade, mas ao estar rodeado de castelhano por toda a parte afinal não tive muito sucesso. Se calhar ainda não era ciente de porque era que isso passava, da situação de dominação que o galego tem sob o castelhano. É por isso que agora quero contribuir um bocado para mudar essa situação, e o lógico primeiro passo é eu próprio mudar os meus costumes. Não vou dizer que não experimentasse um pouco de resistência psicológica; ao principio tornava-se-me estranho falar de outro jeito ao que estava habituado. Assim que mudei pouco a pouco, cada vez em mais âmbitos.

Agora estás a morar na Corunha. É um lugar-comum dizer que o galego goza de menos vitalidade social na Corunha do que em Vigo. Concordas?

E nem só o galego como língua, senão também o galego como cultura. Talvez seja uma impressão minha equivocada, mas parece-me que Corunha deve ser a cidade mais “espanhola” da Galiza.

Atualmente estás a fazer um doutoramento em Tecnologias da Informação. Tradicionalmente considera-se que as pessoas ligadas à ciência têm um menor interesse pola língua. Concordas?

Não é tanto falta de interesse como falta de espaços onde aplicar esse interesse ao desenvolver as atividades profissionais, nomeadamente na investigação. Todos os congressos importantes exigem que os trabalhos que se enviem sejam em inglês, o que faz com que mesmo os relatórios internos que elaboramos o sejam também para poupar traduções posteriores.

Lusofonia e informática. Que temos a ganhar os galegos e as galegas com uma perspetiva reintegracionista no terreno da informática e do software?

O primeiro é a disponibilidade de software e documentação no nosso idioma. Apenas há que olhar os casos de Catalunya ou Euskadi, onde as administrações têm de gastar dinheiro para localizar pacotes de software de empresas que não os consideram um mercado atrativo para esse esforço. Com certeza isto também funciona em sentido inverso, pois os criadores podem dispor dum mercado muito mais amplo ao que se dirigir.

Quando foi o teu primeiro contato com o reintegracionismo? Quando decides viver a nossa língua como sendo “extensa e útil” que dizia Castelao?

O meu primeiro contato foi na escola, numa aula de língua galega. Não lembro muito bem qual o tema que estávamos a dar nesse momento, mas sim que a professora comentou que existiam outras normas para a língua escrita para alem da “oficial” que estudávamos, nomeadamente a da AGAL ou a lusista. Mas acho que não foi até que vim à universidade que tive um contato prático com o reintegracionismo, quando vi cartazes ou pintadas de AGIR ou Briga, e identifiquei que isso que escreviam era o AGAL de que ouvira falar na escola. A questão é que no momento que decidi que já era hora de viver em galego, pensei que o mais lógico era fazê-lo assim, e nem só por ser mais extensa e útil, senão por ser mais coerente com a história do pais e da língua, e a visão que eu tinha dela.

Que estratégias achas mais adequadas para que a juventude de uma cidade como Vigo tenha uma maior interação com a nossa língua?

O que acho que há é uma falta brutal de visibilidade para a cultura no nosso idioma. É muito difícil lograr essa visibilidade sem o apoio dos mídia, mas só com que a CRTVG cumprisse a sua obriga estatutária e realmente apoiasse a cultura do pais seria muito o que se ganharia.

Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?

A primeira visão foi a de uma entidade ocupada em desenvolver a normativa reintegracionista para língua, e de difundi-la. Mas depois conheci também a sua atividade normalizadora e difusora da língua galega em geral, nem só do “lusismo”, com as palestras, atividades, etc. que ia conhecendo por exemplo através do PGL. É por isso que eu quis me associar, para participar do projeto de normalização que tão necessário é, desde uma perspetiva reintegradora que é a que considero mais lógica.

Quais dos produtos agálicos achas que são mais eficazes?

O primeiro que descobri e o que mais utilizo é o dicionário e-Estraviz. Parece-me uma ferramenta imprescindível.

Como se poderia desenvolver ainda mais o potencial do dicionário e-Estraviz?

O que mais acho de menos é uma versão adaptada a telemóveis, para poder consultar em qualquer momento o dicionário de forma cómoda. Uma outra função que acho útil é algo semelhante ao que faz o DLPO da Priberam: uma procura da palavra em internet (twitter, latri.ca, coisas assim), para vê-la em usos reais. Na parte linguística, estaria bem poder ver a conjugação dos verbos.

Conhecendo Carlos Hugo


  • Um invento: Internet
  • Uma música: A rosa do deserto, de Som do Galpom
  • Um livro: Harry Potter (os sete)
  • Um facto histórico: O lançamento da NES da Nintendo
  • Um prato na mesa: Tortilha de batata
  • Um desporto: Tiro com arco
  • Um filme: Harry Potter (os oito)
  • Uma maravilha: A música
  • Além de galego: De tudo menos bonito

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