PGL – Hugo Rios é português, tem feito e faz capas magníficas para a Através, o seu interesse pola Galiza geminou-o um livro, talvez um dia nos surpreenda com um livro explicando a Galiza e a sua língua a Portugal e associou-se na AGAL porque um fraco por ser bombeiro.
Hugo Rios é um profissional do desenho gráfico e foi o autor da capa de Galego, Português, Galego-Português, de Arturo de Nieves e Carlos Taibo. Que te guiou na elaboração da capa?
Confesso que a início foi difícil. Queria fazer algo apelativo, que atraísse o potencial leitor a pegar no livro e folheá-lo. A ideia surgiu-me quando me lembrei da lógica bivalente e então aproveitei para dar uma imagem imediata e expressiva. Na minha opinião foi conseguido esse objetivo, independentemente de gostarem ou não da capa.
Que se adivinha no horizonte para o livro em papel e o livro eletrónico?
Francamente ainda não sei bem. Pessoalmente acho que a edição eletrónica de revistas, artigos e livros mais técnicos em que a consulta é feita de uma forma mais aleatória ou conforme as necessidades, é perfeita. Para a literatura acho que o livro continua a ter vantagens, a tangibilidade, o companheirismo que oferece o livro de papel. Acho que no futuro quem quiser a versão em papel irá pagar mais e que irá tornar-se um pouco o que representa o disco de vinil atualmente.
Hugo Rios é cidadão português, de Santa Maria da Feira. O teu conhecimento e interesse pola Galiza e a nossa língua representa a média em Portugal?
Para mágoa minha não. A maior parte das pessoas que conheço pensam que do outro lado da fronteira apenas se fala castelhano. Alguns já ouviram falar do galego mas para eles é algo indefinido, talvez um dialeto castelhano mais próximo do português, o que infelizmente é corroborado na prática pelos governantes galegos. O meu interesse surgiu há muitos anos quando li um livro no qual incluía a Galiza como um território em que se falava a mesma língua e isso aguçou a minha curiosidade. Com o acesso à Internet passei a ler bastante sobre isso e acompanho o sítio da AGAL desde o início. Como aluno, nas aulas de português, a única referência é ao cancioneiro galaico-português, pelo que me lembro. É curioso que um mero livro conseguiu despertar-me muito mais facilmente que as aulas de português….
Quais pensas que podem ser as melhores formas de dar a conhecer a língua que nos une e a sociedade que a fala em Portugal?
Eu gostava de dizer que a televisão pode ter uma importância grande, mas não creio. Pelo menos não nos moldes atuais. Aqui a esmagadora maioria da população tem alguma subscrição por cabo e a TV Galicia faz parte de todos os pacotes e não ouço ninguém comentar que a vê. Talvez porque a língua falada em tal canal não é percebida pelo comum cidadão português como comum ao fazer “zapping”. Talvez porque para ver alguns programas de variedades tão maus, os telespectadores preferem ver os seus… maus também, mas seus. Já há um intercâmbio bastante grande entre os dois lados, pelo menos comparado com o que era há 20 ou 30 anos. Eu acho que aqui os galegos tem um papel mais importante que os portugueses. Quando vou à Galiza a maior parte das pessoas fala comigo em castelhano, mesmo que insista em falar português. Dá-me a sensação que se sentem superiores se falarem em castelhano, já que quando eventualmente algum deles passa para o galego torna-se imediatamente mais afável… coincidência? Como o cidadão comum português vai saber que na Galiza falam outra variedade da mesma língua quando são os próprios galegos que lhes falam em castelhano?
Acho que aqui seria necessário instruir a classe jornalística primeiro, talvez fosse uma ajuda, não sei.
São os livros uns bons embaixadores para este conhecimento mútuo? Achas em falta algum livro que pudesse fazer este labor?
Os livros são fundamentais mas infelizmente nos dias de hoje não há uma predisposição do cidadão comum a ler este tipo de assuntos, acho que essa difusão se tem de fazer de várias maneiras de forma a entrar no inconsciente comum. Já penso nesta pergunta há muito tempo. Eu próprio gostava de escrever algo que fizesse com que os meus compatriotas se interessassem pela situação do galego na Galiza. Acho que temos de começar pelo início e começar por contar que do outro lado da fronteira a norte fala-se a mesma língua, esta é a ideia base que ainda há que entranhar e é essa ideia que se tem de reforçar.
Como foi o teu contacto com o movimento que difunde uma visão internacional do galego? Que te chamou, e te chama, a atenção dele?
Eu sempre tive uma visão à distância, de observador. Passaram alguns anos até que contactei a AGAL e ofereci o meu apoio. Eu vejo o reintegracionismo como os bombeiros da minha língua na Galiza. O problema é que o incêndio tem muitas frentes e ainda faltam muitos meios.
Que estratégias pensas que podem ser mais eficazes para o seu desenvolvimento social na Galiza?
Não sei se serei politicamente correto nesta resposta. Eu acho que a defesa está concentrada num pequeno espectro político e assim não deveria ser. A língua deveria ser uma não questão. Estar ainda mais à esquerda do partido socialista não deveria ser sinónimo de defesa da língua e ser de direita não deveria ser sinónimo de ser a favor da hegemonia do castelhano. Se há gente no centro e direita que defenda o galego pois que façam um partido nacionalista de direita, assim como há um nacionalista de esquerda, entendem o que quero dizer? Quando de fora vejo a situação da Catalunha, é isso que me salta à vista. O catalão como língua tem uma defesa mais abrangente pois os eleitores sentem que em todo o espectro político há gente que a defende, há alternativas. Eu não quero politizar esta questão, muito pelo contrário. O que quero dizer é que numa situação ideal a língua deveria estar além das conotações que hoje tem. Talvez quando a política galega chegar a essa maturidade, o galego esteja mais bem defendido pelo menos a nível governativo.
Que te motivou a te associares à AGAL?
Voluntariar-me como “bombeiro”! Ajudar com as minhas capacidades de uma forma ativa.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” das relações entre os galegos/as e os portugueses/as em 2020?
Daqui a 7 anos? Espero que a Galiza já receba algum canal português. Que o português seja descoberto pelos alunos como uma ajuda a singrar num mundo globalizado. Que a seleção de futebol da Galiza tenha jogos oficiais com a portuguesa. Que se faça tudo o que se faz em família.
Conhecendo Hugo Rios
- Um sítio web: Wikipédia
- Um invento: Motociclo
- Uma música: Dervish – I Courted a Wee Girl
- Um livro: Em busca da arca da aliança, Graham Hancock
- Um facto histórico: reforma protestante e a sua implicação na evolução do pensamento desde então.
- Um prato na mesa: francesinha, mas apenas num sítio especial
- Um desporto: Dormir
- Um filme: Big.
- Uma maravilha: Neste caso da natureza: o lince
- Além de galego/a: Catalão e inglês