Íria Taibo fai parte de um clã. Adora as línguas em si, estudou tradução e interpretação e julga que dá para viver da tradução. O Erasmus em Lisboa foi marcante. Foi secretária geral da Mesa e acha que se houver um público ao que dirigir campanhas dever ser o mais jovem. A pensar no futuro, nem todo são números, há pessoas por todo o país a fazer coisas que valem muito a pena.
Iria é do clã dos Taibo e nasceu em Oleiros. A tua língua infantil, de uso, foi o castelhano e a conversão para o galego foi na adolescência. Somos um pais de conversos como dizia Otero Pedraio?
Meu pai e meu tio fizeram a viagem contrária, vindo de uma família galega em Madrid, mas é óbvio que não é o habitual. Na casa, meu pai falava-me galego e a minha mãe espanhol, mas fomos mudando, primeiro eu e depois ela. E que venham mais!
Estudaste tradução e interpretação em Vigo e és muito competente em várias línguas, um dos teus grandes focos vitais. O que é que têm as línguas para seduzir assim tanto?
Não sei se muito competente, as línguas são sempre um trabalho em andamento, e acho que esse é um dos seus maiores atrativos. Nunca acabas de aprender, nem a própria! E não só, também me atrai muito o enorme mundo que abre cada língua nova. Cada uma tem a sua própria estrutura, e enquanto aprendo, para mim um momento muito bonito é o de começar a entender melhor um outro povo graças ao seu jeito de falar.
És tradutora profissional e presidenta da AGPTI, Asociación Galega de Profesionais da Tradución e da Interpretación. Nos tempos dos cliques e dos recursos gratuitos, qual a saúde da tradução como emprego?
Hoje há muita conversa a respeito do futuro da tradução. Com certeza, a profissão tem mudado muito nas últimas décadas e vai continuar a mudar ainda muito, mas acho que a minha geração ainda tem bastantes oportunidades. Teremos de evoluir nós também, permitir que a tecnologia nos ajude cada vez mais, e tentar colocá-la do nosso lado como ferramenta e não como inimigo.
Hoje há muita conversa a respeito do futuro da tradução. Com certeza, a profissão tem mudado muito nas últimas décadas e vai continuar a mudar ainda muito, mas acho que a minha geração ainda tem bastantes oportunidades.
Acho que as associações são uma ferramenta imprescindível, também para isto. É uma profissão solitária, e aprendermos a colaborar e fazer uso destes recursos coletivos é muito interessante, e ainda ajuda a fugir desse isolamento obrigatório de trabalhar colada ao computador.
Mas certifico que, por enquanto, é possível viver da tradução. Temos a possibilidade de trabalhar desde quase qualquer lugar, e para clientes de qualquer lugar do mundo. Isso eu já o tenho assimilado, mas reconheço que foi uma das coisas que de início se revelou mais difícil de ver. E agora acho que é uma vantagem enorme.
O Erasmus tivo como destino Lisboa. Porque essa cidade e como valorizas o que te deu essa experiência?
Tinha começado a estudar português na universidade, e como queria ser tradutora pensei que era uma opção muito mais do que válida, para além de que é uma cidade deliciosa para viver (é belíssima, mas também tem muita vida cultural e para uma estudante não é fácil encontrar um lugar melhor). Na minha família há quem ache que foi uma opção pouco corajosa para o Erasmus, mas diria que foi uma boa decisão. Uma grande parte do meu trabalho hoje tem a ver com o português, e também reconheço que não me importava de repetir a experiência de viver ali por um tempo.
Iria Taibo entrou sendo moça na direção da Mesa e acabou sendo assumindo a Secretaria Geral da mesma. Em que medida a Galiza precisa de uma instituição como a Mesa? De que projetos sentes mais orgulho?
Infelizmente, precisa-a muito. Enquanto as instituições públicas não façam o seu trabalho deverá continuar a existir A Mesa. Há uns dias, por exemplo, publicou-se que a IKEA traduziu finalmente o seu site para galego. E isso foi graças, em grande medida, à pressão da Mesa. É claro que há muitas pessoas por trás disso, e essa é a sua grande força, mas é a melhor ferramenta! Ainda nesta semana tive de pagar uma sanção da DGT e descobri espantada que a página está traduzida para galego com tradução automática, sem qualquer tipo de revisão. Devo admitir que para conseguir fazer o pagamento em galego, tive de andar a passar de galego para outras línguas, porque não conseguia perceber nada. E aí deveria estar a nossa administração, para defender que possamos fazer a papelada toda na nossa língua, mas não é assim.
Para mim, trabalhar nesta associação foi uma grande experiência vital, aprendi imenso, tanto das pessoas espetaculares que conheci como do jeito de trabalhar. Quando comecei era bastante jovem e passei por muitos projetos diferentes, mas acho que a principal conclusão que tirei desse trabalho é que os coletivos sociais são uma ferramenta imprescindível para a transformação.
A respeito dos projetos, foram muitos anos e muitas coisas diferentes, mas um dos mais interessantes em que tive a oportunidade de participar foi o Abertos ao Galego. Para além do trabalho reivindicativo, que é a parte principal daquilo que faz A Mesa e o mais visível, também há outros projetos mais pequenos, outros trabalhos internos. O Abertos tem uma linha mais «amável» e visa dar valor ao setor empresarial que tem o galego como língua preferente, e tentar que as pessoas mais envolvidas com a língua também vejam o importante que é terem em conta estes projetos. Acho que a ideia de apoiar quem apoia o meu tem muito de interessante.
Com essa vasta experiência e olhando para a estratégia internacional para o galego, que ações seriam mais efetivas para avançarmos socialmente? Quais seriam as áreas mais importantes ou os públicos?
Sem dúvida, o público mais jovem, mas não só. As pessoas de menos idade são bem mais abertas do que queremos ver às vezes, e com mensagens inteligentes e bem definidas ainda se consegue dar a conhecer todas as possibilidades do galego. Vende-se a ideia da globalização como algo positivo, e para nós obviamente pode ser uma boa linha de trabalho.
As pessoas de menos idade são bem mais abertas do que queremos ver às vezes, e com mensagens inteligentes e bem definidas ainda se consegue dar a conhecer todas as possibilidades do galego.
Agora mesmo estou a trabalhar num novo projeto com um grupo de pessoas que partilham o ponto de vista da estratégia internacional. O nosso objetivo é falar com estudantes dos últimos anos dos liceus, despertar a curiosidade.
Hoje aprender línguas está muito valorizado, temos também de aproveitar isso, e o fácil que é aprender português a partir do também dá valor ao nosso idioma. Por vezes, eu dou aulas de português para coletivos muito específicos, pessoas que não veem no galego uma questão ideológica, mas logo percebem que é uma ferramenta utilíssima para conseguir o que precisam, e são eles próprios que procuram o português pensando neste argumento. E acho que essas pessoas também podem acabar por ser agentes da nossa mensagem (mesmo sendo o da utilidade um argumento que tem algum perigo).
Quais foram as tuas motivações para te tornar agálica e enrolar-te neste barco?
Gosto muito da força e da capacidade de trabalho do grupo da AGAL para idealizar propostas inovadoras, mas com vontade de permanência e, principalmente, de transformação. Há muitos projetos em andamento e mesmo que não esteja a participar muito ativamente, gosto imenso de poder contribuir e apoiar este projeto.
Imagina o ano 2040. Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza ou, como achas que vai ser?
Desde que comecei a trabalhar neste projeto novo do que falava antes mudou bastante a minha ideia a respeito deste futuro, acho que agora tenho mais confiança nas gerações mais jovens, tanto de estudantes como de professorado, há pessoas por todo o país a fazer coisas que valem muito a pena.
Se dependesse das instituições públicas, é claro que o galego morreria ou ficaria só para usos rituais (como já acontece em muitos âmbitos). Mas também tenho confiança em que essas instituições mudem. Outra das cousas que aprendi enquanto trabalhava na Mesa é que o povo galego não quer que o galego morra. É possível que os governantes atuais não se importem muito, porque não têm vontade de fazer nada na prática pelo idioma e preferem andar a frivolizar com ele, mas a grande maioria das pessoas da rua não gostam da ideia de perder essa parte tão fundamental da nossa identidade. Outra coisa é fazerem algo para mudar a tendência atual, mas há muitos projetos de futuro que vêm também da rua, humildes mas que não vão deixar de trabalhar, e isso é o que faz que pense que não está tudo perdido, pois se olhamos para as estatísticas e para o que podemos perceber no dia a dia, a situação não parece muito promissória.
Conhecendo Iria Taibo
Um sítio web: acho que nesta altura os sítios que mais consulto são os de dicionários…
Um invento: o vinho! Se calhar não fica muito bem dizer isto… A minha segunda opção é a internet, acho que pode ser uma boa ferramenta para o futuro do galego, há muita vida aí!
Uma música: sou muito lusófila musicalmente, de facto acho que sou muito mais «aberta» musicalmente com tudo o que se faz em português do que no resto das línguas. Tenho um acordo com uma aluna, ela pediu-me para terminar as aulas sempre com uma música em português, mas deve ser alegre, então estou sempre à procura de coisas novas.
Um livro: tenho uma lista gigante de leituras pendentes, então procuro não repetir muito, mas desde criança sempre adorei o que escrevia o Gianni Rodari.
Um facto histórico: acho que qualquer um que tenha quebrado grandes situações de desigualdade social.
Um prato na mesa: sou bastante comedorinha, mas acho que o passaria muito mal se me dizem que tenho de deixar de comer queixo… ou nabizas!
Um desporto: não sou muito fã do desporto, em geral… Do que sou menos fã é do futebol, com certeza, porque acho que tem uma importância que come tudo e que não é nada saudável.
Um filme: gosto muito dos musicais clássicos. Acho que o filme que mais vezes vi na minha vida é West Side Story.
Uma maravilha: Galiza, claro!
Além de galego/a: além de oleirense, galega!