PGL- Oscar Lomba é neo-falante, morou na Venezuela de criança e começou a utilizar habitualmente o galego-português na adolescência como conseqüência da sua amizade com pessoas que o falavam habitualmente. Licenciado em Direito Económico e diplomado em Magistério, atualmente trabalha na Gerência de Atençom Primária.
Trabalhas na Gerência de Atençom primária como pessoal de administraçom e serviços. Permite viver em galego?
Trabalhar na Gerência de Atençom Primaria permite-me falar galego ainda que nalgumas ocasiões as pessoas que falamos e escrevemos habitualmente em língua galega, especialmente se se trata de galego reintegrado, somos tachadas de independentistas e nacionalistas radicais. Os documentos oficiais do SERGAS nom os podo redigir como gostaria, isto é, em galego reintegrado, e polo tanto entendo que nom podo viver plenamente em galego no meu posto de trabalho. Ademais, tenho sérios problemas para expressar-me sempre em galego: há pessoas castelhano-falantes que solicitam em numerosas ocasiões que me dirija a elas em castelhano. Enfim… acho que há que mudar muitas coisas nas administrações públicas e na própria sociedade.
De criança moraste na Venezuela. És galego-falante de berço ou neo-falante?
Sou neo-falante. Morei em Venezuela e ali os meus pais nom empregavam o galego. Comecei a utilizar habitualmente o galego na adolescência e como conseqüência da minha amizade com pessoas que o falavam habitualmente.
Como foi recebido na tua rede social mais próxima (família, amizades, colegas de aulas…) o facto de falares galego aos 100%?
Ao princípio, com surpresa. Ninguém fez objeçom. De todas as formas, sim que notei certa estranheza nalguns amigos e amigas com os que sempre tinha conversado em castelhano. Com o passo do tempo sossegou-se o desconcerto e percebim uma absoluta normalidade na perceçom dos demais a respeito do meu uso habitual da língua galega.
Quando percebeste que o galego é uma língua extensa e útil?
Entrei em contato com o galego reintegrado pola minha relaçom com uma professora portuguesa de ensino secundário que me conduziu para a cultura lusófona. A partir daí descobrim todo um mundo de possibilidades para o galego. Pensei na necessidade de aproximar o nosso idioma à grafia histórica galego-portuguesa e facilitar assim a nossa relaçom com a comunidade lingüistica lusófona.
Em que se traduziu no teu dia-a-dia e na tua forma de ver as cousas?
O uso normalizado do galego traduziu-se numa rutura com a esquizofrenia lingüistica que sofria nos meus primeiros anos da adolescência. Refiro-me ao transtorno derivado de falar castelhano ou galego dependendo de com quem conversasse. Se falava com os meus familiares de Ventosela (a aldeia da minha mãe) ou a Guarda (a vila do meu pai) fazia-o em galego, mas se dialogava com outros familiares de Vigo ou com alguns professores e amigos, decantava-me polo castelhano. Essa esquizofrenia lingüistica terminou quando comecei a usar habitualmente o galego.
Como explicarias a alguma amizade que o galego é mais do que nos ensinaram no ensino formal na Galiza?
Se quigesse explicar a algumha amizade que o galego é bem mais do que a língua que se ensina no sistema educativo formal acho que lhes falaria das muitas razões polas que seria muito positivo recuperar a norma reintegrada e a grafia histórica, frente à norma oficial do ILG-RAG.
Explicaria que a meados do século XII, o galego era a língua comum de um reino, Galiza. Mais tarde, com a separaçom de Portugal e sua conversom como reino independente, o galego vai passar a ser a língua dos dous reinos. Este facto deu lugar a que os lingüistas se refiram a esse galego medieval com o nome de galego-português. Durante os séculos seguintes, XIII e XIV, o diferente devir histórico-político destes diferentes reinos vai ter grandes repercussões lingüisticas e culturais que acabaram por estandardizar e normalizar o galego-português falado ao sul do rio Minho, enquanto no norte nom houvo tanta sorte. Assim, enquanto o reino de Portugal se mantinha independente e era governado por reis que lhe conferiram ao galego-português o status de língua oficial da sua administraçom (1290), a coroa galega era usurpada por Fernando III de Castela.
Tentaria convencer a pessoa de que o galego-português, o galego de normativa reintegrada, propom que, ademais de seguir a beneficiar-nos das vantagens e fortalezas do idioma castelhano, podemos também abrir todas as possibilidades comunicativas, culturais e económicas… do mundo lusófono, fazendo do Galego uma língua internacional e com maior utilidade e projeçom. Isto é, às potencialidades do castelhano, os galegos poderíamos somar as potencialidades do português.
Na tua opiniom, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua socializaçom?
Seria muito positivo caminhar para a configuraçom e articulaçom de potentes instrumentos de difussom de massas (editoriais, imprensa, televisões e rádios, internet…).
Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associaçom?
Sempre tivem boa impressom da AGAL. Só pretendo contribuir à extensom do uso social do galego reintegrado. Esse é meu objetivo prioritário.
Como gostarias que fosse a “fotografia lingüística” da Galiza em 2020?
Encantaria-me que o galego recuperasse a posiçom de esplendor que teve no período das cantigas, mas fico conforme com que se estenda o uso normalizado de nosso idioma e que a normativa caminhe para uma maior aproximaçom com a grafia histórica reintegrada e aos acordos ortográficos adotados nos congressos internacionais da Língua Galego-Portuguesa.