Romám Vilela: «Eu tenho a certeza de que umha vez o galego seja língua da Galiza em todos os âmbitos, o galego-português avançará de forma natural»

PGL- Romám Vilela, é natural de Cedeira, atualmente mora em Viana do Bolo aonde foi por questons laborais. É mais um elemento do clam dos Vilela, primo de Roi, Bernal e Bruno. De sempre, toca e dança música tradicional, o que lhe permitiu viajar pela Europa e polo resto do Estado. Tem um filho, Martinho, motivo polo qual agora reavivou a sua preocupaçom pola língua.

Moras em Viana do Bolo, qual é a situaçom atual da Galiza interior? Existe vida mais alá? Ou o despovoamento está a acabar com tudo?

Eu nom nasci cá, a minha família procede da outra ponta da Galiza e, porém, eu decidim viver nesta terra, por puro namoramento. Os futuros possíveis som infinitos em funçom das perspetivas ou do que cada quem procura. Hoje vivemos umha crise a nível global, provocada por um crescimento desproporcionado, incontrolado e que se demonstrou totalmente injusta para a maioria da populaçom. Quiçá o crescimento económico nom seja, portanto, a melhor medida do bem-estar da populaçom, da sua felicidade. Eu vivo feliz em Viana do Bolo. Se olho para o passado, acho que se perdêrom grandes oportunidades de pôr em valor o setor agrário e gadeiro galego, mas ao olhar para o futuro, continuo a pensar que temos o mais difícil de conseguir, a experiência, a terra, o clima… Acho que havemos de voltar à terra, o desprezo que sentímos por ela, foi-nos devolto por aqueles que nos prometerom o paraíso na indústria.

Nessas terras vive-se o entrudo duma outra maneira, como é a tua relaçom com esta data tam marcada?

Muito antes de ter chegado a Viana, decidim que os meus anos nom iam de 1 de janeiro a 31 de dezembro, senom que começavam na quarta de cinza e acabavam no momento em que começa o Entrudo. Os dias que há no meio regem-se por outro tipo de tempo. As noites som eternas, as sobremesas nunca acabam e, porém, dura tam pouco… O entrudo em Viana é tam espetacular, tam formoso e colorido… tam curto.

O ano em que cheguei admirava o Foliom, e mesmo alguém me colocou um bombo e convidou a participar. Acho que, naquele momento, convertim-me em vianês. Gosto imenso das mesas cheias de amigos, das casas abertas, do frio na face em contraste com a calor que fornece um bom licor caseiro ou a força da maça no couro, dos boteiros impulsados pelas suas mocas, com máscaras que parece impossível suster sobre cervicais humanas… E, mesmo nas noites em que algumha obriga nom me permite sair e participar, permitem-me desfrutar dum dos melhores momentos do entrudo: quando, desde baixo do peso dos cobertores, vou ficando dormido ao ritmo de afastados folions.

Quer dizer, embebedo-me em compadres e nom a solto até a quarta de cinza.

Qual é a situaçom lingüística desta vila?

Acho que o uso do galego é muito maioritário, em todos os âmbitos. Porém, na minha opiniom, existe umha total despreocupaçom pela língua, nom há consciência da importância de transmiti-la aos filhos, de defendê-la… e acho que existe umha aceitaçom de “inferioridade” perante o espanhol. Imagino que algo nom muito diferente do que acontece no resto do País, ante a ausência histórica de medidas de normalizaçom ou valorizaçom do idioma.

Existe um preconceito que associa o reintegracionismo e a Lusofonia à cidade e a neofalantes, que achas disto?

Procedo da cidade e fum alfabetizado em espanhol.  Tocado e derrubado.

A sério, eu levo mais de vinte anos a escrever e a falar em galego e, até agora, fizem isto de modo independente, sem formar parte de nengumha associaçom e rodeado, sempre, de nom reintegracionistas. Sinceramente, sempre me senti muito bem a falar de temas lingüísticos e nunca me senti julgado. Aprendi tanto a falar galego com o que lim ou estudei, como a falar com os meus amigos galego-falantes “de toda a vida”. Estou convencido de que todos falamos o mesmo: uns sesseiam, há teístas e cheístas, sempre se cola algum espanholismo, /-vel/ ou /-ble/, /-ción/ ou/-çom/… Som diferenças mínimas, que existem entre falantes de qualquer língua do mundo. Pertencemos à Lusofonia, saibamo-lo, aceitemo-lo, ou nom. E falemos como falarmos. Nom é umha escolha. Já sei que há gente muito preparada que o nega, e como o nega!!! Para mim é ridículo, o branco é branco… Bom, ou branco roto…

Como escrever, acho que essa é a escolha. Nom sei se quem escolhe escrever em galego-português mora ou procede, maioritariamente, da cidade. Nom me pareceria estranho, no entanto, porque, até o de agora, o reintegracionismo estava pouco promovido, havíamo-nos de encontrar com ele e, esse encontro, acho que era mais doado nas cidades, onde estám os foros, as instituiçons, a Universidade, os cafés culturais… Falo em passado, porque tenho a máxima confiança nos efeitos de iniciativas como os OPS… emfim, é o reintegracionismo quem vem ao encontro. E umha vez contatado… já se trataria de continuar a manter que o branco nem sequer é branco roto.

Quando percebeste que o galego era mais do que te ensinaram na escola?

O mérito todo é, a partes iguais, de Astérix, Tintin, Luky Luke e do Xavi, um bom amigo que, por sinal, nom cumpre o preconceito de neofalante de cidade. Começou com o encontro com as coleçons dos famosos heróis em versom portuguesa, na casa dos meus tios na Corunha, onde morei o primeiro ano de Universidade… Além de provocar um efeito negativo direto no meu rendimento académico (sempre os preferim aos livros de texto), fizérom-me ler em português, para mim, o único exercício preciso para descobrir que o português e o galego som o mesmo idioma.

Por outro lado, e coincidindo no tempo, integrei-me num grupo de dança tradicional em que, um pouco como a aldeia de Astérix, sobrevivia um único reintegracionista, o Xavi. Foi ele quem me forneceu de material e me gerou o interesse e a consciência precisa para mudar. Foi umha mudança rápida, no ideológico, mas vagarosa, no ortográfico… De facto, aínda ando nela.

Na tua opiniom, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilizaçom?

Eu tenho a certeza de que umha vez o galego seja língua da Galiza em todos os âmbitos, o galego-português avançará de forma natural. O rumo de qualquer estratégia, parece-me, deveria ir para a sociabilizaçom do galego, além de qualquer diferença.

Eu nom entendo muito de grandes movimentos, de grandes estratégias… Parece-me complicadíssimo, da posiçom que ocupa atualmente o reintegracionismo na Galiza, ignorado e expulsado das instituiçons normativizadoras e sem respaldo político algum, tomar decisons que afetem a sociedade num tema tam subvalorizado como é o da língua. Mas gosto imenso, como comentei acima, de iniciativas que acheguem o galego-português à gente, que deem a oportunidade de conhecer e escolher. Admiro a quem tem a capacidade de concebê-las e implementá-las.

Por outro lado, encontro, no meu entorno, muito rejeitamento ao galego-português porque se percebe como umha oposiçom contra o galego mamado, o coloquial. Eu nom partilho esta opiniom, mas fai-me considerar por que existe e está generalizada. Temos que analisar que é o que fai que se veja assim e lutar contra isso.

Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associaçom?

Som um reintegrata solitário, desde há mais de vinte anos. A AGAL sempre foi a minha fonte de material (dormiu muitos anos comigo, nas folhas do Estudo Crítico), um recurso para a soluçom de dúvidas ortográficas… Sempre apoiei e valorei muito positivamente a associaçom, mas eu, nom sei se por algum traço de personalidade, por tradiçom ou desleixo, nunca fum especialmente participativo.

Por que agora? À pergunta respondem a várias circunstâncias. A primeira é que há ano e meio nasceu o meu filho e quero que viva em galego na Galiza. Com o nascimento reavivou-se a minha preocupaçom pola língua, algo esquecida ou moderada nos anos anteriores. É hora de somar.

O debate lingüístico intensificou-se neste ano e meio. Novos amigos, reencontros, menos caralhadas e mais ceias tranquilas ao redor dumha mesa, pendentes dum negócio desses para escutar o neno enquanto dorme… favorecêrom a conversa. Comecei a consultar com regularidade a web da AGAL, a descobrir novos materiais, açons formativas e umha forma de trabalho que prima o achegamento à gente. Nisso acredito e por isso me associei.

Da associaçom espero que continue polo caminho em que está. Adoro a imaginaçom, em qualquer âmbito, e penso que disso está sobrada a AGAL.

Como gostarias que fosse a “fotografia lingüística da Galiza em 2020?

Nom fica muito, a verdade. A só seis anos e com Alonso Montero à frente da RAG, sem Conselharia de Cultura e acultaramento através da Educaçom… A cousa está para discursos do tipo ” Esta noite tivem um sonho…”.

Gostaria que se começassem a ver os efeitos da primeira política séria em defesa da língua neste País. Gostaria de ver responsáveis de medidas como: a matemática e as ciências em espanhol e as humanidades em galego, pagando com cárcere por delito de terrorismo lingüístico. Viver a ressaca dum Dia das Letras Galegas dedicado a Carvalho Calero. Que ninguém sinta a mais mínima insegurança por escolher o galego numha entrevista de trabalho, num exame… Que a gente vaia aprendendo a escrever e a entender o que escreve. Que os OPS desapareçam porque em 2021 se aprenderá galego-português na escola…

Conhecendo Romám Vilela

  • Um sítio web: http://www.jotdown.es/ De tudo, um muito. Cinema, literatura, História…e , até ciência, para quem interesse.
  • Um invento: Agora mesmo, a bicicleta.
  • Uma música: Zeca.
  • Um livro: Impossível.
  • Um facto histórico: O descobrimento da cerveja.
  • Um prato na mesa: Sem dúvida, croquetes. Mais que um prato, um vício.
  • Um desporto: Corrida, montanhismo, basquete e, em fase de iniciaçom, Mountain Bike.
  • Um filme: Singin´ in the Rain… taraaa..rarara.
  • Uma maravilha: O acordar do Martinho.
  • Além de galego: Preguiçoso.

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