Suso Calvo, técnico em desenvolvimento de produtos electrónicos

PGL – Jesus Calvo, Suso para a maioria da gente, é um jovem sócio da AGAL. Natural das Pontes e formado em Desenvolvimento de Produtos Eletrónicos, confessa-se simpatizante do ‘ludo-reintegracionismo’, fiel comprador da loja Imperdível, «otimista crónico» e defensor —sobretudo pola via musical— da estratégia luso-brasileira para o galego.

PGL: Para que as leitoras e leitores te conheçam, por que nom te apresentas, Jesus?

Suso Calvo: O meu nome é Jesus, Suso para quase toda a gente, e tenho 24 anos. Sou das Pontes do Eume, que é o correto e originário nome da vila das Pontes ‘de Garcia Rodriguez’[1] e disque sou Técnico Superior em Desenvolvimento de Produtos Eletrónicos. Tenho pensado estudar algo mais dentro desse mundo, provavelmente o próximo ano faga um ciclo de Técnico de Manutençom Industrial/Eletromecânica.

PGL: Que visom tens da AGAL? Que esperas da associaçom?

SC: A visom que tenho da AGAL, nestes momentos, é o dumha associaçom destinada a espalhar na Galiza o reintegracionismo, já que este é um movimento bastante minoritário, mesmo apesar de que o conhecimento desta postura a respeito da língua tenha aumentado muito nos últimos anos e muitos preconceitos estejam a ser superados por boa parte da sociedade. A dia de hoje, a funçom de ‘Academia séria’ já a cumpre a AGLP.

Dela espero que continue na linha atual, o ludo-reintegracionismo. Para mim é umha passada ler no PGL que umha escola daqui ou de acolá convidou Fagim a dar umha palestra sobre a estratégia reintegracionista. Como tenho comentado, para mim é fundamental o Mapa e a música.

Nom há muito em Narom estava eu com uns companheiros tomando umhas cervejas e saiu o tema de Feijóo e a sua galegofobia. Entom, um, sem vir a conto, começou a esbardalhar «dos que escrevem em português». Eu dissem-lhe que sou reintegracionista e, sem lho ter eu pedido, começou a dar um discurso —que todos temos ouvido algumha vez— sobre que a Galiza se separou de Portugal e entom —nesse preciso instante— o galego e o português deixárom de ser a mesma língua. Como nom me apetecia discutir, simplesmente calei e pronto. Depois, quando o acheguei à sua casa no carro, sem eu dizer nada, ele perguntou:

– De dónde son estes tipos?
– De Angola.
– No jodas! Pues se les entiende perfectamente!
– Posyavestú, lenguas super-mega-diferentes…

E entom quem fechou a boca foi ele [risos].

PGL: Qual a tua relaçom com a língua?

SC: A história é bem longa… assim que, fazendo um grande resumo, nom tenho problema nenhum em falar/ler/escrever galego, castelhano ou inglês —umhas controlo-as mais e outras menos—, mas tenho preferência polo galego. Na casa e no carro quase sempre tenho música em galego, de diferentes países: Valete, Bob da Rage Sense, GalegoZ, A Banda de Poi, O Rappa, Ivete Sangalo, Kalibrados, Lamatumbá, Manecas Costa… Consumo imprensa escrita nacional e internacional em galego através da rede, entro praticamente a diário em chuza.gl. Também vejo através da internet programas vários, como o Gato Fedorento, nom gosto da TVG feixista —de Feijóo— e só vejo os informativos do meio-dia e as séries Padre Casares e Libro de Familia.

Eu sou partidário da estratégia que já tem mencionado várias vezes Maurício Castro, normalizar com todas as letras, isto é, impor: na Galiza o galego, em Castilla o espanhol, em Euskal Herria o euskara, no Québec o francês… tal como se faz na Espanha com o espanhol.

Suso, na localidade basca de Zizurkil

PGL: Como foi o teu contacto com a estratégia reintegracionista?

SC: História tremendamente longa… O que é simples e claro de explicar é quando decidim dar o passo de deixar a ortografia RAG. Estava eu na duche, deu-me por ler a etiqueta do champô e pensei: «isto é galego rematado em -ão, ninguém pode negar que ‘comichão’ é galego 100% autóctone e da aldeia, e aqui está escrito graças a Portugal… por que hei renunciar logo eu às vantagens de ser utente dumha língua internacional?».

Mas o contato vem de longe. O meu avô falava um galego que encaixava quase à perfeiçom com o ‘galego agaliano’. Por contar umha anedota, lembro que sendo eu cativo falava ele do ‘maçarico’ para se referir ao soplete e eu pensava que eram cousas dos velhos. A surpresa foi quando há cousa de dous ou três anos descobri que toda a grande quantidade de ‘palavros raros’ que se falavam -e alguns ainda se conservam- na casa dos meus avós vinham num dicionário, o Estraviz.

PGL És o melhor cliente da imperdível… o que achas do projeto?

SC: Bom, o de ser o melhor cliente acho que tem umha explicaçom bem singela. Os que nom moramos em cidades ou núcleos de populaçom com presença do movimento reintegracionista —veja-se associações, centros sociais, etc.— nom tínhamos fácil o de aceder a este tipo de produtos, e agora ao ser criada —por fim— a loja da AGAL, temo-los a um toque de rato. Se eu comprei tanta cousa é porque levava anos com gana de certos produtos e estou a comprar agora todo junto [risos].

Do projeto acho que é fantástico precisamente por isso, porque os que bem pola dificuldade de encontrarem livros/discos em galego-português no lugar em que moram(os), bem por ser simplesmente uns fopeiros que nom queiram percorrer várias lojas/centros à procura do que querem, simplesmente com entrarem no site http://www.imperdivel.net/ podem olhar nesses estantes virtuais durante o tempo que qugerem e comprar o que lhes pete.

Normalizar consiste precisamente nisto, em poder comprar com toda a naturalidade do mundo o último livro de Dan Brown na tua língua no mesmo momento em que sai em todo o mundo. É tam simples como fazer clique, pagar, e em 48 horas está na tua casa, ademais com umha pontualidade como ainda nunca vira em loja nenhuma na rede. Ou se quadra mais difícil ainda, o do finado Saramago ou de Mia Couto… vás a umha livraria e perguntas polo livro em português —sendo assim o original— e miram-te raro, e dizem que nada, que está em espanhol… e pendente de traduçom ao galego; que entom é quando agradeces a atençom, agachas a orelha e fechas a boca, porque se nom passarias o dia a discutir.

PGL: Sabemos que som poucas as possibilidades de distribuiçom na Galiza de livros em português sem ter que recorrer a Portugal ou ao Brasil. Neste sentido, que pode representar a Imperdível?

SC: Pois poderia dizer que esperança, futuro ou facilidade de acesso a literatura lusófona… mas é mais que isso. A dia de hoje é perfeitamente factível pedir livros de qualquer lugar do planeta graças à internet, por exemplo através da Wook portuguesa, mas a Imperdível é um projeto galego e destinado principalmente a um público galego, o qual marca um ponto de inflexom importante, pondo a primeira pedra dum mercado literário na Galiza que nom se dedique a viver de subvenções só por escrever em X língua.

Outro ponto importante é o da auto-organizaçom. O facto de nom ter que depender de quem governe para termos literatura na nossa língua é um direito que antes se nos vendia como se fosse um privilégio. E, como nom, umha enorme parte da sua importância radica no facto de fazermo-nos visíveis no mundo: qualquer brasileiro poderia-se pôr em contato com a Imperdível e perguntar polo Sempre em Galiza depois de ler qualquer nova na internet sobre a existência dum tal ‘povo galego’… isto é totalmente revolucionário, e sim, sou um otimista crónico [risos]!!

PGL: Algo mais que quigeres engadir a esta magnífica entrevista…?

SC: Pois nom sei… animar toda a gente a passear pola loja Imperdível e mercar algo, algum livro de Saramago, ou re-descobrir a nossa história com o Atlas Histórico ou o livro sobre as Tribos Calaicas. Animá-los também a conhecerem o PGL e o labor da AGAL, que é umha verdadeira vacina contra os preconceitos existentes contra o reintegracionismo. E, já postos, animar a gente a participar na recém reconstruida Chuza [risos]. Acresço também o conselho de fomentar, distribuir e escuitar música lusófona na Galiza. E, como nom, remato lembrando que a etimologia é importante, mas de nada serve sem amor [risos].

Conhecendo Suso

 

  • Um sítio web: Chuza!
  • Um invento: internet
  • Umha música: impossível dizer só umha, porque sou amador de mui variados estilos musicais
  • Um livro: tampouco saberia dizer um só, e mencionar o Sempre em Galiza é demasiado clássico [risos]
  • Um facto histórico: difícil… por dizer um ‘diferente’, o “matrimónio” de Inês de Castro com Pedro I. O que pudo ser e nom foi…
  • Um prato na mesa: salada russa
  • Um desporto: futebol
  • Um filme: Braveheart
  • Umha maravilha: viver, brindar, as mulheres… gozar das cousas simples e boas que tem a vida
  • Além de galega: muitas cousas… sempre me considerei difícil de descrever [risos]

NOTA:

[1] Em 1376, Henrique II de Castela concedeu-lhe o senhorio da Vila de As Pontes ao cavaleiro García Rodríguez de Valcárcel por resgatá-lo da prisão em que se encontrava após a batalha de Nájera. «Por quantas lealtanzas de fianza fallamos en vos… e por quanto afán y trabajo y pérdidas oviste tomado por nós… facemos vos donación pura y perpetua… del lugar de las Puentes de Hume» [Fonte].

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